Capítulo 3 A casa do lago

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Forest Hills — New York, 2029


 Nadora não estava com uma boa sensação. Na verdade, depois do desaparecimento de seus tios, ela nunca mais esteve. Tornou-se órfã aos doze anos, quando mudou-se para morar com eles. Nadora não sabia nada sobre a morte de sua mãe, muito menos sobre o passado de seu pai. Homem ao qual ela nem chegou a conhecer. Era muito nova quando tudo aconteceu. Tudo foi muito rápido.

Em pouco tempo havia visto sua vida mudar completamente. Casa nova, escola nova, cidade nova, vida nova. Não deixando-se abalar, teve uma adaptação muito fácil, fez novas amizades e ganhou um lugar de destaque por causa do seu talento para o esporte. Nadora impressionava não só por sua beleza encantadora, mas por ser uma menina muito bem educada e gentil. Inteligente também.

Foi num final de tarde, enquanto voltava de um treino, que descobriu capacidades sobre-humanas. Havia sido surpreendida por um carro em alta velocidade que parecia ter Nadora como seu alvo certo. Ele quase a matou. Ela havia desviado tão rapidamente que mal soube explicar para si mesma, saiu tão assustada para contar aos seus tios sobre o que havia ocorrido, que mal notou o quão rápido estava correndo. A surpresa da menina terminou por ser ainda maior ao deparar-se com o que era para ser o seu lar. Apenas cinzas. Os corpos de seus tios não foram encontrados no que sobrou daquele lugar.

Sem querer ir para um orfanato, Nadora tomou a única decisão que lhe cabia: fugiu das leis para aprender a viver sozinha. Lembrou-se da casa no lago que pertencia à sua família, onde geralmente passavam as férias de verão e, não hesitou em abrigar-se no lugar. Local ao qual ela não poderia chamar de lar por muito tempo. As dificuldades estavam chegando. Ela sabia que estavam.

Nadora olhava para a despensa naquele momento. A quantidade de comida havia reduzido drasticamente desde que chegou.

Vou ter que arrumar mais comida dentro de alguns dias — avaliou a situação consigo mesma, soltando um suspiro de cansaço. Sim, estava cansada; Da monotonia, da solidão... Já estava lá há dois meses.

Nadora sentia falta de uma companhia, ela sentia falta de conversar, socializar, de ter amigos. A menina pegou um suco na geladeira, sentou-se no balcão da cozinha e deu seu primeiro gole. A mente de Nadora começaria a vagar, mas foi interrompida por uma sombra que achou ter visto pelo vidro empoeirado da janela.

O vento está forte hoje, — tentou se acalmar — as árvores estão balançando muito.

A menina deveria ter muito medo, mas não tinha tanto. Correu alguns perigos desde sua chegada, mas não fugiu. Por algumas vezes escondeu-se no sótão somente por não saber quem estava à sua procura. Nadora tomou mais dois goles de seu suco de manga e levantou-se, tendo o sofá como destino. Tratou de se esparramar e esticou-se com muita facilidade para alcançar o controle da televisão. Nadora aconchegou-se mais, ficando deitada de barriga pra cima. A única coisa agora em seu campo de visão era o teto e tudo o que escutava era o barulho de um canal aleatório da televisão. Começou a imaginar como seria sua vida se nada de ruim tivesse acontecido. Ela pensou que talvez tivesse ganhado o campeonato de ginástica, que talvez estaria saindo com o capitão do time de basquete, pensou que talvez estaria com algumas amigas se divertindo ou apenas treinando. E foi desse jeito que a menina acabou adormecendo. Exatamente duas horas depois Nadora abriu os olhos.

— Que droga!

A menina praguejou-se por ter dormido tanto, levantando rapidamente do sofá. Sua barriga já roncava, então acendeu as luzes pela casa e avistou o relógio que marcava 22h13. Andou até a cozinha num segundo e pegou a macarronada que ela havia preparado mais cedo. Depositou a comida em um recipiente colocou no micro-ondas. Nadora procurou por um grafo e voltou ao micro-ondas para pegar sua comida pronta para forrar seu estômago. Ela arrastou o banco do balcão e, dessa vez, ela teve a certeza de que alguém havia passado correndo pela janela. Aquilo a deixou em alerta. A menina sacudiu a cabeça, tentando afastar os pensamentos ruins e voltou sua concentração na macarronada. Ela enrolou o garfo na massa e levou a boca, somente para cuspir segundos depois, quando escutou um barulho no lado de fora. Nadora correu para apagar a luz.

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