Capítulo 3 - O Versículo

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— Bem, sente. Precisamos conversar algumas coisas. Como já deve saber, sou a chefia deste departamento policial. Amanda Garcia.

Amanda voltou a sentar na poltrona.
Fitou atentamente os olhos da investigadora.

Quantos anos tinha? Diria que, no máximo, uns 36 anos.

— Sim. Sei quem a senhora é.
Suzane olhava para cada canto daquelela sala. Tudo era muito neutro, rústico, nada extravagante ou rebuscado. Era um lugar tão frio quanto os olhos daquela mulher. 

— Seu antigo chefe me disse que era uma mulher bastante competente e capaz de seguir os rastros de um assassino como ninguém.

Amanda ajeitou o blazer preto ao corpo e olhou algo em uns papéis sobre sua mesa.

— É muito bom ouvir isso, doutora. Eu e meu antigo chefe éramos grandes amigos.

Amanda franziu o cenho e a encarou. 

— Jamais confunda trabalho com vida pessoal, investigadora. — Falou, firme. — Quero lhe adiantar que não estamos aqui para sermos “amiguinhas”, mas apenas para fazermos o nosso trabalho. 

Ao falar de maneira tão indigente e fria Amanda viu o par de olhos azuis se contraírem de um jeito triste, mas não se comoveu com aquilo. Detestava a doçura e a meiguice que observava naquela  mulher. Queria mesmo dela era a competência, nada mais.

Se tinha algo que Amanda aprendera com os seus amargos anos de experiência no casamento  e no trabalho fora a ser indiferente a sentimentos.

Não raro falava de sua vida pessoal com ninguém, a exceção de seu pai, que além disso era um grande ouvinte e amigo.

Sempre que chegava àquele departamento policial ouvia murmúrios nos corretores e tinha certeza de que o que falavam sobre si ali não era nada bom, mas ela não costumava dar a mínima para isso. Importava-se sim em fazer seu trabalho bem feito e no fim do dia poder dizer que sentia orgulho de si mesma. Quanto aos sentimentos alheios, eram-lhe apenas pura indiferença. Nada além.
Ninguém naquele departamento ousava lhe entreter ou contradizer suas ordens.

Por trás de suas costas podiam fazer o que quisessem, mas não na sua frente. 
Estavam ali para lhe obedecer e tinham de fazê-lo, quer gostassem, quer não.
E aquela mulher à sua frente teria de fazer o mesmo ou escreveria uma carta ao máximo escalão informando sobre sua incompetência e que não a aceitaria no departamento sob sua chefia.

— Não quis me expressar mal. Não foi o que sugeri.

— O quê?

Amanda franziu o cenho.

— Que fôssemos amigas. Sei que é minha chefe, por lei, mas manter bons relacionamentos no ambiente de trabalho facilita bastante as coisas. Não se pode ser indiferente a tudo, doutora.

— Suzane observava o rosto inexpressivo  e os olhos sem emoção.  Cogitou que seria muito difícil trabalhar com Amanda Garcia e quebrar o gelo. Olhou-a no fundo dos olhos e fez um ar de riso, mas não recebeu outro de volta.  — Sua sala é linda. — Ainda se olhavam nos olhos. — Mas existem alguns detalhes em vermelho que se sobressaem.

— O vermelho não é palpável.

— Eu sou investigadora. Meus olhos são mais aguçados que os de outras pessoas.

 — Espero que sejam tão aguçados que cheguem a ser capazes de ver o que muitos de nós não veem.

— Como, por exemplo, a frieza imensa que vejo em seus olhos, o espelho do seu coração?

— Esforce-se em desvendar o assassinato, não a mim. — Falou demonstrando certa irritação.

Amanda levantou  e foi até um armário de mogno. Pegou alguns envelopes.
Suzane apenas a observava em silêncio. Ela estava de costas. Vestia um terninho feminino, preto, e sapatos de salto. Aquelas roupas formais a deixavam bastante elegante, mas ainda mais séria do que já aparentava. Será que aquela mulher tinha um coração? Ou talvez o tempo o tivesse destruído? Pensava Suzane.

  — Não quis aborrecê-la. Foi apenas uma brincadeira, uma observação. 

Amanda se virou para encará-la.

— Devia saber que neste departamento não estamos para brincadeira, investigadora. — Passou por Suzane deixando o cheiro do seu perfume no ar. Voltou a sentar na poltrona.
Suzane fez um ar de riso. Estava muito sem jeito e começando a achar que fora um grande erro ter sido transferida de seu antigo posto para trabalhar com aquela mulher. 

Ela era grossa e arrogante de mais.

— A moça era prostituta. Isso, por si só, já explica muita coisa.

Suzane disse, de repente, surpreendendo Amanda.

— Como tem conhecimento disso? — Questionou Amanda.

— A cidade é pequena. As más notícias se espalham muito rápido. 

— Ok. Quero que leve isso para sua sala e dê uma estudada. Recolhemos algumas informações sobre a vítima, porém, falta o resultado da autópsia/necropsia. Só assim saberemos de algo mais.

Uma batida na porta as interrompeu. 

— Entre.

Amanda falou, sem levantar a cabeça. 
Um dos policiais entrou na sala dela.

— Com licença, doutora Amanda.

— Sim?

— O médico-legista deseja falar com a senhora.

— Diga-lhe que já estou indo.

O policial assentiu e se retirou fechando a porta atrás de si.

Amanda levantou de sua poltrona, apressadamente, na qual há pouco estivera conversando com Suzane.

— Venha comigo. — Falou, de maneira quase glacial.

Suzane se levantou e caminhou junto com a delegada até a sala onde estava sendo feita a autópsia no corpo da vítima do brutal assassinato.

— O que houve, Herbert? — Perguntou, séria, ao legista, enquanto seguia até onde estava o cadáver feminino.

— A senhora precisa ver isso, doutora Amanda.

— Mostre-me.

O legista retirou um pano branco, que cobria o cadáver, e pediu para que Amanda olhasse um versículo bíblico escrito na pele da vítima, próximo à virilha.

Amanda olhava atentamente para o versículo escrito na pele cadavérica.

Oséias 9:1

— Provavelmente, foi feito com um objeto perfurocortante, uma lâmina de barbear, um bisturi, talvez. — Esclareceu o legista.

— E o que isso significa? — Amanda perguntou num empinar de queixo, olhando diretamente nos olhos de Suzane.

***
Boa noite, meninas!
Atualizada!
Bom domingo!
Possivelmente, amanhã ou depois atualizarei O Que a Vida Me Roubou.
Bjs,

Thaa
 
 
 
 
 
 

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