Parte I

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Era pra ser uma oneshot, mas decidir dividir ao meio para não ficar muito grande e cansativo.
Espero que gostem.

Por favor, comentem pra me dizer se gostaram ou não.

Sugestões são bem-vindas

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Alcina Dimitrescu não tinha uma alma gêmea.

Em verdade, tinha cinco anos quando aprendeu sobre almas gêmeas; ela estava brincando de hora do chá com Narcisa, sua melhor amiga e companhia que sua mãe considerava “adequada” para ela, quando esta gritou de surpresa e começou a chorar. Sem saber o que fazer, Alcina correu e gritou pela babá – sua mãe não gostava de ser interrompida enquanto tomava sua segunda ou terceira taça de vinho – enquanto o pânico ameaçava tomar conta dela; ao voltar, encontraram Narcisa ainda chorosa enquanto segurava o joelho e Nanny, como a chamavam, explicou que aquela dor vinha de um menininho muito especial que era sua alma gêmea.

Nanny não explicou muito mais do que isso, disse que a mãe de Narcisa poderia querer explicar melhor, mas como a mãe de Alcina não tinha tanto tempo disponível para gastar com a filha Nanny tomou para si a responsabilidade de explicar-lhe sobre as almas gêmeas.

Todo mundo tinha uma alma gêmea, alguém com quem compartilhar as dores e sentimentos; sempre que sua alma gêmea se machucasse, qualquer coisa que fosse, Alcina sentiria em seu próprio corpo e isso seria a indicação de que em algum lugar um menininho esperava ansiosamente para conhecê-la. Sua mãe foi menos sensível e nada romântica, sua maior preocupação era de que a alma gêmea de Alcina devia ser da mesma posição social que ela, um menino de família rica e tradicional, caso contrário poderia esquecer a possibilidade de casar-se com ele; o nome, disse ela, era muito mais importante do que amor.

Ainda assim, Alcina esperou ansiosamente pelo primeiro sinal. Na altura dos seus cinco anos ainda sonhava em casar-se com o príncipe encantado e morar em um castelo, não havia a menor possibilidade de que sua alma gêmea não fosse minimamente adequada para ela, isso não poderia acontecer.

O tempo passou e nada aconteceu, nenhum arranhão ou joelho ralado, nenhum esbarrão ou mero sinal; cada vez que sua amiga gemia de dor ou chorava, Alcina sentia a inveja e o ciúme borbulhar dentro dela, ainda era muito nova para conseguir identificar tais sentimentos, mas sabia que queria ter o mesmo que sua amiga tinha. Todos lhe diziam para ter paciência, Nanny chegou a cogitar de que enquanto a alma gêmea de Narcisa parecia ser um menininho aventureiro, o de Alcina podia ser cuidadoso justamente para não fazê-la sofrer. Assim, o tempo passou e ela continuou esperando por sua alma gêmea, mas nada aconteceu.

Alcina cresceu sem sentir o que suas poucas amigas sentiam, quando todas elas se sentavam para falar de meninos e como suas almas gêmeas seriam, e mesmo que Narcisa tentasse incluí-la era inevitável sentir-se deslocada. Continuamente, Alcina desdenhava dos gritinhos entusiasmados das “amigas”, repreendia-as por serem escandalosas, mas no fundo sentia inveja delas e desejava que sua alma gêmea fosse menos cuidadosa.

Quando não estava ocupado com a vinícola, seu pai fazia certa questão de passar algum tempo com ela e conversavam sobre isso, era um homem austero mas que entendeu a angústia da filha; não poderia ser diferente, Alcina foi criada por ele como uma princesa, tendo todos os desejos e caprichos atendidos imediatamente. Ele lhe disse que tudo bem não ter uma alma gêmea, que nem todo mundo conseguia encontrar a sua de todo jeito, e que ainda assim Alcina seria muito feliz. Por sua vez, a mãe foi categórica ao afirmar que era melhor assim, um problema a menos em sua vida.

Ao ficar mais velha, Alcina perceberia que sua mãe era uma mulher amargurada que tentava competir com ela pelo amor do seu pai, porque a partir do seu nascimento foi tudo o que importou na vida do velho Lorde Dimitrescu.

Eu sinto você (fanfic Lady Dimitrescu)Onde histórias criam vida. Descubra agora