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Maraísa Henrique

Era incrível ver como aquela garota cheia de atitude ficava frágil quando bebia demais.

Eu sabia bem quem era Marília Mendonça, filha dos advogados bem sucedidos e donos da metade da cidade. E eu? Bem, eu não tinha nada. Eu não queria trazer Marília para a minha vida assim, mas ela estava jogada em uma varanda qualquer bem próxima da minha casa e então eu tive que cuidar dela.

Marília deveria morar em uma mansão enorme, cheia de luxo e a minha casa era totalmente simples comparada a dela. Mas ela parecia não se importar e isso me deixava feliz.

- Você mora sozinha? Ela perguntou enquanto olhava em minha volta.

- Com a minha avó e minha irmã mais nova.

- E seus pais? - A encarei por alguns segundos e ela riu fraco. Pergunta invasiva, me desculpe.

Dei de ombros e fui até a cozinha. Minha avó tomava alguns remédios fortes e já estava na hora. Fiquei com um certo receio de deixar Marília sozinha, mas sabia que ela não faria nenhuma besteira e então saí da sala, caminhando pelos corredores enquanto procurava o quarto da minha avó.

Ela estava deitada na cama
- como sempre -
enquanto olhava para um ponto aleatório fixamente. Minha avó possuía uma doença cardiovascular e um parada cardíaca poderia acontecer a qualquer momento e isso nos preocupava muito. Meu pai havia morrido pouco tempo depois de Emma nascer e minha mãe resolveu fugir já que olhar para nós a deixava triste por lembrar do marido. Então nós só tínhamos a minha avó.

Eu já era maior de idade e por isso a guarda de Emma poderia ficar pra mim que era eu mesmo quem passava a maior parte do tempo com ela, pois, nossa avó não tinha condições nem mesmo de se levantar da cama.

-Maraísa. - ela me chamou baixinho e eu sorri.

- Oi, vovó! - Coloquei a água em um copo e separei o comprimido da cartela.

- Quem está aí? Escutei uma voz feminina. - Ela sorriu. Minha avó só falava lentamente e num tom extremamente baixo, então eu precisava me aproximar para escutar.

- É uma... garota que eu conheci no final de semana. Ajeitei o travesseiro enquanto a ajudava a se levantar.

- Hm... Ela é bonita? Sorri enquanto colocava um comprimido em sua boca e em seguida servia a água para que ela engolisse.

Sim, vovó. Mas ela não é nada minha e eu não gosto dela. Ri enquanto acariciava seus cabelos brancos.

- A vida é curta de mais para se prender desse jeito, Maraísa. Ela me encarou. —Você é muito bonita. Deveria aproveitar isso.

Sorri e então me levantei. Ajudei minha avó a se deitar novamente e então dei um beijo no topo de sua cabeça enquanto observava ela fechar seus olhos lentamente.

Eu tinha muito medo de perder
a minha avó, mas eu sabia que isso iria acontecer a qualquer momento e eu precisava me preparar logo. Por mais doloroso que fosse.

Fechei a porta do quarto lentamente para que não fizesse um barulho que pudesse a acordar e então voltei para a sala vendo que agora haviam duas garotas no sofá e que riam. Emma era uma garota bastante sociável e que fazia amizade bem fácil. Mas não imaginava que ela seria tão rápida com Marília.

- Maraísa, sua amiga é muito legal. Ela vai dormir aqui hoje. Encarei Emma com os olhos  arregalados.

- Vai? Marília assentiu. - O que o seu pai acha disso?

Na verdade ele não se importa com os lugares onde eu passo a noite. Ela deu de ombros.

Então está decidido, Marília dorme aqui hoje! - Emma sorriu animada.

Marília me encarou com um sorriso maldoso e se não fossem seus olhos inchados, nem mesmo iria parecer que ela estava chorando a alguns minutos atrás.

Eu não conseguia entender o que Marília queria comigo e isso me assustava um pouco, mas eu precisava parar com tanta paranóia. E precisava também manter Marília o mais longe possível de mim.

CONTINUE

pizza girl - malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora