Capítulo 4

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Benjamin Miller

Ele tinha tudo que eu mais odiava em um homem. Carregava consigo uma grosseria, um corpo grande cheio de tatuagens, e somente pelo seu tom de voz imponente, eu sabia que ele odiava ser contestado.

Carrega em seus olhos a mesma confusão de Londres, a diferença de lá é sua barba ruiva bem maior.

Era um homem lindo, cujo a personalidade era terrível.

- Que homem estranho. – Disse minha mãe assim que ele foi embora.

E ele de fato era estranho, mais eu sentia que era somente mais um homem machucado, cujo escolhas e responsabilidades lhe entregue cedo, tinha formado sua personalidade da maneira em que ele achou que deveria ser.

- Vá para casa, eu fecho a farmácia. – Falei para minha mãe que me sorriu calma e carinhosa.

Éramos assim.

- Não feche tarde. – Pediu pegando sua bolsa e indo embora depois de me beijar a testa.

Eu sou Benjamin Miller, Madrileno, vinte e um anos, estudo medicina. Meus pais tem uma farmácia na cidade de Calábria, os ajudo pela noite quando posso. Sou um rapaz de gostos simples, ainda que eu siga somente no caminho certo. Cresci com pais missionários, o que faz de mim hoje devoto de minhas crenças.

Não sou nenhum lunático que força as pessoas a acreditar no que acredito. Mais permaneço sempre no caminho me ensinado desde criança. E eu não precisei desistir de Deus para ser quem sou. Minha sexualidade não é segredo, e muito menos tabu dentro de casa e fora dela.

Sou gay, e isso não faz de mim menos cristão, ou menos homem que os demais. E a escolha de esperar partiu de mim, ainda que meu pai seja um homem sério e rígido. E isso não fazia dele um pai ruim. Compreendia seu cuidado comigo e meu irmão de sete anos, já que minha irmã mais velha se perdeu ao sumir no mundo.

Sai dos meus pensamentos me dando conta de que já era hora ir. Limpei a farmácia a deixando pronta para o dia seguinte, e finalmente a fechei seguindo para minha casa, que era somente duas quadras a cima.

Observei o carro luxuoso que me seguia e apressei meus passos. O carro fez o mesmo passando por mim e parando mais à frente. Apressei mais meus passos passando pelo carro me sentindo nervoso.

Parecia um déjá vu quando olhei para ver quem dirigia. Era ele. Carregando a mesma seriedade de antes. Gostaria de saber quem tinha machucado suas costas daquela maneira, mais eu não precisava de muito para entender qual era seu mundo.

Era um homem mafioso.

Entendi quando o vi na mansão de Lucian. E não era segredo para ninguém de Calábria a ligação que Lucian tinha com a máfia. Mais eu e minha família não seriamos bons cristões se jugássemos Selena, (a mãe de Lucian), pelas escolhas do filho, e as dela no passado. E ela era uma senhora bondosa, adorava quando íamos fazer oração com ela. Já estava com a idade avançada e mal conseguia sair da cama, e nos dizia sempre que estava somente esperando sua hora.

Passei pelo carro do ruivo o deixando para trás sem o questionar do porquê de me seguir, e pra dizer a verdade, eu não tinha tempo para suas confusões e curiosidades.

E de homens como ele, eu passei a vida fugindo.

***************

"Deus, agradeço por esse despertar. Agradeço pelo café da manhã posto a mesa, e agradeço principalmente por minha saúde, assim como de minha família. Isso nos deixa capaz de sempre correr atrás de nosso pão de cada dia. Estou aqui somente para agradecer, e a única coisa que peço é sabedoria para Benjamin fazer uma boa prova amanhã. – Encerrou meu pai Onofre sua oração matinal.

Soltamos nossas mãos para darmos início a refeição. Logo já estávamos saindo de casa para irmos a igreja. Não era nem seis horas da manhã quando chegamos na mesma.

Eu faço parte coro juvenil da igreja, e foi por esse motivo que eu fui até Londres com os demais. Pelo menos duas vezes ao ano, visitamos outras igrejas, louvamos a Deus com o couro ensaiado e voltamos para casa, trazendo diferentes perspectivas e vivencia.

Cada igreja carrega consigo seu ensinamento pessoal, a minha carrega a liberdade. Ensinando aos recém chegados, seja ele jovem ou não, que não basta amar a Deus. Devemos amar o próximo sem nos importamos com sua condição de vida ou sexualidade.

Não é uma disputa de bondade para alcançar o céu, e sim uma disputa por respeito para aqueles que outrem os toma como "diferente".

E eu não precisava me afastar, não precisava esconder quem sou para estar aqui.

Eu sou religioso e não mereço menos do que estou disposto a dar.

- Pronto Benjamin? – Questionou Samira me olhando ao ajeitar sua bateria.

- Sim. – Respondi subindo no palanque da igreja e pegando o microfone. Samira é uma moça transexual adorável e forte. As coisas em sua casa é bem diferente da minha. Pois meus pais jamais me dariam a liberdade que ela tem em ir a festas.

Mais eu não reclamava do jeito deles. Também não fazia questão de conhecer esse tipo de liberdade. Gosto de calmaria, e o mais longe de casa que vou é na montanha ver o sol se pôr

Iniciamos a abertura da igreja comigo cantando "Oceans". E pelo anjo, quase me perdi no enredo quando o vi entrar. O ruivo usava a mesma roupa da noite anterior, parecia perdido consigo mesmo quando me olhou.

Continuei a cantar sem desviar meus olhos dos dele. Parecia um chamado magico o azul que ele carregava em suas íris. Se sentou confortavelmente no ultimo banco da fileira, com as pernas abertas e a postura ereta e ali permaneceu a passar seus olhos por toda igreja.

E em meu mais íntimo, gostaria de saber o que ele queria ao me olhar daquela maneira.

Mais talvez eu nunca saberia, e estava tudo ser assim.

[ DEGUSTAÇÃO] Por ele, Aceito! (Spin-off de Suas Cores & Eu) Onde histórias criam vida. Descubra agora