CAPÍTULO III

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Anne's POV

O resto daquela manhã e o início da tarde foram tomados por Júlia e Sophia fazendo perguntas sobre os detalhes mais sórdidos do que havia acontecido entre mim e o Bruno na noite anterior.

- Pelo amor de Deus, até parece que vocês não sabem tudo. Vocês fazem a mesma coisa todos os dias - Falei desanimada.

- Mas nenhum cliente ficou na minha cama até o dia seguinte. - Júlia falou.

- Principalmente um cliente como o Bruno. - Sophia completou.

- Ele devia estar cansado.

- Qual é, Ninha. Um homem não dorme na cama de uma puta a não ser que esteja bastante confortável.

- Sophia, se ele estava confortável ou não, eu não sei. Mas não deve ter sido a primeira vez que ele fez isso.

- Bom, - começou Júlia - Pelo menos aqui ele nunca fez isso. Com nenhuma de nós.

Senti-me subitamente de bom humor, o que tentei não relacionar ao fato de saber agora que estava, de certo modo, em um patamar diferente das outras dezenas de mulheres daquela casa.

Mesmo animada, tentei mudar de assunto. Precisava ficar sozinha.

- Bem, vou dar uma volta. É sábado, nada de clientes para me azucrinarem. Vou aproveitar a paisagem.

- Mas ainda está chovendo.

- Ótimo. Menos pessoas na rua pra ficarem olhando pra mim.

Às cinco da tarde eu já saía da Casa de Rayana com minha bolsa-mochila no ombro, vestindo um casaco vermelho desbotado, calças jeans skinny e um par de tênis velhos.

Eu não tinha guarda-chuva, mas não precisava. Estava chuviscando e as pequenas e finas gotas não me incomodavam. Ao contrário, eram bastante agradáveis. Constatei que as nuvens estavam pesadas e os trovões estavam cada vez mais freqüentes, então corri para não pegar o dilúvio que eu sabia que viria.

Peguei o capuz do casaco para cobrir a cabeça e caminhei até o ponto de ônibus. Queria ir ao parque do outro lado do bairro, respirar novos ares. Assim que cheguei, corri para umas das muitas mesas redondas de madeira cobertas por telhas vermelhas. Como não ventava, consegui me proteger da chuva ali.

Era um lugar calmo e, obviamente, estava vazio. Pelo pouco das ruas e casas que consegui analisar, pode constatar que era um bairro de pessoas no mínino bastante ricas.

Tirei meu livro, um dicionário e uma caneta do bolso, colocando tudo em cima da mesa e sentando em um dos quatro tocos de madeira que serviam como bancos. Graças ao Bruno, tive que procurar por algum tempo a página na qual havia parado a leitura. Sentindo o cheiro e ouvido o barulho da chuva, consegui relaxar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. Tudo parecia tão cassino e fácil. O lugar era lindo, a grama era bem aparada, de um verde vivo. As gotas, agora mais grossas e em maior quantidade, caíam pesadamente na superfície do enorme lago que ficava no centro do parque. Aquela atmosfera me contagiava e, naquele momento, aquele lugar era o melhor lugar do mundo para se estar.

Vi alguém correndo através da espessa cortina de chuva, se abrigando em uma das mesas cobertas que ficava do outro lado do parque. Sorri sem nenhum motivo. O homem, como pude constatar depois de alguma análise, retirava seu casaco de couro e balançava seus cabelos molhados como um cachorro que acabara de sair do banho.

Voltei meu olhar para o livro e retomei a leitura. Poucos minutos depois meu celular emitiu um som fraco e moribundo, me avisando que a bateria tinha se esgotado.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora