O Anjo Dos Meus Sonhos

TRÊS - ROUBAR UM CORAÇÃO É CRIME? - LUAN

"O que pode ser mais forte
que o coração da gente
que se quebra em tantas partes
e ainda bate."
- 'O que o sol faz com as flores' - Rupi Kaur

Quando eu contei aos meus pais que ia fazer concurso público pra ser policial, os dois acharam que eu estava enlouquecendo. O sonho deles sempre foi que eu fosse médico como eles, mas eu acho mais divertido mandar alguém pro hospital do quê ser o responsável por custurar os bandidos que a polícia manda pra lá.

E agora está mais que claro que eu estava certo esse tempo todo! Marina Santtamarini me mostrou isso.

Eu nunca efetuei uma prisão tão maravilhosa quanto essa. Ela me fez rir, e sentir pena quase que ao mesmo tempo. Seus olhos não mentiam sobre sua dor em ver 'os amores da sua vida se casando', mas ainda assim, ela fez questão de rir e de parecer ver aquela como uma situação divertida.

Ela não era em nada o tipo de mulher por quem eu geralmente me interessava. Sempre gostei de mulheres com o rosto mais angelical, e o jeito inocente. Como Clarissa, minha primeira namorada. A primeira mulher - que na época era menina - á quem amei, e a única. A mulher por quem eu derrubaria o mundo, atravessaria oceanos, mas não fui capaz de salvar. Perdi ela pra um bêbado inveterado que a atropelou na frente da faculdade.

Mas minha detenta não lembrava em nada minha antiga namorada. Os olhos dela eram culposos e acusadores como os de qualquer advogado, atentos e observadores. Eram brutos, em um tom enigmático entre o verde, o azul e o cinza; totalmente diferentes dos olhos azuis de Clarissa. Mas ainda assim, tão enigmáticos e calorosos quanto. Sua pele não era bronzeada, muito pelo contrário, ela era branca, muito branca. Mas o quê mais me chamou atenção nela foram as tatuagens e piercings. Eles estão por toda a parte.

Ela é extremamente sexy. Vestida em um vestido vermelho decotado que evidenciava seus fartos e empinados seios - que ela fez questão de relevar serem silicones -, além da bolsa e sapatos de marca que usava. Seu carro esportivo também denunciava que tinha uma vida confortável, ou até mesmo luxuosa. Coisas que Clarissa nunca teve. Ela também não tinha todas as suas curvas, nem mesmo aquele sorriso travesso. A mulher no banco de trás da minha viatura, era uma versão um pouco mais promíscua e tentadora da minha namorada da juventude. Só porque não era como Clarissa, não quer dizer que não fosse tão linda quanto. Seu sorriso era capaz, facilmente, de fazer qualquer homem andar do Rio até o Recife de joelhos. Todos ficariam de joelhos e implorariam pra provar o gosto da sua boca.

E talvez eu fosse um deles.

Devo admitir que me senti mal ao comparar tanto a bêbada no meu banco de trás, com a menina que conquistou meu coração quando eu só era um soldado da patrulha. Mas ela não parecia nem um pouco incomodada pela forma como eu a olhava pelo espelho do carro, muito pelo contrário, começou á me olhar e me cantar de um jeito malicioso. Realmente ela não tinha nada haver com Clarissa.

E só então percebi que isso não era um problema. Faziam doze anos que ela tinha morrido, e isso quer dizer que estava mais que na hora de eu seguir em frente. Não que eu quisesse seguir em frente com uma advogada rica e viciada em álcool, mas essa mulher pelo menos me despertou para a realidade.

Eu fiz questão de perguntar seu nome, sua idade, o porquê de ser uma mulher tão linda e engraçada, bêbada e deprimida uma noite antes do feriado. Sua resposta foi simples, e direta: 'Eles se casaram!'.

 Alguma coisa em seu olhar me dizia milhões de coisas, e eu juro que pensei em pegar um caminho mais longo pra delegacia, só pra ficar mais tempo com ela.

Ela foi autuada em flagrante por dirigir embriagada, mas esse não foi o maior crime que cometeu naquela noite. Ela fez muito mais que isso, roubou meu coração.