Capítulo Único

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A floresta ao redor da clareira estava em completo silêncio. A natureza ainda sentia as dores da batalha que ocorrera há alguns dias. A grama queimada e pisoteada, manchada pelo sangue de soldados que foram pegos de surpresa enquanto acampavam a caminho do local onde estava marcado para ser o combate. Haviam caído em uma armadilha que fora muito bem executada pelos inimigos e agora, a mãe terra tentava lidar com os destroços que o encontro dos dois pelotões inimigos haviam deixado.

Minho sentia sua magia mais fraca por conta disso, como se a natureza estivesse pegando emprestado dele para poder se regenerar. E ele não se importava com isso de fato, emprestaria toda a sua magia para o lugar que o acolheu ainda quando criança, órfão, e o cuidou com tanto zelo. O Lee era forte o suficiente para retribuir todos os cuidados que recebeu durante aqueles anos de sua infância e adolescência. O garoto sabia que haveriam corpos, não só de animais, mas também de humanos.

Há quanto tempo não via um rosto humano em sua frente? Meses? Talvez até mesmo anos tenham se passado sem que ele tivesse tido algum contato com os seres de sua espécie. A floresta só era invadida, por assim dizer, por soldados que ficavam apenas por uma ou duas noites dentro da mata e então seguiam seus caminhos para bem longe. Afinal, quem ficaria ali sabendo da lenda que protegia o local.

A lenda, na visão do jovem, era apenas besteira, afinal, ele quem ajudara a deixá-la mais real para os aldeões nas proximidades. A lenda que deu o nome a floresta e a manteve protegida, já que pouco se arriscavam a adentrar a mata. A história dizia que havia um espírito protetor do local e que quem se arriscasse a adentrar a floresta com as intenções erradas, o espírito devolveria o corpo sem vida à margem da mata, nas proximidades da aldeia. Claro que o Lee tinha em mente de que ele não era o único ser especial que fora acolhido pela natureza, afinal é uma área bem extensa, então tudo o que ele precisava fazer era assustar as pessoas que se aventuravam e que a natureza o informasse que as vibrações do aventureiro não eram boas. O jovem apenas vestia sua capa negra, colocando o capuz também para que não fosse reconhecido por ninguém e seguia a trilha de vibrações até o humano. Contudo, também não tivera o menor interesse em procurar por outros residentes humanos especiais pelo local, achava que a natureza poderia sentir isso como uma forma de ingratidão.

O moreno não precisava de um aviso específico para saber que estava se aproximando do local de batalha, afinal a destruição já era visível. Marcas nas árvores, ausência de animais, grama pisoteada. Suspirou, sabendo que não iria gostar do que veria assim que adentrasse a clareira e sim, teria muito trabalho limpando a bagunça dos humanos. Isso só fazia com que sentisse menos vontade de tentar contato com algum deles, pois sabia que estando afastado estaria mais protegido da maldade e da ganância que rege os reinos. Estava bem ali, vivendo do que a natureza lhe fornecia e cuidando da mesma como forma de agradecimento.

Tocava as árvores com cortes feitos por espadas e deixava que sua magia cicatrizasse as feridas da planta, se qualquer pessoa leiga passasse por ali, jamais imaginaria que um dia houveram feridas no vegetal. E como esperava, a clareira estava um caos. Flechas fincadas no solo, cavalos abatidos, cadáveres humanos faltando pedaços e muitas cinzas de fogo, provavelmente dos tecidos das tendas. Usou sua magia para recuperar a grama e o solo, sentindo-se um pouco fraco por usar tanto em pouco tempo.

Ouviu um resmungo dolorido e procurou sentir a presença do que quer que estivesse resmungando, notando uma energia vital no campo destruído que tentava recuperar. Não demorou para avistar o humano, semiconsciente, vestido com a armadura e com cheiro forte de sangue seco. Não precisava ser inteligente para saber que era um soldado, que por algum milagre estava resistindo à morte.

— Não é hora dele, não é? — perguntou para ninguém específico, mas ao mesmo tempo para a fonte de sua magia. Suspirou novamente, abrindo com cautela a armadura do rapaz e notou que este não deveria ser muito mais velho que si. Se livrou de todo aquele metal e das peças que os soldados usam entre a armadura e as roupas, notando o tecido macio cheio de sangue seco e novo. O jovem soldado ainda está sangrando e claro, curá-lo gastaria mais de sua magia já enfraquecida por conta do cenário. — Se não quisesse que eu o salvasse, não teria feito com que eu o encontrasse, certo?

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