Capítulo 2

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Tayran Rurik

Calábria fica no sudoeste da Itália. É uma região ensolarada de montanhas escarpadas. Não seria um lugar na qual eu escolheria morar em primeiro, mais a cidade de Roma não me traz boas lembranças.

E eu tinha coisas para resolver em Calábria.

Caminhei para dentro da mansão dos Solenes, sendo seguido pelos diversos homens que os protegia. Eu precisava me apresentar. E eu de fato sentia despeito pelos Solenes cuidar cada passo meu e dos demais. Mais esse é meu legado, e eu o respeitava.

E os Solenes são quatro pessoas traiçoeiras que estão à frente de qualquer um dentro da máfia. Nada pode acontecer sem o consentimento deles, e sortudo foi meu irmão com seu marido por ter conseguido sair vivo daqui.

- Rurik mais velho. – Exclamou Lilith assim que entrei no gabinete deles. E Lilith é tão mais traiçoeira que Bassett. Eu não teria sua coragem de matar meus próprios pais.

- Solenes. – Falei fazendo uma meia reverência, pois nem para eles eu abaixava minha cabeça.

- Come sta tuo fratello? (Como está seu irmão?). – Perguntou Bassett com seu sorriso malicioso. E eu odiava me lembrar do caso que ele teve com meu irmão. A menos Adriel honrou sua dignidade tacando foco nesse Maledetto. (Maldito).

- La vita di mio fratello, non sono affari tuoi. (A vida do meu irmão não é da sua conta). – Falei ríspido e mal me movi quando ele apontou sua Glock para mim.

- Não tem medo de morrer Rurik? – Perguntou sem desviar a arma apontada para meu peito.

- Se eu tivesse não estaria aqui. – Falei sem desviar meus olhos dos deles. Ele poderia ver o enojo que eu sentia dele. Sorte a dele ser um Solene, pois a muito eu já teria o matado.

A risada de Fox preencheu todo lugar, e ela era bem mais arrepiante do que a risada do meu pai. Assim como a voz de Curse que sempre soava enojada. Os quadro Solenes carregavam personalidades diferentes, e a única coisa que tinham em comum era a sagacidade.

- Bem- vindo de volta a Itália Tayran. – Disse Fox.

- A Itália não, ao buraco de Calábria. – Disse Curse.

Eles sabiam, sempre sabiam.

Não precisavam dizer, eu sabia o que queriam.

Conforme Lilith caminhava até mim como uma cobra rastejante, eu ia abrindo minha camisa social. Sabia que eles queriam me testar, como prova suja de saberem se eu ainda continuava o mesmo.

Não chorar.

Não sentir.

Não questionar.

E eu jamais fiz isso.

**************

- Foda-se. – Resmunguei descendo do carro em frente a uma farmácia em Calábria.

E eu nem sabia porque diabo vim.

Não tinha costume de comprar remédios para amenizar os ferimentos em meu corpo. Sabia lidar com eles, ou deixar eles simplesmente se curarem sozinho. Mais Lilith tinha realmente ferrado comigo. Sua mão pequena era pesada e traiçoeira.

Parei na porta da pequena farmácia de bairro, estranhei o local claro pelas luzes mais a porta fechada. Mexi na maçaneta de ferro a forçando para abrir, e maldita nem se mexeu.

- Já estamos fechados. – Gritou uma voz masculina de dentro da farmácia, e eu rosnei forçando a porta novamente. – Pelo Anjo, já fechamos. – Gritou novamente. Mais diferente de outrora a pessoa se revelou vindo até a porta de forma apressada e a abrindo. – Já fechamos. – Disse mais uma vez me olhando.

- Não para mim. – Falei passando por ele e entrando porta dentro da farmácia.

- Ei. Você não pode entrar assim. – Me repreendeu vindo apressado até mim. Seu tom de voz era calmo de mais.

Eu já tinha me sentado confortavelmente na cadeira de espera. Olhei para ele semicerrando meus olhos. E se de uma coisa sou bom, é com rostos, jamais me esqueço de um. E o seu era um desses. Assim como suas roupas fechadas cobrindo todo seu corpo, como se quisesse se esconder de algo. (Ou esconder algo) não sei dizer. E ainda que eu não ache outros homens bonitos, posso afirmar que sua beleza era tão delicada quanto a do meu irmão.

Me lembrava dele de meses atrás, descendo de um ônibus na porta de uma igreja em Londres. Ele segurava aquela bíblia no peito com tamanho cuidado e adoração. E eu de fato não entendia em como um rapaz jovem como ele, ainda poderia buscar a Deus.

- Vai ficar me olhando como se eu fosse uma cadela, ou vai me ajudar. – Falei ríspido saindo dos meus pensamentos.

- Oh! – Arfou corando suas bochechas e levando uma mecha de seu cabelo médio para trás da orelha. – Não fale assim comigo. – Pediu me olhando envergonhado.

E eu que nunca me senti mal por tratar alguém assim, tinha me sentindo pela primeira vez.

Foda-se.

- Preciso de curativos. – Falei abrindo minha camisa. Até achei engraçado seus olhos escuros se arregalar.

- Vo... Porque está a tirar a roupa? – Perguntou e sua voz me soou estridente. Não o respondi, virei de costas para ele, deixando minhas pernas abertas na cadeira ao contrário. – Pelo Anjo. – Exclamou sussurrante assim que viu as marcas do chicote na minhas costas.

- Taca álcool ai. – Mandei virando meu rosto para o olhar.

- Eu não vou te tacar álcool. – Disse dando uma risadinha e indo para atrás de seu balcão. – Quando meu irmão se machuca, eu passo soro e pomada. Não sei qual é o seu caso, e acredito que não me importa. – Concluiu voltando para trás de mim.

Foi tudo com muita delicadeza que eu senti ele me limpar. Parecia acostumado a limpar esses tipos de ferimentos, ainda que muitas vezes gemia dolorido por mim. Eu de fato não sentia dor, sentia me queimar, sentia o corte parecer se aprofundar, mais para mim já tinha se tornado suportável.

- Acho que está bom. – Falei me sentindo incomodado com esse tipo de toque. Levantei da cadeira e ele parecia bem mais pequeno perto de mim. Seus olhos escuros vieram para os meus sorrindo junto de seus lábios finos. – Obrigado. – Falei terminando de fechar minha camisa.

- Sem problemas, ajudai ao próximo, mesmo que ele seja um grosseiro. – Disse sorrindo me fazendo revirar os olhos.

Tirei uma nota de quinhentos euros da carteira e entreguei para ele que me olhou questionador. Lhe dei as costas caminhando para a saída, puxei um álcool da prateleira no processo.

E eu juro que torci para nunca mais encontra-lo.

[ DEGUSTAÇÃO] Por ele, Aceito! (Spin-off de Suas Cores & Eu) Onde histórias criam vida. Descubra agora