Capítulo 3

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Quando o Dr. Heriberto foi acordado a meio da noite para lhe dizerem que um dos bebés tinha morrido, ele soube exatamente qual das crianças fora. Ele também compreendeu que tinha que voltar imediatamente para o hospital.

Havia tão poucos automóveis às cinco da manhã que, vinte minutos depois, o Dr. Heriberto já tinha estacionado no lugar que lhe estava reservado no parque de estacionamento do Hospital. Empurrou as portas de vaivém, passou pelo balcão da recepção e entrou no elevador antes de qualquer membro do pessoal ter conseguido falar com ele.

- Quem é que lhe vai dizer? - perguntou a enfermeira que estava à sua espera quando as portas do elevador se abriram no quinto andar.

- Eu digo-lhe - respondeu o Dr. Heriberto. - Eu sou amigo da família há anos - acrescentou.

A enfermeira pareceu surpreendida.

- Suponho que devemos dar graças a Deus por o outro bebé ter sobrevivido.

O Dr. Heriberto estacou.

- O outro bebé? - repetiu

- Sim, Alessandro está muito bem, quem morreu foi Miguel.

O Dr. Heriberto ficou calado durante um momento enquanto tentava absorver a informação.

- E o bebé Evans? - perguntou.

- Tanto quanto eu saiba, está bem - replicou a enfermeira. - Porque é que pergunta?

- Eu fiz o parto antes de ir para casa - disse ele, fazendo votos para que a enfermeira não tivesse reparado na hesitação na sua voz.

O Dr. Heriberto percorreu lentamente o espaço no meio das filas de berços, passando por bebés que dormiam profundamente e outros que choravam, como se quisessem demonstrar que tinham pulmões. Parou quando chegou ao berço duplo em que deixara os gémeos algumas horas antes. Alessandro dormia tranquilamente enquanto o seu irmão permanecia imóvel. Ergueu o olhar e verificou o nome na cabeceira do berço seguinte, Evans, Rodrigo. Esse bebé também dormia profundamente, e a sua respiração era bastante regular.

- Claro que eu não podia retirar o bebé até o médico que tinha feito o parto...

- Não precisa de me recordar as normas do hospital - disse o Dr.Heriberto bruscamente, um tom que era pouco habitual nele. - A que horas entrou ao serviço?

- Pouco depois da meia-noite - respondeu ela.

- E tem estado sempre aqui, desde essa altura?

- Tenho, sim.

- Alguém entrou no berçário durante esse tempo?

- Não, senhor doutor - respondeu a enfermeira. Ela decidiu não referir, pelo menos enquanto ele estivesse tão maldisposto, que, cerca de uma hora antes, julgara ouvir uma porta a fechar-se. O Dr. Heriberto olhou para os dois berços dos Levy, Alessandro e Miguel Levy. Ele sabia qual era o seu dever.

- Levem a criança para a morgue - disse em voz baixa. - Eu farei um relatório imediatamente, mas só informarei a mãe de manhã. Não serve de nada acordá-la a esta hora.

- Sim, senhor doutor - respondeu a enfermeira humildemente.

O Dr. Heriberto saiu do berçário, percorreu lentamente o corredor e parou à porta do quarto da senhora Levy. Abriu-a silenciosamente, aliviado por ver que a sua paciente dormia profundamente. Depois de ter subido as escadas para o sexto andar, fez o mesmo exercício quando chegou ao quarto da senhora Evans. Rosário também estava a dormir. Ele viu a menina Sofia sentada meio torta na cadeira, e poderia ter jurado que ela abrira os olhos, mas decidiu não a incomodar. Fechou a porta, dirigiu-se para o fundo do corredor e saiu pelas escadas de emergência que iam dar ao parque de estacionamento. Não queria que os que estavam de serviço na receção o vissem sair. Ele precisava de algum tempo para pensar.

Apaixonada pelo meu cunhadoOnde histórias criam vida. Descubra agora