CAPÍTULO 2 - PELA PRIMEIRA VEZ

130 16 6
                                    

Suzane vislumbrava uma antiga foto pendurada na decadente estante de sua sala de estar. Para onde quer que fosse levaria a foto dela. Foram dez anos de relacionamento, porém, infelizmente, aos 87 anos ela se fora, apenas com aquele triste olhar lhe dissera adeus, deitada na cama daquele decrépito hospital. Partira seu coração de um jeito que jamais se consertaria.
Como havia amado e sido feliz com aquela mulher, pensava acometida por uma doentia saudade machucando em seu peito.

Por muito tempo ela fora sua vida. Passara muitas dificuldades ao lado dela, principalmente pelo preconceito de uma parcela inútil de pensamento retrógrado, da sociedade. Tão patético. Pensava Suzane, enquanto se afastava da estante e seguia para a cozinha. À mesa, sentou e encheu uma xícara com chá de indiano, seu preferido. Ellen sempre tomava consigo todas as manhãs. As vezes achava que nunca a esqueceria. Que nunca aceitaria que aquela maldita doença a tivesse levado. Era engraçado como tinha em mente que para sempre amaria Ellen, ou como dizia Fábio, o fantasma dela. Já fazia um ano, e Fábio sempre lhe dizia que já estava na hora de se abrir para um novo amor. Mas não. Em sua percepção, não estava e não queria se abrir para nada nem absolutamente ninguém. Não havia espaço para nenhuma outra mulher em sua vida. Não depois de Ellen.

Suzane ouviu seu telefone tocar mais uma vez. Tinha certeza de que era do departamento policial. Aquela já era a trigésima ligação de ontem para hoje, como se não soubesse qual era o seu trabalho naquela delegacia. Soubera que sua chefia agora era a tal filha do General Heleno. E ouvira boatos da fama de mulher insuportável que ela tinha.

- Tua cara de chateação é inegável. - Disse Suellen, ajeitando o robe branco ao corpo, enquanto entrava na cozinha, sorrindo.

Suzana sorveu um gole do café e ergueu a cabeça para encarar a irmã.
Moravam juntas, e Sullen tinha dois gêmeos, um menino e uma menina. Duas crianças lindas e extremamente amáveis e educadas.

- Não é nada, Sue, apenas indignação com esse pessoal do departamento. Sei que estão apenas cumprindo ordens da delegada, mas não custava um pouco mais de humanidade por parte desse pessoal? Não percebem que acabei de me mudar para esta cidade, tive de fazer mudança, alugar casa, um perrengue só.

Reclamava, indignada.

- Boatos dizem que a filha do general não tem humanidade. A maioria dos policiais não têm.

- Eu não sou a maioria.

- Eu sei, Suzana, mas nem todos são como você. Aprenda a ser um pouco mais fria ou vai se perder no meio dos monstros. Você é muito doce, amável, adorável. Meiga, educada, linda.

- Eu...não sei se consigo ser como os outros.

- Pelo menos tenta. Você vai precisar se quiser trabalhar com Amanda Garcia.

- Como pode conhecer tanto sobre aquela mulher?

- Eu não conheço, as pessoas que falam horrores dela.

- Não me importo com gente grossa, apenas desejo fazer o meu trabalho em paz.

- E mais, dizem que ela é calculista assim porque o marido a deixou por uma mulher mais jovem.

- Nossa, Sue, quanta informação.
Suellen gargalhou.

- Claro, amor. Acha que viria morar numa cidade e não procuraria saber quem são as pessoas? Sem contar que temos um serial killer a solta por aí.

- E aqui estou eu para seguir os rastros desse assassino.

Aa duas riram.

- Pode ser também uma assassina.
Sue sorriu mais uma vez e Suzana também.


♤♤♤

Sentada em sua mesa de trabalho, no departamento policial, Amanda observava o laudo do corpo de delito. Seus olhos fissuravam com afinco nas fotos macabras que vislumbravam. Todos naquele departamento apostavam todas as suas fichas como aquele assassino se tratava de uma mulher, mas para si, ele era um serial killer com fetiche por pés.

Tinha 99% de chance de o assassino daquela moça ter sido um homem, apesar de os exames sexológicos terem resultado que os abusos sofridos pela vítima não foram com um pênis, mas sim com dedos.

Amanda suspirou fortemente.
Precisava pôr logo os pingos nos ís.
Ela levantou e foi até a porta. Pediu para que sua assistente chamasse um dos policiais até sua sala.

Em poucos instantes a porta fora aberta e o policial vetusto entrou. Ninguém gostava de estar na sala dela. Todas as consideravam uma mulher bastante competente, mas seu temperamento era de um verdadeiro demônio de saias. Ninguém jamais ousava contrariá-la ou descumprir suas ordens. Ela pouco sorria. Sempre que chegava de manhã ao departamento policial pedia para que sua assistente levasse seu chá de indiano, trancava-se em sua sala e somente saía para resolver alguns trâmites trabalhistas.

- Cortez? - Chamava sempre os policiais pelo sobrenome, nunca pelo prenome.

- Sim, doutora.

- Você trabalhava em Campos Sales quando aconteceu um crime semelhante a esse no ano passado? - Questionou, olhando-o seriamente.

O homem pigarreou.

- Sim, doutora. Eu mesmo. Inclusive fui junto com a polícia da cidade lá na casa do suspeito, sobre o qual recebemos uma denúncia.

Amanda ainda o encarava seriamente, enquanto perpassava uma caneta por entre seus dedos.

- E o encontraram?

- Não, mas havia alguns pertences como sapatos cordas, cintas e outros objetos estranhos.

- Alguma foto? Alguém que possa tê-lo visto?

- Há algumas testemunhas, mas o delegado de lá pediu sigilo em proteção às testemunhas.

- Certo. Preciso ir a essa cidade.

- Eu posso ir com a senhora.

- Não. A nova investigadora é quem vai. Ela já chegou? - Inquiriu, franzindo o cenho.

- Ainda não, doutora.

- Mas que droga! - Espalmou um das mãos na mesa de trabalho. - Onde está essa mulher? Será que ela não sabe que já deveria estar trabalhando?
Assim que acabou de falar Amanda ouviu uma leve batida na porta.

- Deve ser ela, doutora Amanda.
O policial disse, relutante e já louco para sair de perto da delegada chefe.

- Certo. Saia e peça para que ela entre.
O policial saiu e pediu para que Suzane entrasse.


Amanda aguardava irritada e impaciente pela mulher.
Era conhecida por ser uma pessoa intolerante, fria e pouco amigável.
Ela dedilhava os dedos impacientemente, enquanto seus olhos esverdeados encaravam o vão da porta pela qual agora entrava uma mulher magra, de mais ou menos um metro e sessenta de centímetros de altura, tinha uma aparência extremamente frágil. Amanda julgou que aquela ali não tinha porte ou talvez estômago para trabalhar na polícia e lidar com casos macabros. Duvidava muito de que o estômago dela não embrulhasse toda vez que visse uma cadáver. Encarou-a mais uma vez, discretamente, percebendo um rosto alvo, que se harmonizava a lábios rosados e olhos turquesa. Cabelos castanho-claro, levemente ondulados, que caíam displicentemente na altura dos ombros deixavam-na um tanto quanto profissional, mas também atraente. Um vestido mídi, botas, meia-calça e um sobretudo, construíam sua indumentária completamente preta. Tudo era preto, mas os olhos profundamente turquesa e a pele branca se diferenciavam naquela escuridão.

- Bom dia. Desculpe a demora. Sou a nova investigadora. Chamo-me Suzane, Suzane Paulson.

Suzane sorriu, meio sem jeito, diante dos olhos inexpressivos da delegada.

Amanda, por sua vez, respirou fundo. Cogitava que não se daria bem trabalhando com aquela mulher.


♤♤♤
Bom dia, meninas! Demorou, mas saiu.
Bjssss,
Thaa

Killer (LÉSBICO - DISPONÍVEL NO AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora