Capítulo 2 - Surpresas

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Imediatamente, Maria se perdeu em seus pensamentos. A surpresa daquela revelação lhe trouxe uma certa nostalgia; voltou, por um momento, ao um passado distante e esquecido. Agora tudo começava a fazer sentindo. Realmente não era apenas uma impressão, ela já havia transitado por aquele lugar na companhia de sua família. A cabana dos Ibañez, que na verdade pertencia à Patrícia pois Arthur, seu marido, havia lhe presenteado no aniversário de casamento, era o lugar escolhido para o lazer não só da família San Romãn, como também dos Mendizábal e dos Rivero.
Fernando não parava de olhar a mulher sentada ao seu lado, não estava entendendo o porquê daquela atitude. Viu a expressão de Maria mudar assim que pronunciou a palavra "Ibañez". Não quis parecer inconveniente, até porque os dois se conheciam há algumas horas, mas como ele era um homem prestativo, pensou que se soubesse o que estava se passando, poderia ajudar a bela mulher que mexeu com o seu coração.

Fernando: tocando no ombro de Maria – O que houve senhorita? Desculpe, mas estou preocupado, você parece assustada...

Maria: desviando seu olhar da janela e voltando-se para o homem que a tocava - Desculpe, Fernando... apesar de não me conhecer deu pra você perceber que sou um tanto quanto misteriosa e até instável às vezes. – esboçando um meio sorriso- Eu não era assim, acredite. E ao ouvir você pronunciar esse nome, fiquei um pouco sentida. Sabe, eu cheguei a conhecer a família em questão. - pronunciando esta última frase de forma quase inaudível.

Fernando: aparentando surpresa em seu olhar – Jura? O meu pai era um grande amigo do falecido senhor Emiliano. Antes de minha mudança pra Miami cheguei a visitar várias vezes a cabana que você alugou. A família Ibañez só tinha um único herdeiro, Arthur. Eu não o conhecia, pois não morava de fato aqui, passei quase toda minha vida morando na Europa, concluí meus estudos e me mudei pra Miami a fim de cuidar de uma das firmas do meu pai. Mesmo longe do país, fiquei sabendo da tragédia que se passou nessa família.

Maria: confusa- Tragédia? - voltou-se novamente para o homem - Por acaso você está falando do assassinato da esposa de Arthur?

Fernando:  Não só desse caso. Pelo o que fiquei sabendo, Arthur Ibañez era um homem... azarado! Sim, completamente azarado - dando ênfase na palavra. A vida foi bastante cruel com ele, a sua primeira noiva também foi assassinada de forma brutal, a jogaram de uma varada. E vejam só, cinco anos depois a esposa é assassinada com um tiro a queima roupa. Ele deve ter sofrido tanto... quanta falta sorte!

Maria:  franzido as sobrancelhas enquanto falava- Estranho... você fala de Arthur com um certo saudosismo, como se ele já estivesse...

Fernando: completando a frase de Maria - Morto? Pois sim! Arthur Ibañez morreu fazem vinte anos. Na verdade, a polícia especulou na época que se tratava de um suicídio... pelo visto você nunca morou aqui, não é? Porque o caso foi bastante repercutido... - analisando meticulosamente a expressão de tristeza que preencheu o rosto de Maria

Maria: olhando para qualquer lugar do para-brisa – Eu morava na capital, mas por questões pessoais me mantive fora do país por vinte anos. Por isso a surpresa com a notícia, não a esperava... sinceramente - com o último fio de voz que lhe restava.

Fernando: percebendo a situação incomoda que havia criado- Poxa, me perdoe. Pela sua reação, presumo que você era bastante amiga da família.

Maria: tentando mudar de assunto- Não se preocupe, de qualquer forma,  eu teria que saber da notícia em algum momento. - dando uma pausa e respirando fundo- Bem... acho que já podemos ir, não é mesmo? Parece que já está ficando tarde e estou com a roupa encharcada, não quero pegar um resfriado. E muito mesmo quero que você fique doente.

Fernando:  girando a chave do carro – Vamos! Não estamos mais tão longe assim da cabana.

Uma única palavra resumia Maria naquele momento: tristeza. Como Arthur poderia está morto? Será que realmente ele havia se matado? Porque se isso realmente tivesse acontecido, Maria iria se sentir culpada pelo resto de sua vida. Ela sabia que não havia matado a esposa do senhor Ibañez, mas tinha certeza da grande dor que ele sentiu ao saber que a mãe de seu filho estava morta, que a mulher que tanto venerava e amava nunca mais estaria ao seu lado. Esses eram motivos suficientes para nunca mais querer viver. Apesar dos problemas no casamento, que eram constantes devido à falta de atenção de Patrícia e sua indiferença, Arthur acreditava que as coisas entre eles iriam mudar, que o amor poderia renascer. Por isso planejou aquela viagem para Aruba. Ah, maldita Viagem! Se pelo menos por uma única vez Maria pudesse mudar algo em seu passado, sem dúvida nenhuma nunca teria aceitado o pedido de seu marido, mas como ela fazia de tudo para agradá-lo e vê-lo feliz, deixou de lado os pressentimentos que a alertavam sobre os perigos daquela viagem.

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