Eduardo apareceu no reflexo da vitrine de uma loja de importados.
Observei seu rosto simétrico por alguns instantes até me dar conta que minha mãe me chamava baixinho:
- O que houve? – ela disse com discrição, enquanto eu fechava a boca, mas não perdia de vista o reflexo no vidro.
Demorei alguns instantes para responder, pensando que se falasse ou me mexesse iria perde-lo de vista. Sofia me chamou novamente, mas quando me virei para ela, o garoto passou ao meu lado e pude sentir seu perfume doce:
- O que houve? Você parou de falar de repente.
- Nada mãe. – respondi discretamente, apontando a cabeça para o interior da loja, onde o garoto de cabelos castanhos olhava uma camisa.
Minha mãe e eu nunca havíamos tido uma relação muito boa, ela nunca entendia meu ponto de vista e eu nunca aceitava o dela, coisas normais de adolescentes. Felizmente, desde que havia terminado com meu primeiro namorado, ela se tornou minha melhor confidente e conselheira, e até mesmo, minha companhia favorita.
Ela olhou na direção que apontei com a cabeça e viu Eduardo, mas agora ele também olhava para fora, mais precisamente para mim.
Corei de uma forma absurda, o que fez minha mãe me puxar pela mão para o lado oposto do shopping. Ainda olhei para trás uma última vez e vi que ele havia saído da loja, esticando seus olhos cor de mel na minha direção.
Continuei vermelha enquanto era arrastada contra minha vontade, ouvindo minha mãe rindo de algo que ela achou engraçado.
Paramos no lado oposto do corredor e minha mãe se jogou em um banco:
- Você estava vidrada, até o garoto percebeu. – ela ria descontraída.
Mais uma vez vermelha, detestava essa reação do meu corpo, mas era impossível impedir minhas bochechas de ficarem rosadas a cada reação dos meus sentimentos. De emoção a ódio, alegria a choro, eu sempre ficava corada, mas quando era de vergonha parecia que haviam esfregado pimenta na minha pele e ela havia se irritado:
- Ficou tão explicito assim?
Ela fez um movimento afirmativo com a cabeça:
- Vai lá, fala com ele, não deve ser tão difícil assim!
- Com certeza mãe, como não pensei nisso? – fiz uma imitação teatral. – Olá, meu nome é Maria Gabriela e o seu? Bem, te achei encantador, quer tomar um sorvete?
Minha mãe riu com minha gracinha:
- Acho que ainda tenho minha dignidade. - concluí
- Acho que você deveria se divertir um pouco mais, tem horas que parece que é mais velha que eu…
- Se divertir não implica isso para mim.
- Então não está mais aqui quem falou e ele ainda está olhando para você.
Senti meu rosto quente, mas sabia que não podia ficar mais rosa do que estava.
Ela se levantou e caminhou até alguém, que depois de me esforçar, pude perceber que era minha madrinha Marcela.
As duas eram melhores amigas e sempre que estavam juntas, pareciam adolescentes conversando sobre o novo bonitinho do colégio.
Disse um rápido olá, disfarçando meu descontentamento em encontrar com ela e saí andando sozinha pelos largos corredores. Não que não gostasse da minha madrinha, mas Sofia era médica, e pior, médica de hospital público, então o tempo que tinha com ela era escasso.
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Nada Mal
Teen Fiction"Quando tudo deu errado foi que minha vida começou a dar certo." As vezes a adolescência pode parecer uma grande aventura ou um grande problema, sempre repleta de emoções intensas e muitas vezes terríveis. Babi era uma garota divertida e dedicada...