nobody.

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O Ninguém sou eu e todos que, por algum motivo, nunca amaram.
O amor tem hora e lugar, sem pressa no que não pode ser apressado.


O amor é um conceito desconhecido para mim, ainda. 

O futuro é incerto e, mais uma vez, não há previsões de se um dia chegarei a o conhecer. Afinal, ele é uma figura de tamanha complexidade e incompreendido por muitos, mas há os sonhadores, escritores, poetas, artistas que os desvendam em palavras, cores, sons.

Não pretendo fazer isso. O que é misterioso é assim por um propósito. Vontade para desvendá-lo há de sobra, mas experiência me falta. Tudo tem seu tempo, e não chegou o meu de conhecer algo tão avassalador, impiedoso e, ao mesmo tempo, mágico, etéreo e impossível de descrever — não tão impossível, afinal mentes tão sensíveis conseguem ditá-lo com tanta destreza que é possível imaginar como o amor se parece, apesar de nunca ter o vivido. Talvez, eternamente ele continue um personagem inumano de livros, não algo real e palpável.

Não o conheço, talvez ele continue um desconhecido até o dia que meus dentes comecem a cair e o meu cabelo seja inteiramente branco como a neve, minha visão já não será tão boa para ver os senhores e senhores mais atraentes nas pracinhas ou consultórios médicos. Até aí eu me lembrarei da magia do amor que eu não pude sentir, mas lembrarei também das palavras que o descreveram para mim durante uma juventude marcada por letras.

Creio que o ser humano gosta de descrever o amor, gosta de escrever sobre corações partidos e remendados, sobre decepções amorosas, porque o amor é algo que pode e deve viver em si mesmo, mas muitas vezes implica outras pessoas, e é sempre um mistério, algo imprevisível, mas gostoso, prazeroso e outros adjetivos que não sou capaz de descrever além do que minha experiência rala permite. Até porque o amor é algo que não surge da noite pro dia, e é um processo lindo ou massante que merece interpretações das mais diversas. Há quem acredite que amar é uma sina, e os que acreditam que amar é uma benção. Não existe certo ou errado, e não sou ninguém para ditar isso. Não sou nada além de um mero espectador, uma mera personalidade sem realmente uma personalidade e, por fim, sem um amor. 

Alguns os descrevem como se espinhos atacassem seu coração, e não como se uma flecha o houvesse acertado de forma mágica e fantástica. O Cupido não existe, creio eu, não neste mundo, mas em algum deles ele deve fazer esse tipo de serviço.

Nem todos são românticos irredutíveis. E o que seria do mundo se todos fossem? Não daria espaço para os poetas de angústia ou os que descrevem a natureza — afinal, o mundo não é feito apenas de seres humanos, nós só temos o privilégio de estar aqui e poder sentir a ponto de sangrar em nanquim nas folhas brancas feitas das próprias árvores. 

Amor não se diz respeito apenas aos seres humanos se formos parar para analisar. De fato, o mais popular e requisitado é o amor romântico. É como um cardápio, mas você paga com a devoção por algo, e ele não é uma escolha, de fato. O amor é tão vasto quanto pode-se descrever em apenas algumas linhas. Todavia, o amor pode ser à vida, à arte, à natureza. Tudo que faz da vida, o que ela é, e vai além do que é possível compreender com uma mente tão limitada.

Mas o amor não escolhe todos, não fui um de seus escolhidos. Acho que nunca serei, e isso não me incomoda. Não sentirei falta de borboletas no estômago que nunca senti, e não sei se seria capaz de suportá-lo. Também não sei se sinto ou cheguei a sentir o grande amor pelas coisas simples da vida, pelo céu azul, pelo caminho de casa para qualquer lugar, pela música, pelas minhas próprias palavras que eu me recuso a chamar de texto. Acho que a vida é mais fácil sem precisar pensar no quanto de amor há envolvido.

Ninguém, geralmente, não sente, ou não admite sentir.

Ele, o amor, é forte demais para me habitar, logo eu, Ninguém. 

o Ninguém não pode amarOnde histórias criam vida. Descubra agora