Prólogo

5 1 0
                                    


 
   Nível Perseu - Cidade de Saber           
       Superfície Lunar - Ano 2054

        
Pessoas andavam de um lado ao outro, tão absortas em suas questões que mal tiravam os olhos das telas em suas mãos, o som de passos e conversas distantes tomava o ambiente. O porto sempre fora o principal ponto de Saber, dali, se seguia os túneis de acesso para as outras partes da cidade. Na plataforma, veículos de carga e descarga encostavam com frequência e embora estivessem na lua e em teoria fosse frio, o porto era de longe o lugar mais quente da Saber.

O porto era uma plataforma suspensa, havia um portão que separava a área de pouso dos civis, os portões eram guardados por soldados, e havia uma proteção térmica para evitar que os propulsores das aeronaves torrassem algo ou alguém, além disso, elas tinham que ficar totalmente dentro da área de pouso, para que a comporta se fechasse e fosse preenchida com oxigênio, as comportas eram feitas de aço maciço, controladas de forma automática por um sensor que identificava quando uma aeronave tinha pousado, ao todo, o porto podia ter até três delas na área de pouso, o resto deveria rodear até que o espaço fosse liberado.

Jessie subia as escadas do túnel de acesso ao nível Perseu, estava apressada pois tinha que estar no porto por volta das dez horas do horário diurno para ajudar a descarregar um dos veículos que iria atracar naquela manhã. Jess trabalhava no serviço de transporte de encomendas, tinha acesso total a tudo que chegava na Saber por meio dos veículos, grandes aeronaves cinzas com propulsores grandes o suficiente para abastecerem uma cidade grande da terra, o F-29 era o mais recente modelo de aeronaves de carga, equipado com um casco blindado e armamentos de segurança para evitar roubos à carga.

Enquanto subia os degraus, Jess olhou para o pulso, a tela em sua pulseira mostrou que horas eram, estava atrasada e se apressou para chegar. Ao último degrau, Jessie observou o movimento no porto, havia uma fila grande perto da plataforma, eram trabalhadores responsáveis pela manutenção do sistema de oxigênio da cidade, uma grande construção um pouco afastada da Saber, de onde era gerado todo o oxigênio que a cidade necessitava, esperavam o veículo que os levaria para lá, metade deles iriam para o Celeiro, onde consertavam as aeronaves, cargueiros ou militares, ficava à parte da cidade justamente por serem grandes e precisarem de espaço.

Ela voltou a andar, abrindo caminho pelas pessoas que iam e vinham, o fluxo havia diminuído um pouco, entretanto, ainda eram muitas as pessoas que ali transitavam. Enquanto andava, Jess sentiu sua pulseira vibrar e ao olhar para o visor, viu o nome de sua mãe brilhando, ela colocou um comunicador no ouvido e deu dois toques, ouvindo a voz de sua mãe do outro lado.

— Oi filha! Como está? — Perguntou ela.

— Bom dia mãe, estou bem, indo para o porto agora, vai chegar um carregamento e preciso estar lá, depois me envie tudo que preciso pagar, serei paga hoje e vou quitar algumas das dividas.

— Não precisa fazer isso Jessie, eu e seu pai estamos nos virando, vamos conseguir.

Jessie revirou os olhos, era sempre assim. Os pais de Jess moravam na área residencial do nível Perseu, a Sul do Porto, um pouco mais abaixo, conectado por uma escada com aproximadamente trinta degraus, aquela não era uma área ruim para se morar e por isso as taxas exigidas eram altas, porém, eles não tinham dinheiro suficiente para manter a residência e nem muitos menos para pagar uma viagem de volta para a terra, viver na Saber exigia alto investimento e pouco retorno, considerando que as opções de trabalho eram escassas, claro, podiam trabalhar no Celeiro, ou na Bolha, onde ficava o sistema de refrigeração e oxigênio da cidade.

De longe os trabalhos mais bem remunerados envolvia se arriscar muito, ou se esforçar mais que o possível, aqueles que trabalhavam no porto tinham uma vida confortável, os pilotos mais ainda, e o serviço de segurança era o melhor, alguns recebiam tanto que chegavam a morar no nível Afrodite, o mais alto e luxuoso da Saber, Jessie recebia o suficiente para conseguir ajudar os pais, porém, estes achavam que se aproveitavam demais da moça, Jess por outro lado, achava justo, uma vez que seu pai não fosse lá muito jovem para conseguir um trabalho melhor do que consertar alguns eletrônicos.

Saber: A Inquisição Onde histórias criam vida. Descubra agora