L U N A
Enxuguei as lágrimas que escorreram por minhas bochechas branquinhas, e apenas uma coisa estava em meus pensamentos, ou melhor, uma frase:
“Rejeitada, fui rejeitada novamente”
Não era de se esperar, não era mesmo, já estava até acostumada com isso mas, me machucava do mesmo jeito. Saber que eu nunca seria suficiente pra alguém, que ninguém jamais gostaria de mim, por eu ser assim, problemática, feia.
Até meus pais não me quiseram, por que alguém ia querer?
Respirei fundo e limpei os olhos, dei uma arrumada no meu rabo de cavalo e após muitas insistências na porta, abri a mesma dando de cara com o trio que eu mais odiava.
— Tá achando que o banheiro é seu? — questionou, Lisa empurrando-me contra à parede desbotada
— Oh, ela ‘tava chorando — zombou, Julia
— Ela achou mesmo que iria ser adotada — María, riu maldosa
— Me deixem sair — falei entredentes, sentindo meus olhos arderem e o choro intalar-se na garganta — Por favor — pedi em um quase sussurro, vendo em seus olhos, faíscas de zombaria e maldade, e em seus lábios, estava um sorriso prepotente, me perguntava se aquela garota alguma vez tinha sido boa
— Idiota — me soltou, não sem antes de bater minhas costas novamente na parede com força, caí no chão, tossindo e elas entraram juntas no banheiro
— Luna — ouvi meu nome ser berrado pela voz esganiçada da diretora, Sra. Azevedo, a mesma mais parecia uma daquelas bruxas dos desenhos, era velha, baixinha, gorda, tinha até um nariz comprido e uma verruga, como nos filmes em que as bruxas são retratadas, usava um vestido colado, azul marinho, de gola alta e mangas compridas e um sapato preto de salto quadrado e pequeno
— Sim, diretora.
— Arrume sua roupa e venha até minha sala — disse dura, passando por mim e seguindo o longo corredor até sua sala
Suspirei frustrada e arrumei a blusa branca de mangas compridas, colocando-a por dentro da saia quadriculada, azul marinho e preto.
Em passos apressados fui até a sala dela, batendo o solado do sapato de couro preto, que completava o uniforme, contra o piso de madeira, daquele castelo que parecia ter séculos de idade.
Parei na porta dela, juntando os pés, averiguando se minha vestimenta estava correta, se o laço no pescoço estava certo e se as meias brancas, que ia até a canela, estavam no mesmo tamanho, por fim, bati meu punho contra a madeira velha e escura da porta, duas vezes, ouvi um “entre” e levei minha mão até a maçaneta.
Respirei fundo, temendo o que ela queria comigo e girei a maçaneta, adentrando o escritório que estava impecável e do mesmo jeito, com todas as outras vezes que estive aqui.
— Essa, é Luna, a garota de quem falei — disse a mais velha, para um casal que não devia ter mais de 28 anos, a mulher mesmo tinha cara de ter uns 24 anos no máximo, ela era loira, tinha olhos cor de mel, usava um vestido vermelho curto e de alcinha, e um par de salto alto vermelho estava em seus pés, tenho quase certeza de que vale mais do que esse prédio, o homem, de cabelos negros e olhos verdes, usava um terno elegante e um par de sapatos de couro, preto e lustroso, me encararam de cima à baixo sem esboçar qualquer reação e em minha mente, “Não precisam me avaliar tanto, vocês não irão me querer mesmo”, me senti intimidade e acuada sobre seus olhares, encolhi, disfarçadamente, meu corpo — Tem 12 anos, é coreana, uma boa garota, mas como infelizmente, não atendeu à nenhuma das expectativas dos outros casais, ainda está aqui.
A mulher me abriu um sorriso e levantou-se, vindo até mim, recuei um pouco quando percebi sua aproximação.
— Sou María Lombardi, aquele ali é meu marido, Lucca Lombardi — disse, estendendo-me sua mão e a primeira coisa que notei foi suas unhas longas, preta com branca e cheia de brilho e a segunda coisa que notei, foi o punhado de anéis em seus dedos e algumas pulseiras, de ouro, no pulso. Acho que encarei por muito tempo, à mesma soltou uma risadinha gostosa, levantei meu olhar e pude notar um sorriso lindo estampado em seus lábios — Gostou, fiz recentemente.
— Muito bonitas — comentei — Luna.
— Luna Lombardi — disse ela, como se tivesse degustando meu nome — Eu acho que fica bem. Não concorda?
Mesmo tímida, assenti.
— Eu e meu marido nos casamos à algum tempo, mas não consegui ter filhos — disse ela
— S-sinto muito.
— Não sinta, se tiver de acontecer algum dia, acontecerá — respondeu — Achamos que fosse uma boa ideia adotar uma criança e uma adolescente, como você seria bom.
— Não sou adolescente ainda — falei e ela riu mais uma vez, dessa vez sendo seguida pelo marido
— Mas em breve será, de qualquer forma achamos interessante ter nossa primeira experiência de pais com uma quase adolescente — esse claramente foi ele, com um tom sério, mas que me passava segurança — O que acha de ser nossa filha.
Sorri.
O nossa que ele usou, me fez ter tantos sentimentos e um deles era o sentimento de pertencer, pela primeira vez na vida eu senti que pertencia à algum lugar, mesmo que eu nem fosse realmente filha deles.
Sorri grande, com vontade, exibindo meus dentes brancos. Eu não consegui segurar às lágrimas que escorreram por minhas bochechas e nem consegui segurar a afirmação que foi proferida por meus lábios.
— Sim.
María, minha nova omma, me envolveu com seus braços em um abraço apertado, e podia ser precipitado, mas eu me senti amada.
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.Primeiro capítulo, espero que gostem. Escrevi ao som Jão e Gloria Groove, minha criatividade tá gritando aqui, já tenho vários planos para essa história e espero poder colocar no papel.
Deixem seus comentários, o que acharam, se eu posso melhorar, se há alguma palavra errada, porque eu não revisei antes de postar.
Deixem também suas estrelinhas e até a próxima chingus ❤️❤️
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Adotada [REESCREVENDO]
Novela JuvenilComeço: 13 de dezembro, sexta feira, 2019 Fim: