Capítulo 2

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Rosário Evans já aceitara o facto de que aquela seria a sua última oportunidade. O Dr.Heriberto, por razões profissionais, não o teria dito tão francamente, embora, após dois abortos em igual número de anos, ele não pudesse aconselhar a sua paciente a arriscar-se a engravidar de novo.

Roberto Evans, por outro lado, não se encontrava limitado por qualquer etiqueta profissional e, ao saber que a mulher estava grávida pela terceira vez, fizera-lhe um ultimato «Desta vez, vais levar as coisas com calma.»

Rosário só se casara aos trinta e três anos. Certamente que não fora por falta de pretendentes, porque muitos deles se empenharam em jurar amor eterno à herdeiro do fundador do Hospital mas simplesmente ela não se apaixonou por nenhum deles. Ela até começara a ter dúvidas de que alguma vez se iria apaixonar. Até ter conhecido Roberto.

Algumas semanas após o casamento Rosário anuncia que estava grávida e o aborto que sofreu foi praticamente a única sombra da sua existência encantada. Pode-se dizer que isso foi uma nuvem passageira num céu quase totalmente azul, quando ela voltou a engravidar onze meses depois.

Rosário estava a presidir uma reunião da fundação do Hospital quando as contrações começaram, e só precisou de subir dois andares no elevador para que o Dr. Heriberto lhe fizesse o exame necessário. No entanto nem a perícia deste e nem a dedicação do seu pessoal conseguiriam salvar o bebé prematuro.

O Dr. Heriberto decidiu ter uma conversa em particular com o senhor Evans, sugerindo que talvez tivesse chegado a altura de eles pensarem em adoptar um filho. Roberto concordou com relutância e disse que falaria nisso à mulher assim que achasse que ela estava suficientemente forte.

Decorreu um ano antes de Rosário concordar em visitar uma agência de adopção e, numa daquelas coincidências que o destino decide, ela ficou grávida no dia em que deveria visitar um orfanato local. Dessa vez, Roberto estava decidido a garantir que o erro humano não seria o motivo por que o seu filho não viria ao mundo.

Rosário seguindo os conselhos do marido demitiu-se da presidência do Hospital. Foi também contratada uma enfermeira a tempo inteiro para a manter sob vigilância. Roberto Evans entrevistou várias candidatas ao lugar e seleccionou as que ele achou que tinham as qualificações necessárias. A sua decisão final iria ser baseada unicamente na convicção de que a candidata era suficientemente voluntariosa para se assegurar de que Rosário cumpria a promessa de levar as coisas com calma e para conseguir que ela não retomasse o seu antigo hábito de querer organizar tudo o que lhe surgia pela frente.

Depois de várias entrevistas feitas, Roberto decidiu-se por uma menina Sofia, que era enfermeira na Maternidade do Hospital. Ele gostou da sua atitude prática e o facto de ela não ser casada nem bafejada com o tipo de beleza que garantisse que essa situação se poderia alterar no futuro próximo. O que o fez decidir-se foi o facto de a menina Sofia já ter trazido ao mundo mais de mil crianças.

Roberto ficou encantado com a rapidez com que a menina Sofia se integrou na família e, à medida que os meses passavam, começou até a sentir-se confiante de que não iriam enfrentar o mesmo problema pela terceira vez. Quando chegaram ao sétimo mês sem qualquer incidente, Roberto até abordou o assunto de possíveis nomes: Rodrigo se for rapaz e Vitória se fosse rapariga, já a Rosário disse que o que mais desejava era que a criança fosse saudável.

Roberto estava em Nova Iorque quando a menina Sofia o obrigou a regressar depois de o ter informado de que as contrações da mulher tinham começado. Ele garantiu-lhe que regressaria imediatamente de avião e depois apanharia um táxi para o hospital.

O Dr. Heriberto estava a sair do edificio, depois de ter feito o parto dos gémeos Levy, quando viu Rosário Evans a passar as portas de vaivém acompanhado pela menina Sofia. Ele deu meia volta e chegou ao pé das duas mulheres antes das portas do elevador se fecharem.

Depois de instalar a sua doente num quarto particular, o Dr. Heriberto convocou rapidamente a melhor equipa de obstetrícia que o hospital conseguia reunir. Se a senhora Evans fosse uma paciente normal, ele e a menina Sofia teriam feito o parto sem chamar qualquer ajuda extra. No entanto, após a observação, ele compreendeu que, para ter o filho com segurança, Rosário precisaria de fazer uma cesariana. Ele olhou para o céu e rezou silenciosamente, com plena consciência de que esta iria ser a última oportunidade da mulher.

O parto durou mais de quarenta minutos. Ao ver a cabeça do bebé pela primeira vez, a menina Sofia soltou um suspiro de alívio, mas só quando o médico cortou o cordão umbilical é que ela acrescentou «Aleluia». Rosário, que ainda estava anestesiada, não pôde ver o sorriso de alívio no rosto do Dr.Heriberto , que saiu apressadamente da sala de operações para comunicar ao pai ansioso:

- É um rapaz.

Enquanto a Rosário dormia tranquilamente, a menina levou o Rodrigo para a unidade de cuidados especiais, onde ele iria partilhar as suas primeiras horas com várias outras crianças. Depois de deitar o bebé no berço, deixou a enfermeira a tomar conta dele e voltou para o quarto de Rosário. A menina Sofia instalou-se numa cadeira confortável a um canto e tentou manter-se acordada.

Quando estava a amanhecer, acordou sobressaltada. Ouviu as palavras?

- Posso ver o meu filho?

- Claro que pode, senhora Evans - respondeu ela erguendo-se rapidamente da cadeira. - Eu vou buscar o pequeno Rodrigo. - Ao fechar a porta atrá de si, acrescentou: - Estarei de volta dentro de alguns momentos.

Rosário soergueu-se , aconchegou as almofadas, acendeu o candeeiro da mesinha de cabeceira e ficou à espera, ansiosa.

A menina Sofia olhou para o relógio enquanto percorria o corredor. Eram 4.31. Subiu as escadas até ao quinto andar e dirigiu-se ao berçário. A enfermeira abriu a porta silenciosamente para não acordar os bebés que dormiam. Quando entrou na sala iluminada por uma pequena lâmpada fluorescente que brilhava por cima dela, os seus olhos pousaram na enfermeira do turno nocturno, que dormitava a um canto. Não incomodou a jovem, pois aqueles eram provavelmente os poucos momentos em que ela conseguiria dormir durante o seu turno de oito horas.

A menina Sofia passou em bicos de pés por entre duas filas de berços, parando apaenas por um momento para olhar para os gémeos no berço duplo que tinha sido colocado ao lado de Rodrigo Evans.

Ela olhou para a criança a quem não faltaria nada o resto da vida. Quando se debruçou para tirar o bebé do berço, parou, imóvel. Depois de milhares de partos, fica-se bem habilitado a reconhecer a morte. A palidez da pele e a imobilidade dos olhos tornaram desnecessário verificar o pulso.

São muitas vezes as decisões impulsivas, frequentemente tomadas por outros, que mudam toda a nossa vida.


Continua...

Apaixonada pelo meu cunhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora