You Mean Forever? - Franco Colapinto Fanfiction

I. Bahrain

O silêncio da noite era ensurdecedor. Talvez para aqueles que moravam naquela cidade fosse normal, mas Ayla era moradora de Londres e, por muito tempo, morou no Rio de Janeiro. Para ela, o calar da noite era extremamente desconfortável. Quem sabe fosse o nervosismo de finalmente estrear na Fórmula 1, o que de certa forma, tirara seu sono algumas vezes desde o anúncio.

Respirou fundo e levantou da cama, mas logo foi surpreendida pelo celular vibrando. Era seu pai, Ricardo Montebello, dono das Empresas Montebello Co., um conglomerado de fabricantes de polipropileno que, de vez em quando, patrocinava alguma equipe de Fórmula 1. O que era o caso atualmente, já que patrocinava a equipe da filha, a Ferrari.

- Oi, filha - disse ele.

Seu tom de voz rouco fez com que os olhos de Ayla se iluminassem no quarto semiescuro. Ela amava seu pai, sempre fora a primeira pessoa a apoiá-la em tudo, seja qual fosse seu desejo. Depois que sua mãe morreu, ele foi o único de sua família que realmente ficou ao lado dela, já que os outros fingiam pena ou só queriam se aproximar por conta da fortuna de Ricardo.

Era nítida sua preocupação; já havia ligado três vezes para a menina só naquele dia.

- Vai ficar tudo bem, pai.

- Mas eu não estou contente com o que estão falando nas redes sociais! - Ele retrucou. - Ayla, você sabia que podem sabotar o seu carro para você bater ou ter um desempenho ruim?

- Jack e Anthony são um ótimos mecânicos, duvido que fariam isso comigo - defendeu Ayla, franzindo as sobrancelhas. - Aliás, há câmeras por toda parte. Se eu ou algum funcionário soubermos de alguma anomalia nos carros, pode ter certeza que saberemos quem é.

- Mas e se... - Ela o interrompeu antes que ele pudesse inventar outra paranoia.

- Pai... - Respirou fundo, apertando os olhos. - Eu corro há doze anos em carros de corrida, sei muito bem executar o meu trabalho. Vai ficar tudo bem. Não há com o que se preocupar.

- Eu sei disso - admitiu ele em uma suspirada. - Só liguei para lhe desejar boa sorte. Sei que é uma nova jornada para você, e você vai arrasar amanhã.

Ela sorriu genuinamente, um sorriso tão puro que nem tinha notado que já estava ali havia algum tempo. Sabia que não aguentaria ver os comentários negativos sobre si mesma. Sabia também que seria melhor deixar suas redes sociais no comando de outra pessoa, pelo bem de sua saúde mental. Havia visto e passado por tanta coisa que tinha nojo até de lembrar. Era reconfortante ter seu pai ao seu lado.

- Obrigada, pai. - E, com um clique, desligou o celular.

Ayla nasceu no Brasil. Ah, como amava aquele lugar e o aroma que a terra brasileira lhe causava, fora o carinho dos fãs. Quando muito nova, foi levada à Inglaterra para correr em mundiais de kart e, consequentemente, em carros de fórmula. Às vezes, lhe vinha à mente pensamentos sobre como teria sido sua vida se não tivesse começado no automobilismo. Quem sabe cursaria economia e tomaria as rédeas da Montebello Co.

Caminhou até a varanda do quarto e encarou o céu. Havia pouquíssimas estrelas, mas a lua brilhava intensamente em um amarelo vivo; era noite de lua cheia. Tentava expulsar os pensamentos ansiosos que vinham à tona em sua mente. Odiava quando isso acontecia, parecia que sentia em seu âmago que alguma coisa poderia dar errado e, geralmente, dava. Então, um falatório tirou sua atenção. Apoiada à grade da varanda, guiou a cabeça instintivamente na direção do som, parando em uma rodinha de homens. Reconheceu Charles Leclerc que, com seu sorriso característico, jogava a cabeça para trás em uma risada livre, enquanto Pierre Gasly o acompanhava, falando palavras que não conseguiu entender.

Charles era seu colega de equipe na Ferrari, mas já haviam corrido juntos antes em categorias menores. Tinham um grande vínculo, embora não fossem tão próximos. Ficou feliz de saber que ele dividiria a equipe na Fórmula 1 com ela, mas ficaria muito mal se o calor das corridas fizesse a amizade deles murchar.