Havia rugidos do lado de fora do palácio. Bravos, valentes, chorões e pesarosos.
A Rainha odiava armas e, principalmente, guerras. O temperamento desagradável do Rei enfim mostrou seus frutos e a pobre rainha sabia que não haveria paz no campo de batalha, nem por um instante sequer. Mas ela não estava preparada para perder tantos dos seus.
Seus aprendizados, adquiridos a partir da melhor coleção de livros que o Núcleo poderia oferecer, não valiam de nada naquele momento. Ela não poderia acalmar o Rei-Fera com chás amargos, muito menos salvar seus aliados com técnicas avançadas.
Em meio ao remorso e ao terror, a Rainha sucumbiu.
— Eu sinto o vigor da vida saindo de seus corpos. Guerreiros, rosas, árvores anciãs. Sinto seus batimentos diminuindo, os últimos suspiros. Não é certo, não é!
Maeve chorava.
Suas mãos estavam sujas de sangue e possuíam tantas queimaduras e arranhões que ela até mesmo perdeu a conta. O seu cajado apresentava rachaduras feias e de lá saíam pequenos raios. Ela mal sabia como ainda estava de pé: sua perna esquerda latejava e havia um corte no braço que subia até o ombro, doendo mais e mais. Porém, Maeve não saía do canto, ainda bisbilhotando a batalha pela janela.
Maldito hábito.
O dourado chamativo do elmo de seus guerreiros sumia gradualmente, e somente se via pontos brancos dançando pelo campo. Os Cintilantes, antes tão fracos e fáceis de vencer, estavam empilhados e queimavam em fogo rubro. Maeve conseguia escutar suas lástimas sinistras como um fio de sombra, implorando por misericórdia. Um zumbido insuportável e doloroso.
— Tente se acalmar, Maeve. Está deixando-a nervosa de novo.
Ah, é.
Maeve estava acompanhada de sua irmã – ela era adorável, e Maeve amava trançar o cabelo brancos dela, ela sempre achou inusitado que logo sua irmã tivesse cabelo tão sem pigmento. A Rainha, no entanto, não lembrou como foram parar no meio daquele caos todo.
Nos braços da irmã havia um bebê, o qual Maeve não conhecia.
— Olá, pequeno emaranhado de ouro. O que está fazendo nos braços de minha doce irmã?
A criança balbuciava algumas palavrinhas, mas Maeve não entendia – aquelas pedrinhas azuis céu em seus olhos pareciam mais atrativas do que a ideia de traduzir sua fala. Que fofura, pensou a Rainha, encantada.
A mente de Maeve estava nublada há um tempo. Os gritos diminuíram graças às risadinhas da bebê, o peito da Rainha foi acalmando-se enquanto a criança dava pequenos passos até a si. Isso era bom, não era? Aquela garotinha de fios de ouro era mesmo um bom agouro!
Logo seu marido retornaria para casa e Margot voltaria a brigar por ela ser muito branda e ingênua. Depois, Severin voltaria trazendo bons vinhos, e logo depois ela prestigiaria Anghria cantando suas músicas favoritas. A Rainha até mesmo cogitou adotar a pequena bolinha de carne, segurá-la como uma filha querida.
Até um raio se espalhar por todo seu corpo e acordá-la.
— Mas o quê....? — Maeve sibilou; suas pernas falharam e seus pés escorregaram em sua própria poça de sangue.
Maeve permaneceu imóvel, mas havia um choro alto perturbando seus pensamentos, acordando-a para a vida real. A criança estava com suas mãos sujas com o sangue de Maeve.
Margot agarrou a bebê e fez seu melhor para tirar o sangue de suas mãos gordinhas, ainda olhando a irmã, finalmente acordada de seu choque. Maeve admirou o pequeno embrulho com uma estranheza no rosto. Apesar de estar triste com o caos que se instalou no reino, Margot deixou uma risada esnobe escapar.
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HONRA E GLÓRIA
Fantasía"Ombros altos, peito estufado. Mantenha a postura de rainha. Você é uma guerreira moldada. Exiba isso." Uma sentença de morte desde antes do berço. Uma ameaça implacável. Fadadas a um destino que não lhes pertenciam e um fardo que não mereciam car...