Capítulo Único

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Fotografia é sua paixão, capturar a beleza da natureza, as emoções das pessoas, registrar as mais especiais memórias, é isso que lhe dá prazer. E mesmo que agora esteja trabalhando no ramo mais "superficial" da área, viajar para cobrir eventos de moda ainda permite que ele faça o que gosta. De que outra forma ele estaria no Public Garden em Boston na noite de Natal? Podendo registrar o encanto melancólico das árvores cobertas de neve, o lago congelado e as luzes de Natal.

Se tem uma coisa que ele adora fotografar são parques com estação bem definida, como na Bahia onde encontrou um parque ensolarado e crianças se divertindo nas fontes de água, a alegria de verão contagiando todos em volta; ou o parque em Minas, cheio de cores com tantas flores diferentes recém desabrochadas e casais apaixonados, ele capturou a esperança de um futuro feliz; ou no Canadá, onde registrou uma família abraçada, confortável entre as folhas vermelhas e alaranjadas caídas, Rubens ainda consegue sentir o calor e carinho que a cena apresentou.

Agora escaneando a paisagem gelada do parque, Rubens registrou um homem sentado em um banco de frente para o lago congelado; agarrado a um presente como se fosse um colete salva-vidas, e ao olhar para a foto que bateu, Rubens não via nada além de tristeza e solidão. Abaixando a câmera e observando o homem, ele se sentiu atraído a ajudar, apesar de não ser extrovertido e não gostar muito de conhecer pessoas novas, ele não podia deixar o cara lá, sofrendo, sozinho, no frio... Ainda mais na noite de Natal! Ele respirou fundo e se aproximou.

"Excuse me... Are you okay?" Esperava que seu sotaque carregado não fosse um problema para que o homem o entendesse. Viu ele limpar o rosto com pressa e sorrir de uma forma que que Rubens imaginou doer de tão forçado que parecia.

"Desculpa, baixinho, mas no compreendo tus." O homem respondeu de forma exagerada fazendo o mais novo pensar que talvez tenha lido a situação errado.

"Brasileiro?" Perguntou apontando para o estranho. "Eu também" Concluiu apontando para si; o rosto do estranho se iluminou minimamente, uma pontada de alívio em ouvir outra pessoa falar sua língua.

"Ah! Que bom! Sabe, o povo daqui não liga muito pra quem não entende a língua, uma vez eu fiquei uma hora tentando pedir um bife no restaurante e a mulher ficou me olhando como se eu falasse grego. Isso sem contar—"

"Você tá bem? Triste?" Decidiu cortar o monólogo, não que não ligasse para os problemas que o homem mais velho enfrentou em terras estrangeiras, mas não era por isso que Rubens estava ali.

"Que? Não, não. Eu tô bem. Só de olho na paisagem." O homem olhou em volta e realmente o parque estava lindo. "Antônio." Ao voltar os olhos para o mais baixo, o homem ofereceu a mão.

"Rubens." Ele aceitou e, para sua surpresa, o aperto era mais gentil do que imaginava.

"Prazer em te conhecer, Rubinho. O que tá fazendo por aqui?"

"Rubens." Corrigiu, franzindo o cenho. Tinha a sensação que Antônio queria tirar a atenção de si, e é claro que não acreditou quando ele disse que estava bem. Então resolveu responder a pergunta mostrando a tela da sua câmera.

"Fotos. A paisagem é bonita."

Balu se viu ao olhar para a câmera, o nariz vermelho, olhos inchados, rastros de lágrimas, que ele ainda sentia como se estivessem congeladas em seu rosto, e em seus braços o presente tão colorido que parecia ser a única coisa viva na imagem... Uma trágica ironia. Sentindo novas lágrimas surgindo, Balu limpou a garganta antes de comentar.

"Nossa, Rubinho, você é bom tirando foto... Mas da próxima vez avisa pra eu dar um sorrisinho." E assim, enquanto ele falava, o sorriso forçado estava de volta em seu rosto, Rubens notou alguns espasmos de Antônio de tempos em tempos, quando estava se aproximando pensou se tratar do choro, mas agora percebeu: ele estava com frio! Olhou novamente para a foto que tirou minutos atrás e pensou no que o homem, claramente fingindo não estar miserável, disse; uma ideia surgiu.

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⏰ Última atualização: Jan 10, 2022 ⏰

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