Estopim

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Olívia

E lá estava eu em uma mesa da taverna mais badalada do reino, cercada de nove homens desconhecidos e o Leo. Comecei a revisar meu plano mentalmente enquanto uma mulher de cabelos escuros como a noite veio anotar os pedidos: hoje iria começar uma rebelião contra o rei e a rainha vigentes. Era visível a insatisfação de todos os trabalhadores, quase todo o seu ganho ia para a coroa e mal sobrava dinheiro para cuidar da família, do lar, para ao menos suprir com tranquilidade todas as necessidades básicas de um ser humano. Assim, me aproveitei dessa pequena fagulha para causar um incêndio.

– Oli... o que você vai querer? - Leo me chama de volta para a realidade. Eu olho para ele e depois para a atendente que esperava pacientemente.

– Só um copo d'água. - digo, pegando novamente o folheto que eu tinha distribuído pelo centro com ajuda do Leo. A única coisa que estava escrita era: "Mudanças sempre são necessárias. Nos encontre na Taverna das Colinas caso a sua atual situação seja, no mínimo, revoltante. 19h." em letras bastão simples. Claro que selecionei muito bem as pessoas que claramente estavam infelizes com o governo.

– Ótimo. - a mulher fala, se afastando sem ter anotado absolutamente nada.

– Então foi você quem convocou essa reunião? - um homem carrancudo me questiona, olhando para mim. Ele estava sentado bem na minha frente, tinha barba ruiva e uma expressão cansada.

– Sim, e já adiantando, agradeço imensamente a presença de vocês aqui hoje. Irei explicar rapidamente o porquê chamei todos vocês aqui e qual é a minha ideia e bom, quem sou eu.

Enquanto eu falava, Leo observava todos com atenção, e uma de suas mãos estava no encosto da minha cadeira. Desde o início, desde o momento que eu falei para ele do meu plano um mês atrás, ele estava receoso a respeito do que poderia acontecer comigo. Claro que é de fato uma preocupação válida, mas eu era uma pirata... sabia me virar.

– Antes da senhorita começar, devo dizer que fiquei feliz com a iniciativa, ninguém jamais tivera tal coragem. - agora um homem mais novo, com bigodes finos com um meio sorriso diz, olhando para mim.

Apenas sorrio de volta sem saber como responder.

– Bom, me chamo Olivia Heartless. Tenho 21 anos e nasci aqui... no reino das Acácias. Entretanto, fui criada em... outros lugares - seria melhor dizer meia verdade e não revelar absolutamente tudo da minha vida, apenas o necessário para conseguir a confiança de todos. - voltei para cá há alguns meses e fiquei impressionada, de uma maneira negativa, em como seu rei e sua rainha os tratam.

– Bem-vinda a nossa realidade. - um homem, aparentemente jovem, com os cabelos de cor de palha me diz. - Desde que os dois assumiram o trono, os impostos são exorbitantes... eu e meu pai não estamos dando conta de manter nosso comércio.

– Posso dizer o mesmo com a minha padaria. - o barbado ruivo complementa. - Não consigo vender o suficiente, meus clientes estão sem ouro nenhum e bom, não posso deixá-los passando fome... acabo dando pães e outras coisas de graça.

– Em algum momento foi explicado o porque desses impostos serem tão altos? - pergunto, olhando para cada um.

– "Melhorias para o reino", até hoje não vi uma sequer. - o de bigode diz, suspirando. - Claro que estão desviando verba e usando nosso dinheiro para beneficiá-los.

– Nada conveniente... - Leo suspira. - e aliás, por que baniram o uso da magia e da alquimia?

Quando chegamos aqui, dois meses atrás, outros piratas aliados ao meu pai disseram que quando a rainha Georgia e o rei Krath assumiram o trono, baniram totalmente o uso da magia e da alquimia do lugar. Quem fosse pego praticando, seria morto em praça pública. Não precisa ser dito o óbvio: algumas pessoas perderam a vida.

O Último SuspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora