Parte Única - A Bailarina

410 54 14
                                    


YAMAN

Eu nunca deveria ter concordado com isto.
Só quero voltar para casa, deitar na minha cama e dormir.
Não gosto de sair a noite, não gosto de estar no meio de tantas pessoas e, principalmente, não gosto de ballet, mas quando Isabelle insistiu que eu a acompanhasse, acabei cedendo. Ela é uma boa amiga, francesa, que as vezes vem a trabalho para a Turquia.
Uma mulher deslumbrante, nós já tivemos alguns encontros românticos, mas somos diferentes demais e nos tornamos amigos.

Dezembro na Turquia é um período festivo. Apesar de não comemorarmos Natal, acho que entramos no clima do resto da Europa.
Isabelle me arrastou para ver o Ballet Quebra-Nozes hoje, como combina com a época. Disse que uma amiga dela estava no Ballet e que precisava de mim para acompanhá-la.

- Você está magnifico, Yaman.

Ela me diz quando chego ao hotel para buscá-la.

- Você também, Isabelle. Como vai?
- Agora melhor, querido.

Abro a porta do carro para que ela entre. Seu casaco se abre quando se abaixa, revelando um vestido vermelho com uma fenda profunda. A vantagem de se sair com uma modelo francesa é esta, há beleza por todo lado que olha.

- Tomamos um drink antes? - ela diz
- Não da tempo.
- Yaman, querido, você já foi mais divertido.
- Divertido eu?
- Tem razão... realmente divertido não é a palavra pra você. Você é um homem intenso.
- Eu só estou com alguns problemas no trabalho.

Ela pega minha mão direita do volante, deposita um beijo rápido nela e a olha por um tempo.

- Tenho saudades destas mãos grandes.

Eu apenas sou uma risada sem graça.
Sim, ela é linda e minhas mãos conhecem bem seu corpo, mas apesar da atração que sinto, não tenho vontade de estar com ela intimamente de novo. Isto complicaria muito as coisas. Acho que no fundo ela também não tem vontade de estar comigo deste jeito, só falou aquilo para me provocar.

No teatro, nos dirigimos para nossos acentos, no balcão bem na frente.
As pessoas nos olham, cochicham, os homens a admiram e eu....bem, em Istambul eu sou muito conhecido.
Yaman Kirimli é um nome temido tanto quanto admirado.
Uma boa parte das pessoas acha que sou um
mafioso, outros acham que sou um ricaço recluso, as mulheres me veem como um solteiro cobiçado, ninguém realmente me conhece.
É difícil uma pessoa enxergar o que está por trás da máscara de alguém. Desde muito cedo eu precisei fazer as pessoa me temerem. Desde cedo vesti esta máscara de homem
implacável, duro, temido.
Eu preciso que as pessoas me vejam assim ou seria muito difícil conseguir lidar com meus inimigos.

Quando as luzes se apagam Isabelle se debruça no parapeito do balcão. Eu me recosto na cadeira. Já que tinha sido arrastado para lá, ao menos tentaria aproveitar o espetáculo.
As cortinas se abrem, uma bailarina solitária está bem no meio do palco. A música começa e ela se vira para mim. Nossos olhares se encontram e eu perco o ar. Quando ela começa a dançar, eu entro em uma espécie de transe. Fico hipnotizado por seus movimentos, por sua leveza e energia.
Estamos muito perto do palco, então posso vê-la em detalhes. Posso ver seu corpo esguio, as pernas bem torneadas, os braços delicados. Ela dança como se aquilo tudo fosse fácil demais, como se estivesse realmente se divertindo.
Eu me pego fazendo a mesma coisa que Isabelle, me debruço no balcão.
Estou totalmente rendido pela bailarina.
Outros bailarinos entram e saem do palco, mas eu só tinha olhos para ela.
Nem percebi que tinham se passado 2 horas. Para mim foi pouco. Eu poderia ter ficado ali assistindo ela dançar por mais 2 horas.
Quando os bailarinos foram para frente do palco agradecer todos se levantam para aplaudir. Eu também.
A bailarina se curva para frente, depois se vira para mim e se curva na minha direção, quando se levanta nossos olhares se encontram de novo.
Ela me olha fixamente. Ficamos ali presos um no outro como se o mundo ao redor não existisse, até seu parceiro a puxar para fora do palco.

A bailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora