Prólogo

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Encarar. Aguardar.

Sobretudo no dia de clima duvidoso e de céu escuro, apesar das condições temporais, não foi o suficiente para impedir que Lana fosse consumida por um anseio causado em parte pela sequência de ciclo vicioso dessas ações, encarar e aguardar. Tudo o que a doce garota fazia ou focava no momento era o visor de seu aparelho celular.

A cada segundo que passava, mais o barulho incessante das gotas de chuva caindo pareciam querer perfurar toda e qualquer superfície existente, desde o chão até a cobertura de metal. A baixinha tinha a sensação de que poderia escutar a metros de distância nitidamente esse som que se assemelha a um prego sendo inserido dentro de uma madeira, invadindo seu juízo com muito incômodo, assim como o ar tinha seu tom frio elevado sob as bochechas agora rosadas devido a tamanhas circunstâncias.

Ainda que tudo isso fosse algo ao qual Lana normalmente não consegue ignorar, a espera da chamada parecia muito mais importante do que sua ansiedade pelos barulhos e sensações desconfortáveis. O problema é que, a garota não poderia mudar o que aconteceria, encarar tanto o celular apenas deixaria sua visão fadigada e não traria a tão aguardada ligação que ela precisava, e sim, a mesma tem completa consciência disso e mesmo assim não consegue mudar o foco.

Aguardar… aguardar

Repetia em um som quase inaudível – até mesmo porque sua única companhia no momento eram as condições climáticas. "Você pode aguardar a minha ligação? Estarei sem internet", disse sua melhor amiga mais velha poucas horas antes do atual cenário que a jovem se encontrava.

Lana obedeceu de maneira fiel mesmo que a frase não devesse ter tanta relevância assim, pelo menos não foi proferida de forma tão séria como ela estava levando, seu entendimento mais uma vez a abandonou naquele momento, na verdade sequer esteve presente, mas de uma coisa não estava errada: realmente a única opção que tinha para fazer era esperar notícias, já que sua carona havia sumido e não poderia voltar a pé para casa sozinha desse jeito.

As duas pequenas mãos seguram o celular como se a chuva fosse o derrubar, a essa altura algumas gotas que haviam escapado com força da cobertura atingiram o visor, Lana mal pisca, e não demora para que comece a mexer o pé para a esquerda e para a direita formando um ângulo de 180 graus com o calcanhar como se tentasse esmagar um inseto no chão. Após longos minutos de agonia, o nome finalmente brilha em seu aparelho e ela, em fração de segundos, agarra sua mochila e levanta do banco indo imediatamente em direção a entrada da escola para finalmente se abrigar daquela chuva que, não a atingia mas ainda tinha grandes efeitos colaterais nela.

Deslizou o dedo no botão verde e levou o celular ao ouvido enquanto fazia ansiosa seu trajeto, em questão de segundos, a voz que já estava esperando ecoou pelo auto falante.

Ao longo do corredor do colégio Grant High, de longe, era possível ver a sombra pequena de cabelos longos e castanhos andando a passos largos, a franjinha se esvoaçando por tamanha pressa, olhando para o relógio de pulso com certa preocupação, qualquer um que visse a cena diria que se trata nitidamente de uma desesperada aluna atrasada que não consegue se adiantar com suas pernas tão curtas. A garota arrumou a bolsa em seu ombro com dificuldade por sua velocidade ao andar tendo que carregar livros tão pesados, além de uma mochila que no momento a fazia sentir que o tamanho é totalmente inadequado para seu uso, se atrapalhava cada vez mais sem a sua coordenação – ao qual já era péssima e decidiu simplesmente sumir quando mais precisa.

O lado bom… é que ainda não havia tropeçado.

— Selah, eu já estou quase na porta da biblioteca, você vai poder vir, não vai? – a baixinha questionava relutante ao telefone checando a placa na parede para ter certeza de que estava no lugar certo, apesar de já ter feito aquele caminho várias vezes não queria acabar indo parar na sala errada e chamando atenção demais para si por pura distração ao telefone, e isso era bem a sua cara tendo em vista tamanho azar que leva consigo desde que se entende por gente. Lana não estava mais nem prestando atenção nos corredores que entrara desde que sua amiga atendeu o telefone.  — Tudo bem... – suspirou antes de continuar — Entendo que não possa vir, é-é completamente normal. – sua voz meiga soltou.

An Unexpected Cliche LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora