Mais de 13 horas de voo! Permanecer tanto tempo confinado em um avião comercial parecia uma verdadeira tortura para o hiperativo e fotógrafo aventureiro turco Can Divit. Mas ele esperava que seu destino, desta vez, recompensasse e muito a longa viagem.
Há muito tempo que Can esperava por esta oportunidade e quando sua agente confirmou o trabalho, ele não pensou duas vezes, fez as malas e marcou a passagem, sob os protestos de seu pai Aziz Divit, que implorava para que ele permanecesse em Istambul e voltasse a ser diretor de criação da Fikri Harika, a agência de publicidade fundada por Aziz.
Qual o destino tão sonhado pelo prestigiado fotógrafo turco? O Brasil. A embaixada da Turquia o contratou para fazer uma exposição com fotografias sobre o gigante da América do Sul e ele mal podia esperar para conhecer a Amazônia e algumas outras regiões do país. Em contrapartida, o governo brasileiro também promoverá uma exposição sobre a Turquia, além de ampliar a relação entre os dois países em diversas áreas. Mas agora, tudo o que ele queria mesmo era desembarcar, ir para o hotel e tomar um bom banho.
Já era possível ver as luzes de São Paulo pela janela do avião. Dentro de poucos minutos ele estaria na 8ª cidade mais populosa do mundo, mas que ainda perdia para a sua Istambul, que é a 5ª cidade mais populosa. [1] Não teria muito tempo para explorar São Paulo, já que em dois dias embarcaria para Manaus.
O desembarque foi tranquilo. Experiente e prático em viagens, Can trouxe apenas uma mochila e a bagagem de mão. Após passar pela imigração, ele avistou uma bela mulher loira e alta que segurava uma placa com o nome dele. Ela devia ser sua cicerone no Brasil. Embora ele não visse a menor necessidade desse serviço, a embaixada turca fez questão de enviar uma guia brasileira.
- Olá! Seja bem-vindo ao Brasil, Sr. Can Divit! Eu sou Alessandra Marques e serei sua assessora nesse projeto.
- Prazer, Alessandra! - Ele pronunciou o nome com um sotaque italiano e ela achou engraçado.
- Pode me chamar apenas de Alê. É mais fácil. - "Nossa, pessoalmente ele é ainda mais lindo!", pensou ela.
- Você fala turco muito bem, Alê. E pode me chamar apenas de Can.
Eles sorriram e foram caminhando até o carro do consulado da Turquia, que os aguardava. Já estava amanhecendo quando o veículo passou por um cruzamento na Avenida Paulista, Can fez a sua primeira foto em solo brasileiro.
O céu parecia uma aquarela em tons de amarelo, laranja e lilás refletidos na frieza dos grandes edifícios de vidro e aço. Ele conferia a foto em sua câmera quando Alê quebrou o silêncio.
- Creio que hoje você vai descansar e tentar se adaptar ao fuso horário.
- Até que dormi bem no avião. Viajo tanto, que meu corpo já se adapta rapidamente.
"E que corpo, querido!" - pensou Alessandra. - Eu preciso resolver alguns assuntos de trabalho, mas se quiser conhecer um pouco de São Paulo mais tarde, eu...
- Sabe, Alê... Eu sempre faço isso sozinho. - Can não queria parecer rude e respirou fundo, mas ele sempre foi um "lobo solitário", ainda mais nas viagens a trabalho. - Gosto de sair sem expectativas e me deixar levar pela atmosfera do lugar, mas entendo que é o seu trabalho me guiar aqui e será um prazer ter a sua companhia, se for obrigatório que você me acompanhe a alguns lugares.
- Eu te levaria a lugares interessantes, mas você é livre para ir aonde quiser, Can.
"Droga! O cara é um aventureiro, acostumado e enfrentar selvas, desertos, mar aberto... Claro que ele não precisa de uma babá! Mal sabe ele o real motivo da minha presença aqui", pensou Alessandra.
Quando finalmente chegaram ao Hotel Unique, nos jardins, Can fotografou a interessante arquitetura criada por Ruy Ohtake [2].
- Parece um navio. - Disse Can.
- Ou uma fatia de melancia. - Alê disse sorrindo. - É muito bonito e ousado. Achamos que combinaria com você. - Agora, ela fez Can sorrir. - No terraço fica a piscina e um ótimo restaurante, mas acho que você vai gostar mesmo é da paisagem.
Ela estava sendo tão simpática e profissional, que Can se sentiu culpado pelo que dissera antes sobre preferir explorar a cidade sozinho. "E vamos combinar, ela é uma mulher linda!", pensou ele. Então, enquanto aguardavam o check-in, Can decidiu fazer um convite.
- Senhorita Alê, eu gostaria de me desculpar. Acho que pareceu que eu estava dispensando o seu trabalho. Sei que está aqui para me ajudar, então... Aceita jantar comigo essa noite, no terraço do hotel?
- Claro que aceito e não precisa se desculpar, ok? Vamos jantar no Skye, esse é nome do restaurante do terraço. Os drinks de lá são ótimos! Trabalho mesmo, só amanhã.
O recepcionista entregou os cartões dos quartos e eles estavam no mesmo andar. Lá chegando, despediram-se e cada um foi para o seu quarto. Assim que entrou em sua suíte, Alessandra fez uma ligação de seu celular.
- Tudo certo. Ele já está no quarto e me convidou para jantar hoje, aqui mesmo no hotel. Ah... O restaurante daqui é incrível, você sabe. – Ela sorriu. - Olha, sinceramente, até agora, ele parece ser realmente um fotógrafo contratado apenas para os eventos Brasil-Turquia. Não percebi nada de errado. Só que o cara é ainda mais lindo do que eu achei nas fotos que nos mandaram! Eu não imaginava que a Turquia tinha homens assim! – Ela disse rindo e o interlocutor a alertou sobre algo. – Ah, qual é, Ricardo? Você me conhece há quanto tempo? Ok! Deixa comigo. Abraço.
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[1] São Paulo tem 12.396.372 de habitantes (fonte: IBGE 2020). Istambul tem 13.907.015 de habitantes (fonte: State Institute of Statistics, Republic of Turkey).
[2] Ruy Ohtake (1938-2021) foi um grande arquiteto e designer paulistano. De sua obra, destacam-se o prédio do Hotel Unique nos Jardins e o projeto social habitacional dos "Redondinhos" em Heliópolis, este último lhe rendeu a Medalha de Anchieta e Diploma de Gratidão pela Câmara Municipal de São Paulo.
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O Albatroz Antes da Fênix
FanfictionFanfiction. Romance erótico. Ação e Aventura. A história começa três anos antes do fotógrafo turco Can Divit (Can Yaman)conhecer Sanem Aydin (Demet Özdemir). Inquieto e com espírito aventureiro, Can embarca numa viagem pelo mundo, encarando desafios...