— Bem, sente. Precisamos conversar algumas coisas. Como já deve saber, sou a chefia deste departamento policial. Amanda Garcia.
Amanda voltou a sentar na poltrona.
Fitou atentamente os olhos da investigadora.Quantos anos tinha? Diria que, no máximo, uns 36 anos.
— Sim. Sei quem a senhora é.
Suzane olhava para cada canto daquelela sala. Tudo era muito neutro, rústico, nada extravagante ou rebuscado. Era um lugar tão frio quanto os olhos daquela mulher.— Seu antigo chefe me disse que era uma mulher bastante competente e capaz de seguir os rastros de um assassino como ninguém.
Amanda ajeitou o blazer preto ao corpo e olhou algo em uns papéis sobre sua mesa.
— É muito bom ouvir isso, doutora. Eu e meu antigo chefe éramos grandes amigos.
Amanda franziu o cenho e a encarou.
— Jamais confunda trabalho com vida pessoal, investigadora. — Falou, firme. — Quero lhe adiantar que não estamos aqui para sermos “amiguinhas”, mas apenas para fazermos o nosso trabalho.
Ao falar de maneira tão indigente e fria Amanda viu o par de olhos azuis se contraírem de um jeito triste, mas não se comoveu com aquilo. Detestava a doçura e a meiguice que observava naquela mulher. Queria mesmo dela era a competência, nada mais.
Se tinha algo que Amanda aprendera com os seus amargos anos de experiência no casamento e no trabalho fora a ser indiferente a sentimentos.
Não raro falava de sua vida pessoal com ninguém, a exceção de seu pai, que além disso era um grande ouvinte e amigo.
Sempre que chegava àquele departamento policial ouvia murmúrios nos corretores e tinha certeza de que o que falavam sobre si ali não era nada bom, mas ela não costumava dar a mínima para isso. Importava-se sim em fazer seu trabalho bem feito e no fim do dia poder dizer que sentia orgulho de si mesma. Quanto aos sentimentos alheios, eram-lhe apenas pura indiferença. Nada além.
Ninguém naquele departamento ousava lhe entreter ou contradizer suas ordens.Por trás de suas costas podiam fazer o que quisessem, mas não na sua frente.
Estavam ali para lhe obedecer e tinham de fazê-lo, quer gostassem, quer não.
E aquela mulher à sua frente teria de fazer o mesmo ou escreveria uma carta ao máximo escalão informando sobre sua incompetência e que não a aceitaria no departamento sob sua chefia.— Não quis me expressar mal. Não foi o que sugeri.
— O quê?
Amanda franziu o cenho.
— Que fôssemos amigas. Sei que é minha chefe, por lei, mas manter bons relacionamentos no ambiente de trabalho facilita bastante as coisas. Não se pode ser indiferente a tudo, doutora.
— Suzane observava o rosto inexpressivo e os olhos sem emoção. Cogitou que seria muito difícil trabalhar com Amanda Garcia e quebrar o gelo. Olhou-a no fundo dos olhos e fez um ar de riso, mas não recebeu outro de volta. — Sua sala é linda. — Ainda se olhavam nos olhos. — Mas existem alguns detalhes em vermelho que se sobressaem.
— O vermelho não é palpável.
— Eu sou investigadora. Meus olhos são mais aguçados que os de outras pessoas.
— Espero que sejam tão aguçados que cheguem a ser capazes de ver o que muitos de nós não veem.
— Como, por exemplo, a frieza imensa que vejo em seus olhos, o espelho do seu coração?
— Esforce-se em desvendar o assassinato, não a mim. — Falou demonstrando certa irritação.
Amanda levantou e foi até um armário de mogno. Pegou alguns envelopes.
Suzane apenas a observava em silêncio. Ela estava de costas. Vestia um terninho feminino, preto, e sapatos de salto. Aquelas roupas formais a deixavam bastante elegante, mas ainda mais séria do que já aparentava. Será que aquela mulher tinha um coração? Ou talvez o tempo o tivesse destruído? Pensava Suzane.— Não quis aborrecê-la. Foi apenas uma brincadeira, uma observação.
Amanda se virou para encará-la.
— Devia saber que neste departamento não estamos para brincadeira, investigadora. — Passou por Suzane deixando o cheiro do seu perfume no ar. Voltou a sentar na poltrona.
Suzane fez um ar de riso. Estava muito sem jeito e começando a achar que fora um grande erro ter sido transferida de seu antigo posto para trabalhar com aquela mulher.Ela era grossa e arrogante de mais.
— A moça era prostituta. Isso, por si só, já explica muita coisa.
Suzane disse, de repente, surpreendendo Amanda.
— Como tem conhecimento disso? — Questionou Amanda.
— A cidade é pequena. As más notícias se espalham muito rápido.
— Ok. Quero que leve isso para sua sala e dê uma estudada. Recolhemos algumas informações sobre a vítima, porém, falta o resultado da autópsia/necropsia. Só assim saberemos de algo mais.
Uma batida na porta as interrompeu.
— Entre.
Amanda falou, sem levantar a cabeça.
Um dos policiais entrou na sala dela.— Com licença, doutora Amanda.
— Sim?
— O médico-legista deseja falar com a senhora.
— Diga-lhe que já estou indo.
O policial assentiu e se retirou fechando a porta atrás de si.
Amanda levantou de sua poltrona, apressadamente, na qual há pouco estivera conversando com Suzane.
— Venha comigo. — Falou, de maneira quase glacial.
Suzane se levantou e caminhou junto com a delegada até a sala onde estava sendo feita a autópsia no corpo da vítima do brutal assassinato.
— O que houve, Herbert? — Perguntou, séria, ao legista, enquanto seguia até onde estava o cadáver feminino.
— A senhora precisa ver isso, doutora Amanda.
— Mostre-me.
O legista retirou um pano branco, que cobria o cadáver, e pediu para que Amanda olhasse um versículo bíblico escrito na pele da vítima, próximo à virilha.
Amanda olhava atentamente para o versículo escrito na pele cadavérica.
Oséias 9:1
— Provavelmente, foi feito com um objeto perfurocortante, uma lâmina de barbear, um bisturi, talvez. — Esclareceu o legista.
— E o que isso significa? — Amanda perguntou num empinar de queixo, olhando diretamente nos olhos de Suzane.
***
Boa noite, meninas!
Atualizada!
Bom domingo!
Possivelmente, amanhã ou depois atualizarei O Que a Vida Me Roubou.
Bjs,Thaa
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Killer (LÉSBICO - DISPONÍVEL NO AMAZON)
General FictionSinopse: No ano de 1967 uma pequena cidade do interior de São Paulo começa a ser aterrorizada por uma série de brutais assassinatos de mulheres. Um serial killer parece escolher suas vítimas cuidadosamente. Preocupado com o teor da situação, o...