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    Eu não me sentia bem,não sentia o aconchego de antes,não ouvia os gritos de Esmeralda no andar de baixo,a casa era preenchida pelo vazio,cada vez mais me retraia e sentia que todos faziam o mesmo,a última vez que visitei outro cômodo que não fosse meu quarto foi a dois dias,quando os ancioes trouxeram meus pais para serem velados em nossa minúscula sala de estar,eu não me aproximei dos caixões,me encolhi sobre um canto próximo a porta do jardim e por ali fiquei mesmo quando o cortejo subiu a rua até o cemitério,não fiz questão de olhar para nenhum,para a palidez e a frieza de suas peles.
     Ouvia minha tia dizer como sentiria falta de meus pais,talvez mais de suas contribuições financeiras a sua biblioteca do que deles em si.
     Minha mãe era uma mulher corpulenta,baixinha e muito educada,andava com o mesmo pingente de Rosa deis de que eu me conhecia por gente,já meu padrasto a quem eu considerava um pai era um homem esguio e de poucas palavras,se ele a chamasse para conversar era raro que se falassem outra vez ao longo do dia.
     Eu visistei seu quarto na madrugada passada,assim que cheguei a minha casa de infância sem avisar a alguém que eu viria,me sentei a beirada da cama,sentia como se ela ainda afagasse meu cabelo,mas ela não estava mais lá,me deitei sobre o lençol a fiz uma última oração,me despedi honrosamente de seus espíritos,me certifiquei de acender algumas velas a Hades,toquei cada detalhe do grafado na cabeceira,as macieras em cada canto e a coruja ao centro,era muito bonito,uma das minhas coisas preferidas naquele cômodo tão vazio,ajeitei seus livros em uma pilha,e abri a janela ao norte como meu pai costumava fazer,saí assim que senti que tudo estava em seu devido lugar.

- porque voltou?- Kassandra me encarou,me encanrou como nunca jamais havia me encarado,segurando aquele livro surrado de receitas nas mãos e com um olhar ameaçador nos meus;

- oi para você também!- forcei um sorriso para que não tivesse que continuar com aquilo mas ela deu de ombros e me atropelou enquanto resmungava,eu não era bem vinda ali,não mais,apenas segui reto até que achasse meu antigo quarto,não haviam o mudado,talvez por insistência da minha mãe,encarei a cortina cheia de cacarecos,coisas bobas de criança por todos os lados,minhas velhas bonecas de pano todas alinhadas em um canto,muito bem arrumadas por sinal,parceria que eu nunca havia deixado aquela casa,eu ainda estava lá,estava ali com meu brinquedos,estava nas paredes e nos detalhes pintados em torno do arco da porta.
    Eu me aproximei,encarei as janelas gigantes e o anoitecer cruzar o céu  engolir o resto das nuvens que restava,senti o mesmo aroma das flores do jardim aquelas que todos nós contribuímos para plantar depois de uma longa insistência de minha mãe para que fizéssemos algo em família,estendi a mão sentindo meu coração pular e toquei os cobertores antigos um pouco empoeirados receio que por conta dos anos,já que pareciam recém trocados,me aproximei de um velho canto de tom azulado a qual sempre sonhava,havia ainda a pequena mesa de chá com duas xícaras perfeitamente alinhadas próximas ao centro e uma gigante quantidade de animais de pelúcia que cercavam os pés das cadeiras tão pequenas que mal chegavam a bater em meu joelho,toquei cada canto até me senti novamente como a menina que um dia já havia pintado todas aquelas flores nas estantes,pendurados aquelas coisas miúdas e brilhantes nas paredes e feito cada singelo enfeito que adornava aquele cômodo,e finalmente me senti em paz,pude me deixar deitar naquela cama novamente, os pés quase tocavam os aros próximos aos pés da pequena cama, acendi a pequena luminária próxima e vi quando os desenhos de pequenos animais da floresta começaram a dançar pelo teto,acho que peguei no sono algumas vezes.

Espinho de rosasOnde histórias criam vida. Descubra agora