Os ombros do pequeno Mo Xun tremeram quando seu tio levantou a voz. O demônio poderoso deixou sua força vazar, esfriando o grande cômodo. Seu pai não se mexeu por algum tempo, como se aos poucos entendesse a situação como ela era.
Sua mãe, outro demônio do norte, protegeu seu pequeno corpo imediatamente. Por mais dura que a mulher tivesse se mostrado ser desde o seu nascimento, ele nunca duvidou do seu amor.
"O que isso significa, cunhado?" Ela perguntou em voz alta, acordando o marido e rei da sua escuridão.
"Se você planejava levar o trono podia ter dito isso antes de me estabelecer… ou você era muito fraco naquela época?" Seu pai disse com um tom cortante, partindo para a luta num piscar de olhos.
Suas espadas se chocaram em meio ao salão e Mo Xun se abaixou atrás da mãe, que protegia seus corpos numa barreira espiritual.
A aura das espadas era assustadora e qualquer um sem poder elevado poderia cair de joelhos em pânico diante do som do metal frio arranhando. Mo Xun não era diferente e sua mãe entendia isso.
Bastou que seu pai cuspisse sangue uma vez e então ele se voltou à família, sua espada cortou uma fenda no espaço e Mo Xun e sua mãe correram em sua direção. A mulher empurrou o filho para dentro e o pequeno demônio teve tempo apenas de ver a espada do tio atravessar o peito do pai e uma estaca de gelo o coração de sua mãe.
Tudo escureceu então.
[…]
Havia sido um dia cheio para Shang Hua.
Recentemente seus pais se separaram e o garoto, mesmo com apenas seus 8 anos de idade, foi abandonado para a própria sorte em boa parte das ocasiões. Voltar da escola tornou-se uma delas.
Seus pais não pediram pra que ele voltasse sozinho, mas decidiram parar de buscá-lo na escola, sim, do nada. Por mais que não fosse uma criança sedentária, o caminho era longo e sua mochila pesada; em casa seus pés doem e os olhos ardem.
Ainda era melhor quando ele chegava e a chave reserva estava no lugar, se não ficaria agachado na porta até que sua meia-irmã voltasse do trabalho e o chamasse para entrar.
Por sorte, hoje a chave estava enfiada no vaso de flores falsas na varanda.
A-Hua empurrou a porta e, sabendo que não teria ninguém em casa, largou a mochila e se sentou no degrau para arrancar os tênis já ficando muito pequenos (seus pés doíam ainda mais por isso, mas seu pai achava desnecessário comprar um novo e sua mãe simplesmente não tinha condições.)
Seus dedos vermelhos saltaram para fora com um suspiro e ele andou pelo piso estranhamente gelado ao fazer o caminho até seu quarto. Provavelmente alguém deixou o ar ligado na sala por algum tempo.
Passando pelo batente da porta, um vulto escuro voou na sua direção e seu bumbum bateu com tudo no chão. No início ele ficou assustado e já se preparava para sair correndo; porém, parou ao encarar o garotinho de cabelos longos sentado na sua barriga, mostrando seus dentes pontudos enquanto rosnava igual um filhote de cachorro.
"Q-quem é voc-AHH!!" Shang Hua sequer terminou de perguntar quando o menino aproximou o rosto do seu, cheirando sua bochecha gordinha com uma expressão curiosa.
"Fome." disse finalmente, abrindo a boca na intenção de morder o pequeno hamster.
Pensando rápido, o outro simplesmente tapou sua boca com a mão, voltando a tagarelar.
"Se está com fome então vou cozinhar algo! Não precisa me morder!"
Mo Xun pareceu não entender bem também, mas se afastou mesmo assim, andando agachado como se tivesse medo de levantar. Antes que Shang Hua pudesse perguntar mais alguma coisa, o demônio se escondeu embaixo da sua cama.
Dando os ombros, o humano foi em direção a cozinha e fez a única coisa que sabia preparar: sanduíche com geleia de morango. Foi rápido, felizmente, e ele adicionou mais dois copos de suco de laranja.
"Eu espero que você goste de sanduíche…" o garoto murmurava distraído enquanto colocava as coisas na pequena mesinha de atividades que tinha no canto do quarto. Uma mesinha realmente pequena.
Mo Xun não respondeu, perdido em pensamentos enquanto encarava um pé de meia perdido embaixo da cama. Sentia falta da sua mãe, e do pai, esperava que o homem abrisse logo o portal para que ele pudesse voltar para o reino gelado.
"Hey, tá tudo bem?" O rosto gorducho de Shang Hua entrou na sua linha de visão, uma expressão preocupada no rosto. Quando levantou a colcha e olhou para o menino bonito embaixo da cama, havia algo muito triste nos seus olhos. "Não precisa ficar assustado, eu não vou te machucar."
Mo Xun zombou em silêncio, se arrastando para fora sobre a expressão agora menos franzida de A-Hua. O menino pequeno segurou sua mão sem medo e então puxou a cadeirinha da pequena mesa, sinalizando para que sentasse. Ele (Shang Hua) se sentou do outro lado e serviu o lanche de ambos.
"Você gosta de sanduíche com geleia de morango?" Perguntou, espiando Mo Xun abrir o sanduíche com o rosto confuso. "É muito gostoso, você devia comer."
Mo Xun, que viveu boa parte da sua vida no reino gelado, ao norte, não conhecia muitas coisas vermelhas; apenas sangue e jóias baratas.
No entanto, devido a importância que Shang Hua dava ao sanduíche, ele imaginou que fosse algo precioso. Só não conseguia pensar em alguma criatura com o sangue tão saboroso e acessível.
Quando voltasse ia pedir ao seu pai que matasse muitos morangos para que ele comesse seu sangue com os cereais.
Ele comeu seu sanduíche e metade do sanduíche de Shang Hua, depois bebeu o suco todo em alguns goles.
"Qual é o seu nome? Eu me chamo Shang Hua, mas você pode me chamar de A-Hua." disse rapidamente, ajudando Mo Xun a se levantar a subir na sua cama. "Você parece perdido, então se eu souber seu nome talvez eu possa ajudar."
"Mo Xun", disse simplesmente, mexendo distraidamente nas pelúcias em cima da cama.
"É um nome muito bonito!" aplaudiu, se deitando ao lado do corpo relaxado do demônio. "Então, o que você tá fazendo na minha casa?"
"Meu pai me enviou pra cá por um portal."
"Como o Doutor Estranho?!" ele pulou sentado na cama, encarando o garoto com olhos brilhantes. "Seu pai sabe fazer magia?"
Mo Xun não entendeu a primeira parte, portanto, ignorou. Ele não era de perguntar.
"Minha mãe também sabe… e o tio."
"Isso é incrível!"
Shang Hua encheu o pequeno demônio de perguntas, a ponto que ele estava com os olhos cerrados, meio adormecido. Não é normal para um demônio, mesmo jovem, dormir com essa facilidade. Mas desconfiava que estava exausto pelo uso do portal, estimava estar muito longe de casa.
Adormeceu abraçado na manta da cama, esperando que no momento em que acordasse, seu pai já o teria buscado.
A-Hua, no entanto, demorou para notar esse fato, só se dando conta depois de ter três perguntas ignoradas. Sua expressão zangada caiu por terra ao ver a tranquilidade em que o outro dormia.
Com cuidado, ele levantou e fechou as cortinas, ligou o ventilador e se deitou encolhido no canto da cama, fechando os olhos na intenção de cochilar também; ignorando o fato de ter uma louça para lavar e atividades da escola pra fazer.
Quando já estava quase apagado, uma sensação opressora tomou seu coração, o pânico forçando seu corpo à imobilidade. Abriu apenas um dos olhos, observando um vórtice se abrir e estender no espaço do seu quarto. De dentro um homem muito alto e de cabelos longos escuros saiu, ele caminhou até a cama e observou por segundos os dois garotos, um acordado e outro dormindo.
Levantou Mo Xun nos braços como um bebê, junto da manta da cama, não ousando separar o garoto dela. Ele caminhou até o portal e pouco antes de entrar virou a cabeça para Shang Hua, murmurando: "Durma."
Então atravessou para o outro lado. Antes mesmo de ver o portal se fechar, o humano já dormia profundamente.
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(sujeito a extras)

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geleia de morango - moshang
FanficAo retornar da escola, Shang Hua encontra um pequeno demônio vivendo no seu quarto. ou Mo Xun é enviado por sua mãe em um portal que o leva mais longe do que ele imagina. [moshang - kidfic - curta]