cap 2

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Então iniciei meu projeto "ajudando os desajudados", nome criativo, eu sei. Primeiro vou tentar ver se tem algo de errado nas redes, vai que ele está recebendo hate por ser bonito, ou os caras ridículos da nossa sala estavam implicando com ele, nunca se sabe. No dia seguinte, na escola, esperei ele ir ao banheiro para dar vida ao meu plano. Nossa escola era relativamente grande, nós estávamos sentados no pátio que fica logo ao lado da cantina e perto do auditório, o banheiro era relativamente longe de lá então certamente demoraria para que ele fosse e voltasse. Como já sabia a senha, apenas desbloqueei o celular e fui mexendo, sei que não é o certo, mas eu precisava descobrir o que estava acontecendo. Enquanto olhava o bloco de notas percebi uma elevação na capinha do celular, quase imperceptível, nem tive tempo de reagir, ele já foi puxando logo o aparelho da minha mão, me puxando para o canto e começando a gritar

- O QUE DIABOS VOCÊ ESTAVA FAZENDO NO MEU CELULAR?

- Calma amigo. Eu só tava... é que... –nunca soube mentir direito-

- RESPONDE LOGO, O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO NA MERDA DO MEU CELULAR

- PARA DE GRITAR COMIGO EU SÓ ESTAVA TENTANDO AJUDAR

-finalmente ele abaixou o tom de voz-

- Ajudar com o que?

- É que você tem estado muito distante esses dias, eu fiquei preocupada

- Você não tem nada que se envolver nos meus assuntos

- Tenho sim, nunca gostei de te ver mal

- Você sabe que eu não gosto que mexam no meu celular

- Eu sei, eu sei

- Nunca mais faça isso ok?

- Sim senhor

Mas é claro que eu não ia parar por aí, pelo surto dele já pude perceber que o caso era sério, muito sério, e eu queria saber o que tinha na capinha. Como depois do ocorrido sabia que ele iria ficar alerta em relação a isso resolvi esperar mais um tempo, vai que depois dessa briga ele percebesse que eu me importo com ele, e sei lá, me contasse o que estava acontecendo. Mas infelizmente eu estava errada, ao passar das semanas, dos meses, ele só ia piorando, eu preciso fazer algo e rápido, e para piorar a situação ando percebendo cortes, bem finos por todo o seu corpo, o que me deixava mais preocupada ainda. Mas poderia ser apenas a gata dele, Aruna, minha mãe que deu ela para Caleb em seu aniversário de sete anos quando ele foi diagnosticado com depressão, hoje ela está muito velha com quase oito anos de idade e continua sendo a coisa mais linda do mundo, uma gatinha preta dos olhos azuis e pouco peluda, se minha mãe não fosse alérgica eu já teria roubado ela faz tempo.

Tarde da noite escuto a senha da porta da frente sendo digita e corro para o meu quarto, não era para estar acordada esse horário por causa da prova de amanhã, tudo bem que a prova é de sociologia, mas minha mãe é meio surtada em relação a provas, eu sei que ela só quer o meu bem, porém, eu sou muito ligada em questões sociais e a professora me ama. Enquanto fingia dormir em baixo do cobertor, escuto o barulho da porta do meu quarto abrindo e passos leves, ela não fala nada nem faz barulho, parece apenas estar me observando, depois de uns dez segundos escuto a porta fechar novamente. Acho que ela apenas queria ver se eu estava mesmo dormindo. O alarme toca 06:20 e eu acordo com o olho ardendo, consequência das poucas horas dormidas. Por ser sábado não estou acostumada a acordar tão cedo. Depois de arrumada corro para engolir alguma coisa e voar para a escola, quem diria que passar meia hora no banho me atrasaria para a aula que começa 07:30. Quando cheguei à escola dei a sorte de encontrar professora Lúcia indo pra a sala o que me deu tempo para me acalmar e acompanhá-la até ela

- Bom dia pro

- Bom dia Marci , estudou para a prova?

- Balancei a cabeça afirmando e dei um joinha, apesar de ter apenas lido rapidamente o assunto  –

- Marci, você chegou a ver o Calebe hoje?

-Não pro, por quê?

-Estou meio preocupada com ele, ele tem estado muito aéreo nas aulas ultimamente. Normalmente ao acabar a aula ele sempre sai da sala tão rápido que nem dá tempo de chama-lo para conversar. Quando o encontrar diga que quero falar com ele. 

- Ok

Ao chegar a sala, me sentei perto de Calebe como de costume, e na hora da arrumação das carteiras para prova a minha  ficou atrás da dele. A avaliação tinha acabado de começar e enquanto olhava para frente tentando pensar na resposta da questão pude ver que o tesouro estava bem ao meu alcance, no bolso traseiro da mochila, prestes a cair, me segurei para não tentar pegar, queria ao máximo descobrir o que estava naquela maldita capa, e também o motivo pelo qual ele ficou tão irritado quando tentei ver o que era. Sei que é errado bisbilhotar as coisas dos outros, mas o maior mistério da minha vida poderia ser resolvido apenas cometendo um crimezinho, e o que poderia ter demais lá dentro? Provavelmente é só uma foto constrangedora que ele tem com a mãe, que guardou de lembrança mas está tosca demais para mostrar aos outros. Então em fim resolvo, vou acabar a prova e enquanto me levanto para sair da sala pego o celular disfarçadamente enquanto finjo que derrubei a prova. Mas com o que eu não contava era que ele finalizaria a prova primeiro que eu, quando o vi levantando da cadeira pensei que meu plano estaria arruinado e que nunca mais iria descobrir o que estava dentro daquela porcaria de capa, mas a minha grande salvadora da pátria, vulgo pro Lúcia, fez com que meu plano não fosse por água abaixo, quando ele já estava quase na porta, ela pediu pra que esperasse todos da sala acabassem a prova para eles conversar em particular. Eu nunca te amei tanto professora.

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⏰ Last updated: Jan 21, 2022 ⏰

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Meu querido cientistaWhere stories live. Discover now