A Little More Attached | HyungHyuk

01 • meeting him

────── ✾ ──────

Faz muito tempo desde a última vez em que estive aqui.

O carro alugado chacoalha na estrada de terra e o cheiro de orvalho molhado me recebe com seu "seja bem vindo" bastante peculiar. É fim de tarde e eu deveria ter chegado muito antes, mas gosto de como os contratempos me ajudam a ter uma desculpa para permanecer por um intervalo maior neste lugar de tão preciosas memórias. Avisto a única casa do terreno, cercado de planícies e com florestas de aparência morta ao fundo; o tom de sépia me dá a impressão de que coloquei um óculos de lentes amareladas e os esqueci de tirar. Estaciono o carro alugado e tiro o celular do bolso para avisar Sojung de que estou vivo e aproveito para esclarecer que o sinal aqui é muito ruim, fazendo-a entender que não deve esperar por contato constante até que minha missão seja cumprida.

Olho para o espelho retrovisor e respiro fundo, me preparando para ir de encontro com o passado mais uma vez. É a quinta tentativa, então o receio parece maior. Ainda que eu seja sempre bem recebido por meu amigo, existe uma barreira que o impede de me permitir ser bem sucedido quando apareço com trabalho nas mãos.

Exatamente porque isso atrapalha o trabalho dele.

Saio do carro e bato palmas para avisar que estou presente. Como habitualmente acontece, ele não vem me receber, mas a porta frontal da casa está aberta num convite silencioso. Caminho até lá, chamando por seu nome, e o encontro no primeiro cômodo amplo perdido em pensamentos enquanto um de seus quadros está pela metade no cavalete.

— Minhyuk? — chamo mais uma vez e ele finalmente me nota, um grande sorriso despontando em seu rosto. Eu o vejo se levantar com rapidez e aproximar-se com igual velocidade, mas antes de me dar um abraço apertado ele repentinamente para e pede permissão para me tocar. — Vá em frente — eu digo, sabendo que ele não quer manchar as minhas roupas de tinta, mas eu não me importo que ele o faça.

Sinto que os seus braços se cruzam em minhas costas e ele é quente, quente como o sol daquele fim de tarde. Toda vez que está tão próximo, tão colado a mim, tenho vontade de pedir para que jamais se afaste, mas não há coragem para transformar esse desejo em palavras audíveis, então ele se vai, separa-se de mim e me olha por inteiro, quase como se quisesse encontrar as diferenças entre este encontro e nosso encontro anterior.

— Eu senti saudades, Wonnie — é assim que ele me chama, apesar de todo o tempo que se passou.

Retribuo com um sorriso, mas a verdade é que também senti a falta dele desde a última vez. Minto. Quase morri de saudade, mas esta é outra das questões que precisam permanecer entaladas em minha garganta.

Estou aqui por um motivo profissional e, quando toco no assunto, é como se o ambiente mudasse de tom: o sépia se transforma em cinza, murcho como o sorriso que se esvai do rosto bonito de Minhyuk. Eu o sigo pelo cômodo, explicando coisas que ele já sabe: que a editora entrou em contato e que ele concordou em nos dar uma entrevista exclusiva, que estou aqui porque ele pode confiar em mim, que jamais irei distorcer quaisquer de suas falas e que esta chance de publicidade irá fortalecer ainda mais a sua carreira já em ascensão. Ele acena com a cabeça a cada item, pois tem noção de que muitos artistas matariam para conseguir uma oportunidade como essa, mas sei que está insatisfeito e que não gosta de se expôr.

Isso piora quando tiro da bolsa um gravador e uma câmera. Na última vez, foi nesse ponto que ele me mandou ir embora e depois me puxou de volta para dentro da casa, pedindo desculpas por não poder colaborar com a entrevista. "Eu quero e, ao mesmo tempo, não quero", foi como ele me explicou, o que valia para muitas outras questões de nossas vidas.

Mas hoje ele não se opõe e puxa uma cadeira para que eu me sente enquanto ele segue em direção à cozinha e coloca água para ferver. Aproveito para tirar também um pequeno bloco de notas e inicio com perguntas que ambos sabemos serem estúpidas, pois são informações que já possuo.