capitulo 01

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Entre as paredes brancas daquele hospital, caminhava uma garota a passos largos. Estava desesperada, mais um dia onde ela estragaria as coisas, isso era inconcebível. O fisioterapeuta responsável por ela - Murilo - era rude, impaciente e extremamente impetuoso. De que forma a pobre moça lhe explicaria que sua simples tarefa de encontrar o quarto vinte e três falhara miseravelmente?

Ou seria vinte e seis?

Marília era péssima de memória e estava no ano de prática em fisioterapia, seu último ano, e naquele mesmo dia, passara em mais de quinze quartos, porém, algum estúpido derrubou café em seu jaleco, manchando o último número do quarto que ela deveria ir.

Estava exausta, só precisava de um bom banho e da sua cama. Até não ligaria, caso Maraisa - sua melhor amiga desparafusada e parceira de quarto na república onde morava - estivesse escutando música alta naquele dia. Estava tão exausta que certamente apagaria assim que encostasse a cabeça no travesseiro.

-Tudo bem, respire. - ela disse, ajeitando seu jaleco e retirando uma mecha de cabelo de seus olhos. - Você consegue fazer isso. - os olhos cor castanho focaram no número vinte e três. - Se não for este, você se desculpa e ficará tudo bem.

-Mendonça, tudo bem? - a voz grossa de Murilo lhe assustou, a fazendo soltar um gritinho fino e levar sua mão até o peito. Droga! Droga! Droga!

-S-sim. - ela disse gaguejando, vendo o homem descer o óculos até a ponta do nariz e lhe fitar seriamente.

-Então por que está parada em frente a essa porta, ao invés de ir ao trabalho?

-Eu... É... Já estava indo. - ela disse, sorrindo amarelo para ele, antes de levar sua mão até o trinco, cor prata, da porta e abri-la.

Ela entrou rapidamente, fechando a porta e respirando aliviada.

-Pois não? - a voz de uma mulher fez Marília tomar o segundo susto e dar outro pulo, se virando para a dona da voz.

A mulher tinha cabelos pretos e sua pele era clara. Ela estava sentada em uma cadeira ao lado da cama de uma paciente; seus olhos eram fundos, com olheiras e totalmente sem brilho. Ela carregava consigo, um kit de tricô.

-Eu.... - Marília caminhou até a beira da cama, já sabendo que tinha cometido um erro, porque seu último paciente era era um homem idoso e, ao contrário disso, na cama havia uma linda garota, ela tinha cabelos ruivos e era bastante pálida, porém linda e jovem. - Desculpe incomodar. É que sou nova neste hospital e acabo de perceber que me enganei quanto ao número do quarto.

A risada doce, mas ainda cheia de dor, preencheu o quarto antes da mulher fitá-la meticulosamente.

-Em que ano está?

-Perdão? - Marília perguntou confusa.

-É alguma interna ou estudante da área de saúde, aposto! Deixe-me ver... - ela disse, não olhando para o jaleco, pois ali estava a profissão e ela adorava adivinhar. - Cirurgia.

-Ew! Não- Marília disse rindo. - Não sou médica, estou no último ano de fisioterapia.

-Oh, linda profissão! - A mulher disse sorrindo gentilmente. - Não se preocupe, querida, ao longo destes quatorze anos você não foi a primeira a passar por nosso quarto. - os olhos curiosos de Marília se desviaram para a garota ali desacordada. - Acho que já passou de mil, na verdade. Este hospital é imenso.

-Desculpe, mas... O que ela tem? - a mulher exalou o ar dos pulmões e fitou a garota ali da cama.

-Está em coma. Os médicos já sugeriram o rompimento do uso das máquinas, mas não sou capaz de abrir mão da minha única filha - ela disse tristemente. - E nunca serei.

Oh droga! Ela não poderia ter apenas se desculpado e saído? Como iria arrumar palavras que consolassem tal dor? Impossível! Nada seria capaz de aquecer o coração daquela pobre mãe desamparada.

-Perdão, a senhora mencionou quatorze anos? - a mulher assentiu devastada.

-Era só uma pobre e inocente criança. - a mulher disse sentindo uma lágrima escorrer. - Naquele dia eu quebrei um braço, perdi meu marido e, bem, minha filha, após passar por quatro cirurgias no cérebro, entrou em coma.

Só uma criança. Só uma criança. Só uma criança.

Merda.

Marília não suportava histórias tristes, seu coração não aguentava, ela sempre chorava no fim do dia.

-Como ela se chama? - a senhora arregalou os olhos surpresa pela pergunta.

-Maiara. - Marília assentiu.

-E a senhora?

-Almira.

-Bem... - Marília disse, inclinando-se um pouco e olhando para a garota desacordada,  ela aparentava estar em plena calma. - Olá Maiara. Eu me chamo Marília, mas prefiro que me chamem de Lila. - disse com toda a doçura que havia em seu ser. - Será que você poderia acordar hoje? Sua mamãe tá morrendo de saudades, anjinho. - óbvio que não teria resposta. - Espero que acorde logo para podermos brincar, hm? Tenho uma irmãzinha mais nova e ela adora bonecas, posso te emprestar alguma, combinado?

Os olhos de dona Almira procuraram por algo, porém não encontraram.

-Obrigada, criança. - ela disse comovida.

-Não fiz nada, senhora. Não me agradeça, apenas conversei um pouco com ela. - Marília disse gentilmente. - Mais alguém a visita?

-Uhh, faz uns doze anos que não. - confessou. - Desistiram dela, mas como eu disse, eu não sou capaz de fazer isso. - Marília sentiu uma vontade de chorar, mas deveria se conter.

-Maiara, eu preciso ir, meu chefe é um homem muito chato... - Marília disse rindo baixinho. -Mas vou orar para que você acorde logo.

-Vá com Deus, querida. - Almira disse.

-Fiquem com ele vocês duas também. - ela disse, vendo Almira começar a chorar compulsivamente. - O que houve? A senhora está bem? - perguntou, se aproximando da mulher.

-Não ligue para esta velha - ela disse. -É que de todas as mil pessoas que entraram aqui por engano, você foi a primeira a falar com ela.

-Bem...

-Obrigada, criança. Isso significou o mundo para mim.

-Não chore, dona Almira. - Marília suplicou. -Eu preciso mesmo ir, mas...

-Oh, claro. Não quero incomodar. Vá, querida. -Marília assentiu, levando uma mão ao rosto de Almira e se atrevendo a enxugar as lágrimas da mulher.

-Posso voltar no fim do meu turno? Está quase acabando.

-Não precisa se incomodar com minha pobre alma solitária, criança. - Almira disse sorrindo simpática.

-Eu vivo cercada de pessoas do bem, mas minha alma também é solitária. Que tal se nos fizermos companhia? - um sorriso sincero nasceu nos lábios da mulher.

-Te esperarei. - Almira disse e Marília abriu um lindo sorriso.

-Até mais tarde então, senhora. - disse se levantando. - Até mais tarde, Maiara. - disse, caminhando até a porta. Assim que abriu, deparou-se com Murilo ainda ali, de braços cruzados.

-Eu estava esperando par ver quanto tempo você demoraria para descobrir que atendeu o paciente errado.

Merda.

Sua maré de azar acabaria algum dia?

-

eai? oq acharam desse primeiro capítulo?

enfim, espero que tenham gostado.

desculpe-me se tiver algum erro.

in the blink of an eye - MaililaOnde histórias criam vida. Descubra agora