Capítulo 12

1.3K 114 10
                                    

   Hope sentiu o cheiro dele de longe, poderia reconhecê-lo de qualquer lugar, sabia onde ele estava antes mesmo de vê-lo. Mantiveram-no longe dela por mais de 5 dias, tentavam lhe ensinar coisas do mundo e diziam que em breve conseguiriam se organizar para que todos pudessem se encontrar.
Achou que estavam mentindo.

_ Não vou ouvir mais nada enquanto não puder vê-lo_ Tiny suspirou com a rebeldia de sua pequena inquilina. Ela insistia constantemente em ver o garoto que até onde sabia estava hospedado com Justice, mas não poderia levá-la lá, tinha pavor dos homens e sequer gostava de sair do dormitório.
_ Precisa aprender a ser paciente, estamos nos organizando, é perigoso para vocês crianças ficarem soltas por aqui, enquanto ainda temos humanos trabalhando. _ Se encolheu ao pensar nos homens humanos, sabia claramente que os homens em Homeland jamais a machucariam, mas, ainda assim, o medo era aterrador, o mero pensamento a fazia se encolher. Não compreendia a garota estar tão chateada por estar longe de um deles.
_ Disse que eu estava livre. Mas estou presa aqui.
Tiny deu um passo para trás analisando a situação. Eles estimavam que Hope tinha cerca de 13 anos. Mas isso não diz muito sobre Espécies, tendiam a crescer e amadurecer mais rápido do que os humanos.
_ Não está presa, Breeze te levou para correr hoje de manhã.
_ Mas ele não estava lá!
_ Certo _ respondeu _ Quanto tempo faz que vocês são amigos?
_ Amigos?
_ O que ele é pra você?_ Tiny perguntou ainda mais temerosa, eram muito novos, mas Espécies eram possessivos e territoriais, e não sabiam ao certo quando era escolhido um companheiro, mas já tinha ouvido muitas histórias de Espécies que foram colocados juntos desde crianças, alguns permaneceram juntos como companheiros, outros não. Era imprevisível.
_ Ele é meu, foi colocado pequeno na cela para mim. _ Respondeu abertamente. Levando Tiny a sentir uma dor de cabeça vindo. Ela agia como se o Espécie fosse seu irmão ou companheiro.
_ Entendo.
_ Quero vê-lo.
_ Hope, eu preciso conversar com Breeze sobre isso, ela com certeza vai dar um jeito para vocês se encontrarem. _ Não acreditou em suas palavras e secretamente conspirou fugir da espécie pequena e magrela que tentava lhe ensinar sobre aquele mundo novo.

Andou rapidamente pelo gramado, pisando na terra molhada e sentindo prazer com isso, podia sentir a mulher humana as observando com Breeze, e podia sentir muitos cheiros familiares passando por ali, outras crianças, e outros Espécies,  um tanto incomodada sentia cheiro de humanos, a mulher não a incomodava muito, porém os homens… Não estavam perto porém,  ela sabia disso, era provavelmente a tal força tarefa mantendo-os seguros.
Apesar de reconhecer alguns cheiros, eram uma tanto quanto diferentes do que se lembrava. A liberdade tinha um cheiro. 
Lembrou-se de como ficou horas debaixo do chuveiro quando o conheceu, comeu carne cozida de uma forma que nunca pensou que fosse possível, com temperos saborosos e seu paladar se deleitou com um grande volume daquilo. E bebeu o que eles chamaram de refrigerante, que era como um choque em seu cérebro e a fez querer correr quilômetros a fio. E Breeze a levou para correr.
Andou mais animada pela mata observando cada detalhe das árvores e o cheiro da natureza, algo que ainda era novo para si. Ouviu o barulho de conversas e estalos antes que pudesse ver de fato o local onde as crianças estavam indo para ficar juntas.
Mas, ficou encantada quando chegou. Havia uma cabana grande que podia cobri-los do sol, onde havia televisões instaladas e almofadas gigantes em tapetes confortáveis, adultos conversando com eles e lhes mostrando desenhos e aparelhos, estavam ensinando, compreendeu por fim.
Do lado de fora algumas crianças estavam correndo atrás das outras, brincando no que ela só pode deduzir ser os famosos "brinquedos" dos quais as mulheres tanto lhe falavam. Haviam no canto algo que parecia uma lagoa, as crianças escorregando direto para a água e afundando sem medo para em seguida levantar e rir.
As pequenas garotas que estavam com elas andando sempre atrás de Hope passaram correndo por si ao avistar o espaço feito para elas onde poderiam aprender e se divertir.
_ 386! _ A voz a tirou da linha de pensamentos. Lá estava ele, o pequeno 142A. O garotinho que esteve em sua cela desde que era filhote e que ela viu crescer diante de seus olhos e protegeu como se fosse sua cria. 207A prometeu protegê-lo para si e cumpriu a promessa.
A criança por quem ela zelou tanto, correu afobada em sua direção fazendo um sorriso brotar de seus lábios, algo que não estavam acostumados a fazer. Lançou-se em seus braços magros e percebeu que havia ganhado um pouco de peso já que o garoto quase lhe derrubou.
_ Senti sua falta _ ela falou baixinho respirando fundo o cheiro da criança abraçada em seus quadris.
_ Eu escolhi um nome! _ gritou empolgado lhe soltando e pulando ao seu redor.
_ Ah, eu também tenho um agora! _ Hope respondeu sem conseguir esconder sua satisfação com a criança empolgada, era tão bom vê-lo feliz, sendo o que é, e não a máscara de força que fingia ser na frente de todos menos dela.
_ Anger e eu gostamos do nome Bliss.
_ Uau! Bliss é perfeito para você. _ Respondeu, e finalmente notou 207A os observando, com os olhos de gato semicerrados, demonstrando que ainda não estava totalmente à vontade ali. Ou agora deveria chama-lo de Anger? Ele ainda estava desconfiado, o conhecia bem o bastante para saber. Eles foram levados para o mesmo lugar pelo que soube, por insistência de 207A.
Anger, corrigiu-se mentalmente.
_ E você? _ Bliss chamou a atenção dela para si novamente. _ Como eles te chamam?
_ As mulheres me chamam de Hope, pois, sou a primeira chance que elas têm de não desaparecer _ Falei orgulhosa de como soava importante ser a mais velha das meninas.
_ Nossa! Isso é bem mais legal. 
_ Elas escolheram seu nome? _ Anger perguntou com uma cara que Hope interpretou, ironicamente, como raiva.
_ Sim. _ Falou esperando por algum rosnado irritado.
_ Mas que droga! Nós dois passamos a noite tendo que ler um dicionário! _ reclamou cruzando os braços no peito _ e o nome dela é bem mais legal! Aposto que Jessie só queria nos obrigar a ler.
Hope riu dos dois e logo mais crianças estavam ali, algumas totalmente novas e outras que já conhecia pelo cheiro que os guardas carregavam consigo. 
Os três deram as mãos e foram explorar o novo ambiente em seu novo lar. Hope fez questão de ficar no meio, para segurar a mão de Anger, queria garantir que estava tudo bem e ele podia relaxar agora.
E quando Bliss saiu correndo em direção a água ela o fitou séria e falou.
_ Você não confia, e sabe que entendo. Mas estamos em casa agora, não é um jogo, isso é a nossa família.
Ele segurou novamente as mãos dela e respirou fundo o cheiro novo que ela possuía.
_ Eu sei, é difícil confiar, tem humanos demais. _ Olhou em volta tenso.
_ Esses humanos são diferentes. _ Hope queria soar confiante.
_ Não vou abaixar a guarda, Bliss é ingênuo e você está longe, um de nós precisa estar alerta.
_ Você precisa relaxar.
_ O que? _ Perguntou como se a palavra fosse totalmente nova, e, de fato, era.
_ Relaxar! É como…. _ ela parou para pensar numa forma de falar e percebeu que ele não entenderia a giria tão depressa, fez o que Breeze fez com ela.
Usou as duas mãos no rosto dele fazendo carinho até que a face não estivesse tensa.
_ Agora para de morder os dentes e respire bem fundo _ Falou descendo as mãos pequenas para os ombros magrelos e massageou levemente até que ele os soltou também._ isso. Agora tente me pegar!
Hope saiu correndo sem esperar uma resposta e apenas ouviu a risada rouca quando ele finalmente correu atrás dela pelas árvores sentindo a liberdade que eles tinham agora.

BrassOnde histórias criam vida. Descubra agora