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Eu estava acabado. Abri a porta do 221B as pressas pensando somente que haveria um sofá me esperando. Eram apenas 4 horas da tarde e eu já não conseguia me manter em pé de tanto cansaço. Mas esse cansaço tinha motivo: trabalho, sendo mais específico, Sherlock Holmes. Nosso ultimo caso foi um pesadelo, Sherlock não parava quieto um minuto. O pior foi que me fazia acompanhá-lo nessas maluquices de não dormir, não se alimentar direito e todos os outros métodos estranhos que apenas ele entendia. 3 dias, 3 DIAS SEM DORMIR. Para mim isso vai muito além do que é normal para o meu corpo, eu não estava aguentando mais. Deus sabe a felicidade que senti quando finalmente Sherlock desvendou esse caso.

Já deitado no sofá, sem ao menos tirar meus sapatos, eu fitei o teto por alguns minutos. Senti partes do meu corpo que eu nem sabia relaxarem totalmente, eu estava nas nuvens. Sem ao menos fazer esforço, eu apaguei.

(...)

Abri meus olhos lentamente, ainda com a visão meio turva. Peguei meu celular no bolso para ver que horas eram: 2 da manhã. Desbloqueei a tela e percebi um grande número de ligações perdidas. Era Mary. "Merda", eu sussurrei com raiva de mim mesmo. Eu tinha marcado de levá-la para jantar hoje, era uma boa moça, e muito atraente também.

Desliguei o celular e finalmente pude notar onde estava. Quarto de Sherlock. Como diabos eu fui parar ali? Olhei para o lado procurando o detetive, mas não tinha ninguém. Tomei coragem e levantei da cama meio desconfortável, com certeza nunca mais iria dormir de calça jeans. Fiquei de pé e pude finalmente me olhar no espelho. Deplorável. Mas pelo menos as dores passaram e eu me sentia novo.

Afrouxei meu cinto que estava me apertando, retirei meu casaco e desabotoei os dois primeiros botões da camisa social. "Bem melhor" suspirei em alívio. Então finalmente comecei a caminhar pelo corredor em direção a sala. Pude ouvir alguém sussurrar xingamentos, provavelmente Sherlock. Quanto mais eu chegava perto, mais alto ficavam. Rezei para não ser mais um caso em que Holmes ficava irritado por não conseguir resolver, precisava de um tempo sem trabalho.

Finalmente avisto meu amigo em uma situação em que nunca imaginava ver. Sherlock estava em pé no sofá com o controle remoto na mão, visivelmente irritado. Olho para a TV para entender o que está acontecendo e quando finalmente entendo não consigo segurar a risada.

Sherlock Homes não estava conseguindo criar uma conta na Netflix. Aquilo era demais para mim, fechei os olhos, me permitindo rir ainda mais. Quando abri os, dei de cara com meu amigo me olhando com tanta raiva que era possível ver o fogo refletindo em seus olhos. Imediatamente parei de rir e segurei minha respiração. A distancia entre nós não era muito confortável, uns 30 centímetros talvez.

— O que é tão engraçado, Watson? - sua voz saiu um pouco rouca e perigosamente perto da minha orelha.

— Nada, hum, nada mesmo. - meu deus porque eu sempre gaguejo essas horas.

Sherlock trava o maxilar e se afasta. Finalmente sinto o ar entrar em meus pulmões e respiro fundo.

— Precisa de ajuda com isso? - pergunto apontando para a TV e recebo um olhar que indicava que ele estava pensando no que deveria responder. — Vamos lá, deixe de ser tão orgulhoso e aceite ajuda, você claramente não sabe o que fazer.

— Tudo bem. - ele diz desviando o olhar.

Fico aliviado por não ter começado outro surto de raiva, as sensações da proximidade recente de Sherlock ainda estão vivas pelo meu corpo. Começo a ficar tenso apenas por lembrar, meus pelos da nuca se arrepiam. Deus o que está acontecendo. Percebo meu amigo me olhando curioso. Merda, ele percebeu meu nervosismo.

— Qual o seu problema, Watson? - continuo olhando para a TV, torcendo para ele não insistir. - Ei! Estou falando com você, olhe para mim. - ainda não me viro para ele, não ia deixar isso tão fácil.

JOHNLOCK - oneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora