O Dobro do Ordenado para A Última Balada

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 — Ele fede a orc.

— Não duvidaria que o fosse.

— Estaria o lorde tão desesperado assim?

— Ei.

Os corpos dos guardas ficaram rígidos quando o estranho falou. Tinha uma voz baixa e até suave para o seu tamanho avantajado. Era maior do que a sobreira da porta, o que fazia da zweihänder presa às suas costas parecer uma espada de tamanho normal.

— Posso escutá-los. — disse a voz do forasteiro por debaixo do capuz, que ocultava quase todo o seu rosto — Se tem tempo para confabular sobre a minha pessoa, sugiro que o aproveitem para anunciar minha presença ao seu mestre.

Os guardas engoliram em seco. Orc ou não, a presença daquele sujeito gigantesco com sua voz e modos polidos despertava mais medo do que uma besta selvagem de presas afiadas. Um dos guardas se apressou em chamar o mestre, o que deixou seu colega com o recém-chegado na ante sala. Minutos pareceram a eternidade enquanto o pobre homem esperava o colega retornar com a resposta.

— Meu senhor irá recebê-lo.

— Ótimo.

O gigantesco estranho entrou na sala, o que deixou os guardas aliviados. Até o mais desprezível e fraco dos ratos sabe quando está na presença de um ser poderoso: era como aqueles dois guardas se sentiam.

Uma vez dentro da sala, que na verdade era uma biblioteca, o estranho viu o homem no qual desejava vender seus serviços: Lord Georgius Altman, também conhecido como "O Bruxo". Não porquê ele fazia mágicas. Sua bruxaria na verdade seu conhecimento e seus objetos amaldiçoados eram sua vasta coleção de livros, cujo conteúdo comportava conhecimentos de outras terras e eras. Sua maior atrocidade era querer compartilhar sua sabedoria com todos, inclusive, com mulheres e escravos alforriados.

Uma aberração, aos olhos do clero. Por isso, Lord Altman estava com graves problemas.

O homem idoso estava anotando algo em pergaminho quando ergueu a cabeça para olhar o recém chegado. Mesmo sabendo quem o aguardava, tomou um susto ao ver o sujeito, tanto que quase derramou seu tinteiro.

— Não se incomode — disse o estranho — Estou mais do que acostumado com esse tipo de recepção.

— Sinto muito. Eu ouvi as lendas ao seu respeito, mas ainda é formidável vê-lo tão de perto, Brand, "O Corta Mil Cabeças".

Brand acabou dando uma risada.

— "Lendas"? Ainda estou vivo para ser uma lenda. E o senhor não precisa ser tão gentil para trocar o "assustado" por "formidável"

"Está aí um guerreiro tão afiado quanto a arma que carrega" pensou Lord Altman, que limpou a garganta e indicou a cadeira à sua frente.

— Sente-se, por favor. Imagino que esteja um tanto fadigado pela viagem, então pedi para que lhe preparassem cerveja, pão e queijo. Sirva-se.

— Obrigado. Eu estou mesmo com fome.

Antes de se acomodar na cadeira, Brand tirou sua zweihänder * das costas e a apoiou com todo o cuidado no braço direito da cadeira, como a um pai que acomoda seu bebê com carinho em um berço. Lord Atman ergueu as sobrancelhas. Está certo que espadas como uma zweihänder eram raríssimas e bastante caras para ser fabricadas, por isso, eram dadas aos guerreiros mais habilidosos que existiam. Aquela zweihänder em específico era a maior que já tinha visto: deveria ter mais ou menos dois metros. Com certeza foi fabricada por um ferreiro excepcional e seu custo deve ter sido altíssimo, por isso, todo aquele cuidado de Brand com a espada.

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