A despedida

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Não demora muito para a casa ser locada, os papéis são assinados, e daqui 15 dias teria que desocupá-la, tempo suficiente para planejar a minha viagem, e procurar estadia temporária na cidade onde iria trabalhar, até conseguir encontrar algum imóvel que agradasse a mim e a minha doce Salomé.

A primeira coisa que passa em minha cabeça é tentar descobrir um pouco sobre aquela cidade que para mim era tão estranha, nunca tive oportunidade de conhecer um estado diferente, não por falta de dinheiro, isso nunca foi um problema em minha vida. Nunca fui rica, mas meus pais tinham deixado um seguro de vida, onde eu e meu irmão fomos os únicos beneficiários. O valor não nos tornou ricos, mas foi suficiente para nos fornecer uma vida tranquila, cursar uma boa faculdade e ainda deu a oportunidade do meu irmão Rodrigo iniciar uma nova vida em um país distante.

Eu poderia ter gastos em farras e viagens, mas sempre fui centrada em meus objetivos. Não que eu não tenha tentado ser uma adolescente normal, mas confesso que em todas as baladas que eu tentava ir, deixava-me em uma crise existencial. Nunca fui o tipo de pessoa que gostava de dançar, ou me envolver com algum desconhecido para depois nunca mais vê-lo. As pessoas ali não se importavam com os sentimentos de ninguém, as garotas só queriam ser notadas com seus vestidos minúsculos para se sentirem sensuais, e os garotos queriam se envolver com o máximo de mulheres para sentirem seu ego masculino crescer. Não, isso não era para mim!

O Google não me ajudou muito na pesquisa, a única coisa que descobri era que a cidade onde iria começar uma nova vida, tinha apenas 20 mil habitantes, e todas as cidades vizinhas tinham nomes estranhos. Barra da Estiva era seu nome, e não sei o porquê, me trazia expectativas de ser bem recebida e de ser uma oportunidade de ter uma vida de verdade. Chega de correria, de estresse, de pessoas mesquinhas à minha volta!

Todavia, nem tudo seria um mar de rosas, descubro que a viagem não seria tão fácil como aparentemente parecia ser, não havia aeroporto nas redondezas, o mais próximo seria em Salvador. Era impossível viajar até a capital e ter que terminar a viagem de ônibus que duraria em torno dem7 horas. Sem falar que apesar de não levar os moveis, tinha acumulado muitos objetos de grande estima que jamais deixaria para trás, e claro, tinha a questão da Salomé, sua viagem deveria ser tão confortável como a minha.

Após muito pensar, decido-me ir de carro. Seria a maior aventura da minha vida, as únicas viagens longas que fiz sozinha foi até o litoral norte do estado, que convenhamos, não demora nem duas horas, o que dirá mais de 1500 km. Eram quase 23 horas de viagem. Decidia a arriscar, monto um percurso em que eu consiga dirigir de 4 em 4 horas, o que demoraria quase 2 dias, ainda assim seria confortável, tanto para mim, quanto para minha companheira.

Em meio a tantos planos para a viagem, quase me esqueço de avisar o Rodrigo sobre minha aprovação e mudança de Estado, e ao lembrar-me, de imediato ligo para informá-lo:

- Alô Rô, está ocupado? – pergunto.

- Oi Dani, estou um pouco, se for rápida, posso te dar um pouco de atenção, ainda estou no trabalho.

- Tá, vou tentar ser breve, só queria te avisar que fui aprovada no concurso da promotoria, e que daqui a alguns dias estarei me mudando de São Paulo.

- Parabéns querida, eu sabia que seria capaz de passar. Quando você irá partir? O que pretende fazer com a casa? – responde ele, demonstrando o seu total desinteresse por minha vida.

- Eu coloquei para ser locada, e inclusive já encontrei interessados. Pensei em pedir à imobiliária para realizar o depósito um mês na minha conta e outro no seu. O que acha?

- Por mim, tudo bem. Você sabe que sou a favor da venda do imóvel. Nossos pais não irão voltar e podemos investir em algo nosso – argumenta Rodrigo, tentando convencer-me de abrir mão de algo tão valioso.

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