Hoje deveria ser um dia normal como qualquer outro, meu despertador tocaria às 6 horas da manhã, e iria colocar no modo soneca pelos menos umas 10 vezes. Minha gata não aguentaria os sustos do tocar daquele aparelho chato, e com certeza iria bater a pata no meu rosto para lembrar-me que era a hora de levantar.
Mas não foi bem assim, eu mal pude dormir a noite, hoje era o dia do resultado do concurso que prestei recentemente. Batalhei e estudei tanto para conseguir seguir a carreira dos meus sonhos, que sequer consegui dormir a noite de ansiedade. De uma coisa era certa, ou eu iria trabalhar naquele escritório medíocre com os olhos inchados e cansados, contado os segundos para voltar para casa, ou iria finalmente conseguir dormir após enviar com muito orgulho meu e-mail de demissão.
Olhei no celular por várias vezes e a hora não passava, ainda eram 5 horas, o resultado seria a partir das 8 horas. Nunca vi um ponteiro demorar tanto para se mover. Sentia meus olhos pesados. Tentei fechá-los, e fazer cafuné na Salomé, que ronronou de felicidade.
Sem êxito em me fazer distrair, decidi colocar o seriado que tanto amava: "Anne with E". Eu sei, é a quarta vez que o assisto, mas é tão doce e me faz acreditar que pessoas boas podem ter destinos incríveis. Talvez seja pelo fato de estar só no mundo como a doce Anne. Talvez meu coração ainda acredite que existam pessoas que possam me acolher tão bem como ela fora acolhida.
Sem perceber, o cansaço de uma noite mal dormida chega e toma conta de mim, fazendo meus olhos adormecerem, levando meus pensamentos para o mundo dos sonhos, e uma garota estranha aparece. Seu rosto era bem diferente de qualquer um que eu conhecesse, mas de alguma forma, me sentia familiarizada com ela. Estávamos nós duas sozinhas, no alto de um morro que também era estranho. A visão era belíssima e o sol estava esplêndido. Não trocamos nenhuma palavra, estávamos apenas sentadas lado a lado olhando para o horizonte observando o sol se por. Ela parecia feliz, seus lábios sorriam, mas seus olhos tinham uma tristeza tão profunda que me partia o coração.
O despertador toca exatamente às 6 horas. Eu poderia colocar no modo soneca como sempre fazia, até que chegasse a próxima hora e me obrigasse a levantar e seguir toda a rotina diária: levantar, tomar banho e café às pressas e seguir para o escritório que ficava a poucos metros de onde eu morava.
Meu banho foi mais demorado que os dias normais. Em anos, era a primeira vez que meu corpo obedecia ao despertador. Devo ter ficado debaixo do chuveiro por uns 50 minutos, minhas mãos ficaram enrugadas, e meu corpo agradecido pela terapia. Claro que a Salomé me fez companhia todo o tempo em que fiquei no banho, ela nunca me deixa sozinha, quem é mãe de gatos, sabe exatamente o que passo diariamente.
Com tempo suficiente para tomar um belo café da manhã, decido tomar uma bela vitamina de maracujá com leite acompanhado por um crocante pão na chapa com aquela manteiga natural feita pelos deuses. O que me preocupou é o sono que iria me causar depois, não seria fácil ter que cumprir aquele monte de prazos com o sono tentando possuir o meu corpo cansado.
Eu sabia que o resultado somente iria ocorrer a partir das 8 horas, mas não custava entrar no site para dá aquela olhadinha. E como era de esperar, não tinha nada. Lá vou eu para mais um dia naquele lugar cheio de "baba ovo". Eu até gosto do meu trabalho, o que não gosto é da maioria dos colegas de profissão, muitos se acham donos da razão e acham que o simples fato de serem advogados, são superiores ao resto da humanidade. Claro que é ridículo tal pensamento, eu penso que nossa profissão foi feita para servir e ajudar as pessoas, era maravilhoso conseguir fazer justiça, principalmente aos menos favorecidos. Contudo, aprendi que a justiça, na maioria das vezes, ocorre apenas para quem puder pagar mais no nosso país.
Apesar da refeição matinal reforçada, eu não poderia deixar de passar na pequena padaria que ficava quase do lado do prédio onde ficava o escritório do meu trabalho. Juro por Deus que é o melhor cappuccino do mundo, ou pelo menos da Avenida Paulista. Com o copo na mão, passo às pressas pela portaria, e cumprimento o Sr. José que sempre me ajuda com a catraca para passar. Não era novidade que estava atrasada pelo menos 30 minutos e a cara da minha chefe estava amarrada como todas as manhãs.
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O Morro da Torre
Mystery / ThrillerDaniela é uma jovem advogada na cidade de São Paulo. Embora tivesse uma carreira promissora, não conseguia mais encontrar sentido em sua vida. Detestava seu local de trabalho e se via sempre sozinha naquela imensa cidade. Sua vida muda, quando numa...