As primeiras aulas começam e acabaram. Eu fiquei concentrado em todas e não tive tempo de pensar em Thales, ou no infeliz do Marcus, que me atormentou durante a primeira aula. Sim, infelizmente estudávamos juntos. A estrela e eu.
Quase na hora do intervalo comecei a pensar em Thales. Eu não havia ligado para ele desde que fugi de sua casa e ele não me ligou, por um bom motivo. Eu não lhe dera o meu número e não o deixava ir na minha casa. Meus pais achavam que eu tinha uma namorada ou que eu iria fazer um trabalho na casa de um amigo, todas as vezes que ia até sua casa para namorarmos, e assim preferia que ficasse.
Por não ter meu número ele não poderia ligar, mas será que não poderia ter me procurado quando chegou no colégio? Afinal, ele quem foi grosso comigo e me devia desculpas. Logo guardei essa discussão interna e esperei uma boa hora para ir procurá-lo.
Essa hora foi no momento do intervalo.
Teylon se aproximou de mim, sorrindo um pouco. Olhei em volta, não havia mais ninguém ali. Ele realmente estava querendo falar comigo e isso era uma merda. Eu gostava dele, mas justo agora que iria atrás de Thales?
— Vai na cantina comer alguma coisa? — quis saber ele, arrumando seu cabelo ruivo.
— Não, estou fazendo regime — era obvio que eu não precisava. Mas ele pareceu engolir essa e balançando a cabeça, retirou-se pela porta.
Dois gêmeos passaram ao meu lado, no momento em que sai no corredor. Eles eram totalmente idênticos e aquilo me instigava medo. Como duas pessoas podem ser tão idênticas.... Duas pessoas ocupando o mesmo espaço, vivendo ao mesmo tempo... isso era muito estranho.
Virei a esquerda no corredor e os irmãos continuaram a ir no mesmo caminho que o meu. Percebi que conversavam, mas não conseguia ouvir, por mais que chegasse perto e aguçasse meu ouvido. Desisti e caminhei por mais alguns metros. Por fim os gêmeos abriram a porta da sala de música e entraram. Segui-os e entrei, na verdade coloquei apenas minha cabeça.
Lá estava Thales, dando seu show no microfone. Ao redor da banda havia uma pequena plateia. Recheada com meninos e meninas, se eu estivesse em um dia comum, em uma situação comum, entraria, simplesmente, e curtiria a batida do rock como os gêmeos e os demais. Contudo eu estava intensamente aflito para conversar com Thales para sentar e relaxar.
A música parecia estar chegando no final, Thales afinou a voz e prolongou a última palavra por um bom tempo, sem gritar ou desafinar, ele parecia melhor mesmo. Tinha que admitir.
— Parabéns, a todos — elogiou o professor de música. Um homem jovem e bonito demais para dar aula. Ele trabalhava como modelo, nas aulas vagas, cantava em uma banda amadora e dava aula, apenas por prazer. Se eu estivesse no lugar dele, ficaria como modelo. — Bruno, precisa praticar mais, em alguns momentos se perdeu na letra da música — Jorge, o professor, apontou para o guitarrista. A música estava tão boa que não percebi qualquer defeito, mas o professor sim. Ele até colocou defeito no final da música, na voz de Thales. — Fora esses pequenos detalhes, estão melhorando rapazes.
A sala irrompeu em aplausos. Juntei-me a eles, por educação. Logo depois o professor Jorge deixou a sala, e por incrível que pareça todos saíram! Era minha chance perfeita.
Na sala ficaram apenas os integrantes da banda: Thales, o vocalista, Bruno, o guitarrista, Kaique, o baterista e César, o cara do baixo. Todos estavam polindo os instrumentos antes de guardá-los.
— Oi, Rafa — disse César ao me ver entrar, ele morava na rua da minha casa desde sempre. Então nos conhecíamos desde a época do cueiro, e desde aqueles tempos ele melhorou muito. O rosto ficou coberto de espinhas por um tempo, mas todas foram embora com o tratamento e ele ficou com o melhor rosto que eu conhecia pessoalmente. Era um cara legal, eu sempre poderia contar com ele. O uniforme de César estava colado no peito malhado, a calça era apertada, revelando pernas tonificadas e a bunda dura com os exercícios e a bicicleta. Os olhos castanho-claro dele sorriam para mim e eu retribui o sorriso. Tinha o cabelo caramelado, quase dourado e era cacheado, bem volumoso.
César era lindo, mas eu tinha olhos apenas para uma pessoa.
— Oi, César. Sua mãe disse que o gatinho de vocês tinha sumido. Ele voltou?
— Voltou sim. Ele sempre volta — César abriu ainda mais seu sorriso para mim, um sorriso cumplice, pois ele e eu já havíamos feito tantas experiências com o gato que ele raramente ficava em casa. Mas como ele mesmo disse, o gato sempre voltava.
Enquanto estava conversando com César, percebi que Thales nos encarava sério, quase sério demais. Foi então que percebi que estava cometendo um erro: Thales estava achando que eu o estava ignorando e que fui ali apenas para ficar sorrindo para meu amigo, o qual ele sempre me segredava ter ciúmes.
Pus a mão na boa e contrai o rosto, como quem leva um tapa ou quem entende que fez algo muito errado.
— Oi — disse a Thales, rezando para não ser tarde demais.
— E ai, cara — bom, ele me chamou de cara, então ele realmente estava pensando que eu fui ali apenas para fazer ciúmes. Enquanto tudo o que eu queria era beijá-lo!
— Posso conversar com você? — meio que ignorei César, ele me olhou duas vezes, enquanto mexia em suas coisas, acho que percebeu o que estava acontecendo e fechou o sorriso. A banda toda percebeu o que estava acontecendo. O clima ficou tão chato que por um segundo pensei em sair correndo dali.
— Claro, mas não quero atrapalhar — com um olhar, Thales apontou para César.
— Thales — disse baixinho, o mais baixo possível. Não precisava gritar para demonstrar que estava ficando irritado e ele conhecia essa minha característica. Então fechou o estojo com o microfone e deslizou para o fundo da sala.
Não era a cena mais romântica do mundo, não havia um grupo inteirando cantando que o amor era lindo, ou flores e doces, como eu sempre quis. Mas Thales estava ali, comigo, e isso era perfeitamente perfeito.
No momento em que ele chegou no fundo da sala e ficou sentado em um banco, eu não abri minha boca e não deixei ele abrir a dele, para brigarmos ainda mais. Estava ali em missão de paz. Thales se sentou e eu me joguei em seus braços, fechando as mãos em suas costas e lhe dando o beijo mais demorado que eu conseguia.
Esperei ele me empurrar e dizer para eu voltar para César ou qualquer pessoa. Contudo ele apenas me abraçou e acomodou-me com carinho em seu abraço. Fechei os braços em volta do corpo de Thales. Ele era muito cheiroso, sua roupa tinha um perfume forte, intenso e reconhecível de longe. Seus lábios morenos tinham um gosto salgado de suar cantando, mas logo isso passou e ficou apenas um gosto de halls sabor menta entre nossos lábios.
E esse era eu: um menino de 17 anos que amava esse outro menino e não gostava de brigar, queria apenas ficar com seu namorado lindo.
Thales sempre foi safado e logo estava com sua mão na minha bunda, apertando-a, ali mesmo, na frente dos outros integrantes da banda. Tive quase certeza que ele fez aquilo apenas para mostrar para César, e todos os outros, que eu era dele. Pensei em me afastar e não deixá-lo me exibir como prêmio, mas o ciúme de Thales de certa forma era uma forma de demonstrar que me amava e era fofo.
— Isso foi bom — disse ele, com o sorriso sacana no rosto. Estava sem ar, respirando ofegante. — Me desculpe pelo outro dia — finalmente!
— Tudo bem, amor — disse distraído. Não queria admitir que passei a noite em claro pensando nesse momento, duvidando se ele realmente iria se desculpar.
— Thales, seu merda, levanta essa bunda daí, ou vamos te deixar para trás — gritou Kaique, jogando sua franja preta-vermelha de roqueiro para o lado.
— É. Estamos com fome, seu puto — César disse alto, de onde estava.
Bruno já havia saído da sala. E não estávamos em um livro ou um filme, era a vida real e na vida real tínhamos apenas 20 minutos de intervalo, então precisávamos correr ou iriamos ficar com fome.
— Eu preciso mesmo resolver um assunto com o meu professor — disse dando de ombros e me afastando dos braços longos e musculosos de Thales.
— Passa na minha casa, depois da aula — convidou-me Thales, ele disse a frase no meu ouvido, seu hálito quente me fez arrepiar. Depois beijou minha bochecha e retirou-se com os amigos.
Eu estava realmente apaixonado por ele....
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NÃO SOU GAY
RomanceRafael acredita estar vivendo um verdadeiro conto de fadas com o seu namorado, Thales. Thales toca em uma banda e é bastante popular na escola, ao ponto de captar a atenção de Camylle. Entre os bastidores do teatro em que Rafael ensaia para a peça P...