2. Não existe a tal da perfeição;

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Ainda não estava acreditando em todos os acontecimentos da minha noite. Acho que estava suficientemente deprimida para que Sofia me concedesse essa extravagância.

Quando abri a porta da sala com minha chave extra, entrei sem fazer muito barulho, e subi as escadas de madeira até meu quarto, joguei minha bolsa em cima da cama e fui até o banheiro, mas antes de sequer trancar a porta, Sofia me chamou.

Desisti de tirar a maquiagem e caminhei até o fim do corredor, rapidamente, quanto antes começasse, antes terminava.

Abri a porta com certa rapidez, e me deparei com uma das cenas que menos gostava: minha mãe de pijama de bolinha, sentada com as pernas cruzadas e no seu colo, o controle da TV, tudo isso muito bem acompanhado por uma bacia de pipoca.

Um interrogatório minucioso viria pela frente. Por mais de uma vez, minha mãe me lembrava uma adolescente e agia como uma adolescente, e não como minha mãe mesmo.

Mesmo sentindo o sono dominar não tive coragem de ferir os sentimentos de Sofia. Do modelo do carro a cor favorita, nada escapava das perguntas da minha mãe

O mais interessante é que eu havia perguntado a Eduardo metade do que minha mãe queria saber, então por mais de uma vez acabei respondendo “Não sei”:

- Então ele pediu seu contato? – perguntou ela por fim.

- Sim mãe, ele disse que me procurava. – respondi aliviada, por perceber que aquilo estava chegando ao fim.

- E você sabia que ele era filho do Beto Nostalge?

- Claro que não mãe! – me senti ofendida, e acho que ela também.

- Até eu percebi. – ela disse com um tom óbvio. – Ou você acha que deixaria minha filha andar com um estranho?

As coisas fizeram mais sentido, se ela sabia quem era o estranho ela passava a ser um conhecido. Era mais claro ainda ao pensar que ela quem me ensinou a gostar de Camarote das Donzelas.

- Agora você deve estar morrendo de vontade se saber se ele te adicionou.

Era tão estranho ouvir minha mãe usando termos de internet que não consegui deixar de lançar um olhar surpreso para Sofia:

- Estou mãe.

- É, mas você só vai ver amanhã, agora é cama mocinha, já passa da meia-noite e você é péssima para acordar.

Péssimo momento para minha mãe adolescente voltar a ser apenas mãe. Dei um beijo de boa noite em Sofia e voltei para meu quarto sem reclamar, estava totalmente sem sono, mas sabia que precisava dormir.

Foi até meu closet e escolhi a roupa mais sem graça possível, não queria chamar a atenção de ninguém, mesmo sabendo que seria inevitável com apenas quinze alunos na sala.

Uma calça jeans e uma camiseta com estampa de estrela, um colar discreto e uma pulseira foi o que escolhi para usar na manhã seguinte, e na hora que fui escolher uma sandália, lembrei com mais desanimo ainda, que voltaria para casa a pé.

No antigo colégio eu costumava ir de carona com meus pais, mas considerando as poucas quadras que me separavam do Evaristo Soares não havia motivo para tanta preguiça.

Achei que precisava tomar um banho antes de dormir e no banheiro, enquanto sentia a água quente cair em minhas costas e relaxar meu corpo, percebi que o lenço continuava em minha mão.

“Como Sofia não viu isso”, foi à única coisa que me ocorreu, preferi não me atentar ao estado do lenço, também não era exatamente a maior fã de sangue. Daria um jeito nele no dia seguinte.

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⏰ Última atualização: Apr 14, 2015 ⏰

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