Sorvete, cigarro, isqueiro e chiclete

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TIC TAC

O relógio repetia, a garota de cabeça para baixo encarava os ponteiros, ela parcia focada. Suas sobrancelhas estavam cerradas, assim como seu queixo, e sua testa estava levemente enrugada.

Emy ficará lá a tarde toda e o começo da noite, desde que seu celular quebrou e seus livros ainda estavam na casa de seu pai, era tudo que restava para ela fazer. Pensou até na possibilidade de adotar um peixe para se distrair, mas aí lembrou que teria que limpar o aquário.

O som de passos faz a garota desviar a atenção para a escada, sua mãe, Teresa, estava deslumbrante. Seu cabelo castanho claro caia como uma cascata em seus ombros, seus olhos verdes estavam destacados pela sombra dourada, seus lábios grandes tinham uma coloração bege e seu vestido, nossa seu vestido era lindo.

Era do estilo sereia e prateado, tinha um abertura na perna esquerda e havia pedrinhas que reluziam na luz por todo vestido. No pé ela usava uma bota preta e tinha uma bolsa no seu ombro direito, ela parou na frente de Emy e deu uma volta.

- Que tal? - A mulher perguntou com um sorriso arqueado as sobrancelhas.

- Está parecendo a Kylie Jenner, só que mais bonita. - A garota respondeu se movendo.

- Acho que sou mais a Kim.

- E eu a Kendall.

Teresa solta uma risada e puxa da bolsa uma nota de 50 reais, estende para Emy que pega o dinheiro e olha sua mãe esperando uma explicação.

- Vou sair com a Penélope, estamos trocando mensagens há um tempo e ela finalmente tomou iniciativa.

- Preferia a Morgan. - Emy solta baixo e tóxica fazendo sua mãe lê lançar um olhar repreendedor. - Não tá mais aqui quem falou. - A garota diz levantando os braços em rendição e da um pulo do sofá.

Acompanha Teresa até a porta, sente ela dando um beijo em sua testa e fala algumas palavras que foram completamente ignoradas por sua mente. Quando a porta se fecha, Emy vai até a janela e espia.

Penélope era bonita, tinha a pele bem branquinha e cabelos ruivos espetaculares. Seus olhos eram grandes e destacavam, eles eram de um mel encantador.

Quando o carro vai embora Emy se afasta da janela, olha o ambiente a sua volta e solta um suspiro. Vai na direção da escada e entra direto no seu quarto, se joga na cama e encara o teto branco.

Os últimos meses tinham sido incomuns, sua mãe se assumiu lésbica e admitiu ter transado com sua melhor amiga, Morgan. Emy descobriu a traição de seu pai, em uma tarde foi no escritório e não esperava pegar seu pai dando um boquete na assinante loira que tinha idade de ser sua filha.

Ela preferiu chamar isso de incomun, de fato foi algo incomun. Depois de 1 mês de brigas constantes e traições, seus pais finalmente se separaram. Foi surpreendente simples, sua mãe quis sua guarda e seu pai a guarda do cachorro.

A garota solta um suspiro e levanta da cama, tira a blusa do pijama, veste um top e pega um casaco. Coloca o chinelo, máscara, fone e dinheiro. Não se importa em trocar a calça do pijama, pega as chaves e saí.

A rua estava silenciosa e um ar gélido soprava, no seu fone começou a tocar deftones, sua banda favorita. Seus passos eram largos e ela mantia a cabeça baixa, depois de uns minutos chega na lojinha que tinha ali perto.

Quando passa pela porta dubla um sino toca fazendo a garota do balcão levantar a cabeça, Emy já havia visto antes, mas nunca chegou a falar com ela.

Dando uma olhada rápida dava para perceber que estava vazio, tinha apenas um garoto e um velho. Emy caminha até a sessão de sorvete e pega o seu preferido, baunilha com Morango.

Vai até o caixa e encara a garota, ela tinha cabelos curtos e cacheados, sua pele tinha sardas e o alargador em sua orelha se destacava. Emy pega um masso de cigarro, isqueiro e um chiclete. Ela já tinha ido ali duas vezes, e sempre comprava a mesma coisa, sorvete, chiclete, cigarro e isqueiro.

- 30 reais. - A garota diz e entrega as coisas em uma sacola verde, Emy estende a nota de 50 reias mas por algum motivo a menina não pega.

Ela apenas ficou parada, seus olhos pretos encaravam Emy pelo que pareceu uma internidade. Ela só caiu na realidade quando sentiu algo gélido pressionado contra sua cabeça, ela não precisou virar para saber que era uma arma.

Emy não conseguia racionar, ela tinha noção do que estava acontecendo mas não sabia como reagir a isso. Sabia que o mais inteligente era obedecer o assaltante e dar tudo que tinha, mas como ela era uma vadia estúpida que tinha medo da morte não fez isso.

Ela tentou pegar o isqueiro na sacola, viu a garota do balcão a encarando com os olhos arregalados e naquele momento ela soube que aquilo foi a melhor ou pior ideia de toda sua vida. Ela tinha dúvidas, não queria viver, mas também não queria morrer, pelos menos não daquele jeito.

O assaltante se assustou quando percebeu que Emy segurava algo e por puro instinto apertou o gatilho, os miolos de Emy voaram para todo lado. Seu corpo caiu no chão e a garota do balcão gritou quando o sangue caiu em seu rosto, o assaltante fugiu e nas noites que se passaram todos só sabiam falar da trágica história e de como a vida da jovem de 14 anos foi tirada de forma injusta.

~ Espero que tenham gostado💖🍥

Die - Haruno Sakura Onde histórias criam vida. Descubra agora