cap 1

20 2 0
                                    


-Marceline-

Nossa escola, Vento das palmeiras, tem um estilo antigo, o refeitório fica no meio de tudo rodeado pelas salas de aula e é preciso passar por um corredor para chegar a quadra coberta que ficava logo ao lado da piscina separadas por uma grade formando um paredão. Estávamos sentados no pátio cheio de pessoas da nossa sala.

-Eu não aguento mais essa escola –reclamei enquanto deitava no meu braço em cima da mesa- é sempre tudo parado, nenhuma coisa nova dês de que entrei aqui.

-Concordo, e olhe que estou aqui mais tempo que você –disse Caleb sentado na minha frente também deitado em seu braço-

-Sabe o que seria perfeito para matar nosso tédio enquanto esperamos a nossa morte ou uma grande vitória? Vulgo nota da prova a qual acabamos de fazer -digo animada-

-Nossa morte? Me respeite, você está na frente de um cientista!

-Dei língua para ele e sacudi minha mochila para fazê-lo lembrar da pergunta-

-Estás pensando no mesmo que eu minha cara colega? 

-Acho que sim

-Que rufem os tambores -falamos ao mesmo tempo-

–Ele começou a bater na mesa enquanto eu tirava nosso jogo preferido da mochila-

-Tadaaaan

-Você sempre sabe como me alegrar

E sabia mesmo, éramos amigos dês dos 5 anos, nossas mães eram amigas antes disso mas acabaram se distanciando, no final da vida, a mãe de Caleb enviou uma carta com um pedido de desculpas para a minha. Mas elas nem tiveram tempo de conversar, algumas horas depois que minha mãe leu a carta recebeu a notícia que sua amiga havia falecido. Ela correu e se trancou no quarto, como na época eu era muito pequena, meu pai ficou comigo brincando na sala enquanto escutávamos os gritos de desespero dela apesar do som alto. No dia do funeral eu conheci o amigo que me acompanha dês de então. Minha mãe ajudou a criar ele e consequentemente nos tornamos irmãos de consideração. Apesar de bom, seu pai, depois da perda, começou a beber mais do que costumava, ele nunca conseguiu superar e se culpava pela morte, por não poder ter ajudado ela, por não ter percebido os sinais, e acabou descontando essa frustração toda em Caleb. Para fugir do inferno que virava sua casa, quando seu pai bebia, ia para a minha, mas recentemente ele tem parado com as visitas frequentes. Não é como se ele fosse lá todo dia, mas de uns meses pra cá ele vem agindo estranho.

Enquanto andávamos pelo corredor já com a prova em mãos fomos para a frente da escola, resolvemos que trocaríamos de prova para um ver a nota do outro primeiro. Viramos de costas e no três abrimos os olhos. Eu fiquei sem reação, aquela foi a nota mais baixa que ele já tinha tirado em uma matéria, e ciências costumava ser sua matéria preferida, ao contrário de mim ele parecia feliz com o que tinha visto, mas quando percebeu minha cara de choque, puxou o papel de minhas mãos, pude ver seu sorriso sumindo lentamente enquanto olhava para a nota vermelha e lia a anotação que a professora Andressa tinha escrito no papel. Perguntei se ele estava bem e a única coisa que recebi foi um sorriso, sem graça, forçado. Voltamos para casa sem dar nem se quer uma palavra. O clima estava horrível, mas senti que se falasse algo ele poderia explodir de vez ou só dizer que estava tudo bem. Então resolvi ficar quieta na minha. Nossas casas ficavam razoavelmente perto um da outra, a dele um quarteirão depois da minha, mas nesse dia resolvi acompanhar ele até a porta, era sexta-feira então antes até de chegar no portão de sua casa era possível ouvir o som alto com uma música horrível, o rosto de Caleb antes branco tinha se tornado um pimentão, não sei se por raiva ou vergonha, logo depois gritou pelas costas "tchau Marci a gente se vê depois" sem chance de me despedir direito apenas retribuí o tchau e voltei para a minha casa. Quando cheguei só me tranquei no quarto e só saí quando meu pai gritou que a comida estava pronta. Minha mãe estava presa no trabalho então hoje era só eu e meu pai, ser médica realmente consumia muito da energia dela, meu pai trabalhava em casa então raramente ela estava vazia.  Meu pai era responsável pela cozinha, teve uma época que até livros de culinária ele usava, mas hoje já consegue cozinhar sem eles. Minha mãe recebeu uma promoção a uns anos atrás e por isso meu pai virou "chef de cozinha". Até que ele leva jeito para a coisa.

-Eae filhota como foi o dia hoje? -perguntou ele no meio da refeição para quebrar o gelo-

-Normal pai, recebi a nota da prova, a minha foi até que legal mas a do Caca não muito –respondi enquanto colocava comida na boca-

-Ele deve estar arrasado porque você não faz alguma coisa para animar ele?

-MEU DEUS VOCÊ É UM GÊNIO –falei colocando meu prato na pia e correndo para o quarto-

Meu querido cientistaWhere stories live. Discover now