Capítulo 3

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Lívia Campos

- Acabei de limpar o balcão, chefe. Precisa de algo a mais? - Charles pergunta chegando na cozinha da confeitaria minutos depois de fecharmos o estabelecimento. Dou uma conferida nas horas, seis e vinte da tarde.

- Obrigada Charles. Por hoje você já está liberado. - Ele sorri deixando suas covinhas a mostra.

- Okay então, até amanhã chefe!

- Até! - Ele retira seu avental deixando-o pendurado atrás da porta da cozinha e acena pra mim antes de sair da minha confeitaria.

Antes mesmo deu pensar em ir fechar a porta principal Taylor faz isso por mim. A garota loira e alta confere se esta tudo certo e vem se juntar a mim na cozinha da confeitaria com uma feição cansada no rosto, o dia deve ter sido puxado pra ela também no escritório. Solto uma risada do jeito que ela se joga em uma cadeira aqui na cozinha.

- Eu estou morta! - Ela é bem dramática quando quer, podemos ver.

- Que exagero Tay! - A loira revira os olhos pra mim. - Já vai pra casa?

- Acho que sim. Precisa de mais alguma ajuda aqui? - Olho ao redor da cozinha e nego com a cabeça. - Então acho que vou sim. Finalizei tudo do escritório e inclusive paguei Charles.

- Ah ótimo! O que seria de mim sem você? - Dou um beijo em sua bochecha e ele ri.

- Nada provavelmente. O que você tem de boa na cozinha é o oposto em um escritório. - Mostro a língua pra ela.

- Cozinhar é como uma conta de matemática. Eu preciso saber o básico para montar uma receita.

- É, realmente. Mas mesmo assim você não seria nada sem mim.

- Deixa de ser ridícula. - Jogo o pano de secar as mãos nela e nós rimos.

- Bem, já que não vai precisar da minha ajuda e eu sou um horror na cozinha, já que você herdou todo o dom pra você dessa família, eu vou embora e te espero em casa!

- Tá bom maluca. - Me despeço dela e vejo minha prima indo embora.

Taylor é minha prima mais nova por parte de pai, na verdade somos só nós duas, apesar de que nossa diferença de idade é bem pouca. Eu tenho 26 anos e ela 24, e se formou há pouco tempo no curso de administração -seguindo o ramo dos pais- em uma universidade daqui de Londres mesmo. Nós moramos com nossa avó por alguns anos, mas quando terminamos nossas universidades - eu fiz curso de gastronomia para aprimorar ainda mais meus dotes culinários - decidimos comprar um apartamento juntas e desde então dividimos ele.

Volto minha atenção total a uma das minhas partes preferidas do dia, que mesmo com o cansaço da correria do dia na confeitaria - já que eu acabo ajudando Charles -, eu faço com toda a alegria do mundo! Observo todos os ingredientes separados uma mesa em minha frente e respiro fundo antes de colocar as mãos na massa, literalmente.

Eu sou completamente grata pelo dom que eu recebi, pois sei que não são todas as pessoas que conseguem cozinhar e que sentem prazer fazendo isso. Pra mim não existe nada mais gratificante do que ver uma receita minha pronta, quando seu resultado da certo. Claro que ver a cara de aprovação de cada cliente também é muito incrível, mas meu coração transborda de alegria quando cada receita minha tem um resultado positivo.

Criar receitas sempre foi uma das melhores diversões pra mim, eu acho simplesmente incrível a cultura que existe por trás de cada prato preparado, é um enriquecimento sem fim. Cozinhar é trabalhoso, exige muita atenção e concentração, mas é uma atividade bem divertida. Eu fico muito fascinada quando faço qualquer coisa, desde um simples brigadeiro brasileiro ou uma torta holandesa... As vezes parece simples, o que não é, mas com um pouco de treino e prática tudo se torna mais compreensível. Quando eu era mais nova costumada encarar a cozinha como um mistério, e a cada receita que eu fazia a minha sensação era que eu estava conseguindo desvenda-la. Ainda tenho a sensação que não a desvendei completamente, mas isso não importa no momento.

Doce AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora