Olhos cinzentos

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Entrar naquela cafeteria em trinta de junho de 2005 mudaria a minha vida para sempre. Eu apenas não sabia disso ainda.

Quando Steven, o meu amigo que vivia drogado, me convenceu a usar cocaína, nós entramos por aquela porta de vidro. O frescor do ar-condicionado mal havia me envolvido quando vislumbrei aquele olhar magnífico pela primeira vez. Você estava lá, sentada ao lado de uma das mesas do Café. Seus olhos cinzentos, que flertavam com o verde, postos em mim por um mísero segundo que pareceu durar uma vida inteira.

Meu mundo virou de cabeça para baixo. Steven me cutucou, já que eu congelei no lugar, atento apenas à vista mais esplendorosa que já tinha colocado os olhos em todos os meus então 21 anos de vida.

Então você voltou a fazer suas anotações de trabalho. Meus olhos se mantiveram sobre você mesmo quando olhou para o lado de fora ao tomar o último gole do seu café. Você era tão linda.

Steven ainda enchia o meu saco, mas eu sabia que tinha que ir até lá. Desvencilhei-me, então, do meu amigo e caminhei até você, sentando-se do outro lado da mesa sem nem pedir licença. Você apenas me lançou um olhar de dúvida e surpresa enquanto eu focava a minha atenção na pasta que mantinha aberta sobre a mesa, procurando por algo relevante para dizer.

Foda-se a educação.

Foda-se o Steven, aquele filho da puta.

E foda-se a cocaína também.

Eu só queria saber quem você era e o que eu precisaria fazer para que se apaixonasse por mim.

Por sorte, não precisei de muito. E quando digo "sorte", é isso mesmo que quero dizer, porque eu nunca fui merecedor de todo o amor que você desperdiçou em mim, ainda assim, é tudo do que eu mais sinto falta agora. Do seu amor, e de você.

Mas voltando a você, sozinha na cafeteria naquele fim de tarde. Seus longos cabelos quase pretos caindo sobre seus ombros e seu olhar de curiosidade por eu ter invadido a sua mesa — e sua vida — sem mais nem menos.

— Sabe como poderia fazer o seu evento lotar em um piscar de olhos? — perguntei, apontando as anotações em sua pasta. — Peça a ajuda de alguém que tem contatos importantes, uma pessoa que todo mundo conheça.

— Parece que meus estudos não servem para nada, então. — Deu de ombros e fechou a pasta, mas não parecia brava. Em vez de me xingar pela interrupção abrupta, me olhou com desafio. — Aposto que vai me dizer que você é uma pessoa que todo mundo conhece. Estou certa, espertinho?

— Depende — falei. — Sabe quem eu sou?

— Um cara que me viu e resolveu que era uma boa ideia sentar na minha frente e tentar me dar uma solução para o meu problema dos convidados — sugeriu, com um sorrisinho de deboche que eu passaria a amar nos próximos meses. — Não, estranho, não sei quem você é.

— Então parece que não é todo mundo que me conhece — declarei. — Apenas a maior parte das pessoas, mas não todas.

— Imaginei que fosse o cara cheio dos contatos — comentou. — É só olhar para o jeito como se veste.

— O que há de errado com as minhas roupas? — Dei uma breve olhada para o que vestia e não encontrei razão para o seu tom de desprezo.

— Elas gritam para quem quiser ouvir: "sou um riquinho babaca, herdeiro de algum bilionário filho da puta que fode a vida de todos vocês simplesmente por existir" — entoou. — Algo desse tipo.

— Está certa sobre a segunda parte, meu pai é mesmo um filho da puta. — Balancei a cabeça para enfatizar. — Mas eu não sou babaca.

— Ah, sério? — Deu um risadinha de diversão. — Por que será que não consigo acreditar nisso, garoto rico?

Olhos Cinzentos (CRBM)Onde histórias criam vida. Descubra agora