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— Camilo, desde que eu te conheci no riacho, apesar de ter sido há alguns meses atrás, você foi a única pessoa que conseguiu me fazer sorrir. Eu admiro muito como você se dedica a ajudar as pessoas... mas talvez tenha que enxergar que você não precisa ser elas para que as pessoas te amem... eu só queria dizer que... eu...

O garoto levanta sua cabeça, encarando a imagem do devastado e inabitado mar no fundo de meus olhos. Seus cílios projetavam uma mescla de cores esverdeadas em sua íris, tornando minha mente repleta de pensamentos e preocupações em um espaço branco, em literalmente, um piscar de olhos. Com um pesado suspiro, pude sentir minha garganta contendo as borboletas na boca de meu estômago. Meus lábios queimavam, me coagindo a dizer o que temi por tanto tempo.

— Camilo... há tantas coisas que gostaria de lhe dizer agora, mas não faço ideia por onde começar. O seu jeito meigo me encanta, como consegue lidar com tudo apenas estampando um calmo sorriso em seu rosto, seus olhos são os mais puros e belos do que os de qualquer garoto em toda vila. Apesar de que isso seja algo em que você não precisa se preocupar, até porque você poderia ser qualquer um deles. Mas nenhum deles pode ser você. — As sobrancelhas ansiosas do garoto se ergueram completamente. Sua expressão poderia me fazer choramingar, porém já era tarde para voltar. Camilo assentiu com sua cabeça, como se estivesse me pedindo para seguir com minha confissão, seus leves cachos iam tomando forma com seus sentimentos. Novamente, respirei fundo, quase ofegante, e segui em frente. — Desde quando o conheci no riacho, sua ruana nunca foi tão clara de descrever ou diferenciar entre todas as cores da vila. Quando me percebia na multidão e me seguia com seu claro e perfeito sorriso, meu coração se desmontava e remontava a cada passo que dava ao se aproximar. A cada dia, peça por peça, tão difícil de compreender, mas tão fácil de presenciar. Às vezes me flagrava te observando ao caminhar pelas ruas, apenas parava quando você acenava para mim, me trazendo de volta para a realidade. Aquele sentimento considerado uma admiração cresceu, em uma quantidade maior do que meu coração poderia aguentar. Se tornou amor. Me fez perceber que estou apaixonado por você, ciegamente enamorado de ti, Camilo Madrigal. Sei que não sou tão incrível quanto qualquer um que convive no seu dia-a-dia, pois não sou como nenhum dos Madrigal. Sei que uma porta nunca irá brilhar para mim, mas acho que isso não me impede de o amar, certo? Só quero que saiba que meu coração é tão forte quanto qualquer magia em todo Encanto, mas ele tem esperado um milagre para o salvar há muito tempo. Espero não estar sendo muito sonhador, ou muito menos realista, pois afinal de contas, sempre serei uma mero camponês, sendo comparado a você ou não, e no momento, em uma situação reputada como miserável, apaixonado por um Madrigal.

Disse tudo em um tom acelerado, meu rosto estava tão vermelho quanto as asas de uma joaninha. Precisei de alguns segundos para recuperar o fôlego, também a coragem. Camilo estava em choque, seu rosto estava se deformando, como um camaleão se camuflando quando pego de surpresa. Assim que o garoto percebeu, balançou sua cabeça, voltando a sua detalhada e casual feição. Suas bochechas avermelharam-se, atingindo um ponto de me lembrarem os morangos que colhia nas manhãs de maio. Ele posicionou sua mão direita sobre seu nariz e lábios, escondendo sua reação. Como no primeiro dia que nos "conhecemos", abriu e fechou sua boca, com palavras entaladas em sua garganta. Suas sobrancelhas se moviam rapidamente, em ritmo apertado, expressando um sentimento impossível de se descrever com palavras.

— [nome], isso é... verdade? — Assenti com minha cabeça várias vezes em poucos segundos, com um olhar aterrado. Camilo colocou suas mãos em meus ombros. O silêncio da noite era calmo e melancólico, poderia ser até considerado romântico. O garoto sorriu ao ver meu olhar surpreso com seu movimento, suas sardas se levantaram e seus olhos esverdeados quase se fecharam, porém permaneceram abertos analisando minhas reações, eram quase tristes. — Não demorei muito tempo para perceber que é a pessoa com que mais me divirto quando estou ao seu lado, me sinto bem. Seu sorriso, suas piadas, histórias que me conta, são tudo que eu preciso para subsistir as suposições embaralhadas que guardava para mim mesmo. Com o tempo, percebi que nunca soube o que era o amor, mas quando penso no que sinto por você, é tão fácil de se descrever. Mas, eu não entendo, eres lo chico más perfecto de todo el pueblo, poderia ter qualquer um... você é um cavalheiro, e eu sou apenas um garoto. Você é incrível, [nome], é tão bondoso que todos se alegram quando estão a sua volta, tão bonito que brilha ao andar pela vila, tenho certeza de que é mais especial do que qualquer Madrigal. E o que sinto por você... números não poderiam descrever essa quantidade, muito menos palavras....

Camilo engoliu seco, coçando sua nuca. Havia um olhar preocupado em seu rosto, como se aguardasse ser rejeitado. Suas mãos apertavam cada vez mais meus ombros, mas era algo suave, como se não estivesse percebendo o ato. O garoto suspirou e olhou no fundo de meus olhos.

  — Eu pertenço a ti, [nome], sempre pertenci. Nunca consegui desviar meu olhar quanto te via por perto, como um colírio para os olhos, mais belo do que qualquer um. Seu sorriso e sua felicidade contagiante eram o que eu tinha e tenho esperança de ver todos os dias, esperança de lhe ver mais uma vez, o garoto da cesta de morangos. E hoje percebo que sou um tolo por nunca ter dito isso, pode até achar que estou brincando, mas é mais brilhante do que qualquer Madrigal, seja sua força, seu amor, sua bondade, você sempre conseguiu roubar minha atenção. Eu te amo, [nome], sempre te amei. — O garoto subiu suas mãos e as colocou em meu rosto, o acariciando. Eu sorri, com uma lágrima escorrendo em minha bochecha.

Trocamos olhares apaixonados por alguns segundos, seguidos por olhares em direção aos lábios dos dois adolescentes. Pude sentir minha respiração pesada e meu coração se acelerando quando minhas bochechas se aqueceram em uma leve tonalidade de vermelho. Nossos rostos se aproximaram lentamente, estava quase em minhas pontas do pé ao acompanhar o garoto. Fechei meus olhos e por fim, selamos nossos lábios delicadamente em um inocente e calmo beijo, Camilo colocou suas mãos em minha cintura, me puxando em direção ao seu corpo, ainda naquele momento inolvidável, cujo apenas foi separado pela falta de oxigênio do casal. Camilo sorriu, ofegante, calmamente encostando sua testa na minha. Meus pés se encostaram no chão lentamente, senti a grama em minhas canelas, marcando meu primeiro e único amor no jardim de vagalumes.

Eres a quien amo, y siempre lo haré, hermoso.

Também te amo, Camilo.

ੈ✩ ⭟ - o jardim de vagalumes, camilo madrigal e leitor ༉‧₊˚ Onde histórias criam vida. Descubra agora