Cada qual em seu lugar

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Olívia

Caminhava ao lado de Leo rumo ao porto. Agora o reino agora estava quieto, uma noite calma e fria como de costume. A rua por onde nós andávamos era uma longa descida apedrejada e tortuosa, com casas espremidas na esquerda e na direita. Mais para frente dava para ver um risco azul: o mar.

– Fiquei impressionado com a sua capacidade de unir pessoas estranhas para fazer algo... grandioso. - ele começa a dizer, olhando para frente, as mãos nos bolsos de sua calça preta.

– Obrigada. - digo, também sem me virar.

Quase nunca acontecia de voltarmos em silêncio, mas hoje estava diferente, algo tenso pairava no ar.

– O que está te incomodando? - pergunto, agora me virando para ele. Seu cabelo castanho escuro, da mesma cor dos olhos, caem em sua testa no momento em que ele se vira para olhar para mim.

– Só estou um pouco preocupado, apenas isso. Você sabe que é perigoso. - ele fala. - Mal tivemos tempo de realmente conhecer a guarda real, tampouco o famoso general... um passo falso e todos poderemos enfrentar a forca ou pior. E outra, não sabemos as reais intenções de quem diz ser nossos aliados.

– Acho válida suas preocupações, mas acredito que devemos tentar... mesmo sendo um tiro no escuro praticamente. Se eles nos traírem, você já sabe quais serão as consequências. Enfim, a parte um do plano já se concretizou, agora preciso arrumar uma estalagem, uma casa, qualquer coisa que sirva para ser nossa sede. De preferência, no centro. - explico de uma forma mais animada do que eu deveria.

– Com o dinheiro do seu pai? - ele questiona finalmente com um sorrisinho.

– Com o dinheiro do meu pai. - devolvo o sorrisinho, colocando meu braço junto ao dele que agora formava um arco para apoiá-lo.

– Só quero ver qual será o fim disso. - ele diz, voltando a olhar para frente.

– Com sorte, todos felizes e conseguindo viver dignamente. - respondo de volta, ainda olhando para ele um pouco pensativa. Leonardo faria de tudo por mim... fosse pular em lava quente até entrar em uma briga aleatória que eu me envolvesse. Eu também faria o mesmo por ele, sempre foi assim. Era grata por tê-lo por perto.

Chegando no porto pouco movimentado, nos direcionamos para nosso barco um tanto quanto luxuoso: madeira de carvalho escuro, velas vermelhas e brancas, além de adornos dourados com dragões. Era o que sempre chamei de lar.

– Lar doce lar. - Leo diz, se espreguiçando.

– Estou realmente morta. - digo, olhando em volta, para os marujos que não tinham terminado seu serviço.

Antes de me reunir com o pessoal na taverna, pela madrugada do dia anterior, me juntei ao Leo para fazer os panfletos. Isso com o centro previamente monitorado para entender qual seria a melhor hora para abordar as pessoas em potencial e com a escolha de qual taverna seria já feita. Para conseguir escolhê-la, foram várias visitas até achar uma decente: a da Colina.

– Ainda vou ter que cuidar de alguns papéis por aqui. Tenha um bom descanso. - ele olhando para mim dessa vez. Estava nítido seu cansaço também.

– Ah, tudo bem. Boa noite e... não se esforce muito.

– Não vou. Boa noite.

Ele me dá um sorriso torto e se direciona para seu pequeno escritório. Leo era o ajudante em que meu pai mais confiava, e eu fiquei feliz por isso. E então eu lembro: meu pai... tinha que falar com ele sobre verbas e quanto eu poderia utilizar do que tínhamos.

Nosso "trabalho" sempre nos gerava lucro, e dependendo de quem fosse o premiado da vez, MUITO lucro. Sempre trabalhamos com pessoas de classe alta de cada lugar que vamos, afinal, não irão precisar de toda aquela riqueza realmente. E claro: nunca fomos pegos uma vez sequer... procurados? Sim, infortunadamente algumas vezes, mas nada grave, nos outros lugares éramos irreconhecíveis.

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⏰ Última atualização: Sep 10, 2023 ⏰

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