começo - parte um

64 9 22
                                    

É domingo. Dia de culto na minha igreja. Coloquei um vestido leve até o joelho e uma sandália nos pés, já que era uma noite de primavera. Peguei um casaquinho no guarda-roupas e coloquei em minha bolsa, junto com a Bíblia e meu celular. Chamei meus pais e entramos no carro. Meu pai começou a dirigir, nos levando até nosso destino, a casa de Deus.

Chegamos lá poucos minutos antes do culto realmente começar. Nos sentamos em uma das últimas fileiras já que a igreja estava cheia nesta noite. Logo, a líder dos jovens chegou e chamou todos do grupo para ir à sala dos jovens na parte de cima da igreja. Me encontrei com Clary, minha melhor amiga, e fomos juntas seguindo nossos líderes.

- Tudo bem, Jessie? - Clary se dirigiu a mim quando estávamos subindo as escadas.

- Tudo sim, e com você?

- Eu estou ótima. Deus é bom demais, não é? - Clary falou com seus olhos brilhando, toda animada.

- Com certeza. - Sorri para ela.

Clary é minha melhor amiga desde sempre, ela me conhece muito bem e me ajuda em tudo. Só tenho a agradecer a Deus por ter essa menina abençoada ao meu lado. Clary é alguns meses mais velha do que eu, mas de maturidade parece ter anos a mais. Ela namora o filho do pastor, Henry, há um pouco mais de um ano. E só de ficar olhando os dois juntos, os quais são muito fofos, me dá uma vontade enorme de viver o mesmo, mas o problema é que me falta o varão. Mas eu escolhi esperar na vontade de meu Deus, sei que quando for o tempo, vai acontecer e será lindo.

- Então, pessoal, como vocês estão? - A líder, Maria, perguntou a todos.

- Eu estou bem. - Um dos jovens respondeu e outros também seguiram ele.

- Podem se sentar então. - Foi o que todos fizeram. - Antes de começarmos, gostaria de apresentar pra vocês o nosso mais novo integrante do grupo, Peter.

Então eu olhei para o menino, para o qual ela apontou. Ele se levantou com um sorriso no rosto, um belo sorriso por sinal. E no momento em que o tal garoto olhou diretamente para mim, pude perceber seus olhos verdes. Seu olhar permaneceu em mim por alguns segundos, o que me fez corar e desviar para o chão. Quando Peter se sentou, o olhei novamente, agora de relance, ele parecia ter a mesma idade que eu, alto de cabelos morenos com cachos super definidos. Preciso confessar, ele tem uma beleza singular.

Logo chegou o marido de nossa líder, que também liderava os jovens, Dennis. Os dois começaram o nosso culto, como sempre fazíamos: uma oração de início, leitura da palavra e comentário sobre, louvor de algumas músicas, uma dinâmica sobre o assunto da pregação, e por fim, a hora da Palavra. Claro que no final, fazíamos uma última oração para finalizar com chave de ouro.

Em todo o momento do culto, eu tentava dar umas olhadas rápidas em Peter, o qual estava sempre sorrindo. Quando o mesmo devolvia meu olhar, eu dava logo um jeito de disfarçar e fingir que nada aconteceu. Digamos que Clary tenha percebido essa troca de olhares, pois ficava toda hora olhando-me com olhar desconfiado. Na hora da dinâmica, ela veio falar comigo:

- Já se apaixonou pelo Peter, foi?

- O quê? Eu? Não, claro que não.

- Aham, sei. Eu conheço você, Jessie. - Ela estreitou os olhos para mim.

- Eu nem sei do que você está falando. - Tentei disfarçar.

- Por que você não vai lá falar com ele?

- Primeiramente, por que eu faria isso? E segundamente, mesmo que eu quisesse, eu não teria coragem. - Clary deu uma risada anasalada.

- Ué, você pode cumprimentar ele só por educação.

- Eu não consigo. - Dei uma risada sem graça.

- Amiga, você precisa orar sobre essa sua timidez, viu? Isso não é normal.

- Você tem razão, vou fazer isso. - Dei um sorriso assentindo e Clary sorriu de volta.

Senti minha garganta seca e saí da sala para ir até a área central da parte de cima do edifício, onde ficavam o bebedouro, os banheiros, uma área de espera e também uma mesinha com café e biscoitos para a hora do lanche. Dei graças a Deus por não ter ninguém lá, fui até o bebedouro, peguei um copo e o enchi de água. Quando comecei a dar o primeiro gole, vi alguém saindo da mesma sala que eu estava, era Peter. Comecei a tomar a água mais rápido do que antes, eu não queria ter que falar com ele, não agora.

- Oi. - Peter se dirigiu a mim, simpático, antes de pegar um copo e começar a encher com água.

- Oi. - Falei baixo, terminando de tomar minha água.

- Eu estou gostando bastante daqui, dá pra sentir que são todos pessoas de Deus. - Sorri quando ele terminou a frase.

- Que bom... - Fez-se um silêncio por alguns segundos, eu não conseguia olhar diretamente para Peter. - Hã, tenho que ir. - E saí correndo dali. Ele deve ter pensado que eu era fora da casinha ou algo assim.

Quando voltei para a sala, os jovens já estavam todos sentados. Entrei e me sentei em meu lugar ao lado de Clary. Peter veio logo depois. Ao final do culto, Maria e Dennis nos deram os avisos:

- Gente, temos uma notícia incrível para vocês! - Maria começou.

- Daqui a duas semanas, no sábado, será nosso grande evangelismo! - Todos abriram sorrisos animados e começaram a comemorar.

- Por isso, temos que nos preparar certinho até lá. Sinto que vai ser abençoado! Então, orem todos os dias em prol desse evento e peçam a direção de Deus. Quero ver todos lá no dia, prontos para fazer a obra do Senhor!

Depois disso, os líderes nos despediram e todos descemos a escadaria, onde o culto também havia terminado e já estava na hora de ir embora. Encontrei meus pais, e juntos fomos até o carro, fazendo o caminho de volta para casa.

Enquanto minha cabeça estava encostada na janela do carro, eu observava a noite através dela. Eu tinha uma visão das casas e edifícios passando, na medida em que íamos avançando pela rua. O que mais chamava atenção eram os postes de luz dançantes em minha visão, iluminando a cidade na escuridão da noite.

Porém, meus pensamentos não estavam na paisagem que se encontrava à minha frente, mas sim no evangelismo que aconteceria daqui há quatorze dias. Há um tempo, Jesus me revelou que meu ministério era o de evangelismo e desde então eu tenho orado muito em prol disso. Por ser uma pessoa muito tímida, com medo de falar com as pessoas, eu ainda não consegui participar de nenhum evangelismo com outras pessoas, nem mesmo sozinha. Mas falar de Jesus para as pessoas e poder ajudar alguém com isso, quem sabe até ganhar uma alma para Jesus, é uma vontade que arde forte em meu coração. Por isso, eu estava determinada a evangelizar junto com os outros jovens e fazer a vontade do meu Senhor, espalhando para todo o mundo o quão grande é Seu amor e Sua graça.

Continua...

Sal da Terra e Luz do MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora