B*tch, you are my soulmate.

Starring: Madeleine Perez

Do auge de seus 16 anos, Madeleine Perez era especialmente boa em duas coisas: conseguir o que queria e nunca ser pega. 

Desde muito pequena, quando a mãe e o padrasto demonstraram a vontade de ter mais um filho, e a garota, de olhos grandes e vorazes, anunciou em alto e bom som que não tinha planos para ter irmãos, aquilo ficou muito claro. No início, eles riram da afirmação incisiva, mas entenderam que a filha estava falando sério quando passou a exigir tanta atenção a ponto de realmente descartarem a ideia de outras crianças. 

O fato é que Maddy não pretendia compartilhar. Foi no dia em que seu pai partiu com uma nova família, dentro de seu Mustang prateado, enquanto ela o esperava para ir à escola, que a garota aprendeu que teria menos chances de perder se conseguisse toda a atenção para si mesma.

Apesar da prioridade sobre ser única de todas as formas que pudesse, Maddy não era vista como carente ou insegura. Ela era selvagem. Rebelde. Uma bomba relógio. 

E quando conheceu Nate Jacobs, tudo explodiu. 

Maddy e Nate se cruzaram da mesma forma que passaram a maior parte do relacionamento até ali: correndo. Aquela era uma das poucas coisas que tinham em comum, a ânsia por adrenalina. Nate era apaixonado por carros e, por isso, estava sempre apostando corridas pelas ruas da cidade. Maddy era, definitivamente, a única corredora da qual ele não podia ganhar. 

Isso a fazia sentir no topo. E isso o fazia achar que tinha encontrado a garota certa.

Para Nate, Maddy não era apenas extremamente bonita, ela era ambiciosa e obstinada. Ela não aceitava ficar pra trás, cruzava a linha de chegada antes mesmo das bandeiras descerem, ela era ágil, esperta, corajosa, estratégica. Nate não gostava de Maddy apenas por ser uma vencedora, mas por não medir esforços para vencer, afinal, era exatamente de alguém assim que ele precisava. 

Ela nunca viu nada disso nele. A ambição, a obstinação, a determinação, simplesmente não estavam lá. Mas o sorriso convincente, a popularidade e o ar de perigo estavam. Ela gostava daquilo, Nate a convidava para jogos que ela sempre venceria. Isso a tornava única, imbatível, era exatamente de alguém assim que ela precisava. 

Toda aquela adrenalina funcionou por quase um ano. Para todas as pessoas, eles pareciam mais do que um casal adolescente fascinado por carros e vitórias, eles pareciam existir em uma atmosfera própria, acima de todo o resto. Podia ser a paixão, sim, mas talvez fossem só as drogas.

Talvez fosse só o fato de que desde a primeira vez em que Nate viu Maddy correr, ele enxergou um prêmio. A garota nunca precisara desesperadamente de dinheiro, corria por diversão, porque sabia que era boa, apostava somente o suficiente para continuar mantendo o Mustang cor de vinho que ganhara de sua mãe quando começou a dirigir, e gostava de ser vista daquela forma. Como alguém que não tinha que chegar ao limite para conseguir o que desejava. 

Foi assim até Nate começar a aumentar as apostas em seu nome, ele falava sobre o quanto ela estava desperdiçando seu talento e sobre como poderiam ganhar muito mais se colocassem mais dinheiro naquilo. Mas o motivo sombrio por trás de tanta ganância, Maddy ainda não conhecia. 

Nate Jacobs estava com muito mais dívidas do que poderia resolver sozinho, embora viesse de uma família com grandes privilégios, ele sabia que pedir dinheiro ao pai poderia encrencá-lo ainda mais. O garoto de postura intimidante, no último ano, andava usando todo o tipo de substância ilícita, e Madeleine representava sua chance de escapar das consequências.

Quando ela descobriu, eles tiveram uma grande briga. Ele apostou o Mustang da garota em sua próxima corrida, ela não estava confortável em competir, Nate pressionou e decidiu acompanhá-la no banco do passageiro. Maddy percebeu que ele estava chapado e negou, o garoto insistiu, totalmente fora de si, e eles deram a largada. 

Na primeira curva fechada, Nate gritou para que Maddy acelerasse, ela manteve o controle. Eles avançaram um pouco mais, havia neblina na estrada, Maddy estava sendo cautelosa, ela sabia que não precisava ir além para vencer, Nate, por outro lado, insistia para que ela aumentasse a velocidade, a voz do garoto estava cada vez mais próxima de seu ouvido, ele começou a jogar o peso do próprio corpo sobre o dela, as mãos de Madeleine deslizaram instáveis pelo volante, ela gritou para que ele parasse. E a última coisa que se ouviu foi a voz grave do garoto dizendo "Se isso é só o que você pode fazer, eu mesmo corro, Maddy". E depois, tudo se apagou. 

Maddy chegou ao reformatório no dia 29 de novembro de 2021, foi a consequência por atropelar um garoto de 13 anos que andava de bicicleta na faixa contrária àquela na qual estava dirigindo. Nate foi parar no mesmo lugar, após convencer seu pai - um político muito influente na cidade - de que ele e a namorada deveriam, ao menos, cumprir a punição juntos. Nate ficaria ali por menos tempo do que Madeleine, ele a fez encobrir o fato de que era o responsável pelas apostas e, por conta dos fortes laços de seu pai com a polícia, também escapou das acusações de abuso de drogas. 

Não foi difícil para que o casal começasse a dominar o lugar. Em três meses, eles se tornaram o centro das atenções, todas as pessoas queriam o magnetismo que Maddy tinha para continuar tão brilhante mesmo em um lugar como aquele, e uma grande parte dos internos queria o que Nate tinha para continuar sempre tão cheio de energia, apesar das poucas horas de sono. 

Eles diziam que quem vende drogas não usa drogas. Nate havia quebrado aquela regra no primeiro instante em que entrou ali. Ele tinha Maddy, linda e persuasiva, para levar os papelotes e seringas com um grande sorriso no rosto e voltar com o dobro do dinheiro esperado. 

Maddy costumava dizer que uma única coisa não havia mudado desde que chegara ali: a vontade interminável e avassaladora de correr, mesmo sem saber para onde ou para quem.