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Os olhos castanhos fitaram Jennie por longos minutos, vendo que a menor sequer se movia. Chaeyoung decidiu se aproximar dela, se deitando sobre a cama, ao seu lado, antes de tentar a comunicação.

— Hey... — A voz rouca soou docemente atrás de Jennie e um braço circulando sua cintura. — Não fique chateada comigo. — Chaeyoung pediu e Jennie torceu a boca, se virando para ela lentamente.

— Não estou. — Ela disse, fitando as orbes castanhas.

— Então por que ficou assim? — Chaeyoung indagou e Jennie a abraçou, se encostando mais em seu corpo.

— É que havíamos compartilhado algo... nosso. — Jennie disse envergonhada. — E eu me senti tão bem, mas aí a realidade dos segredos e mistérios bateu em minha porta cedo demais. — Confessou e Chaeyoung assentiu, decidida a ceder mais um pouco.

— Se eu te contar a segunda vez que nossas vidas se cruzaram eu ainda poderei dormir abraçadinha com você? — Chaeyoung perguntou e os olhos curiosos de Jennie encontraram os seus.

— Sim. — Ela respondeu, se aconchegando nos braços de Chaeyoung antes de sentir a maior puxar o cobertor para cobri-las. Desta vez precisarei ir mais a fundo em alguns detalhes.

— Quanto mais fundo melhor. — Jennie disse, ouvindo Chaeyoung rir alto ao ouvir aquilo, só então caiu em percepção do que havia dito. — Hey, eu não disse com malícia! — Falou rindo e Chaeyoung assentiu.

— Certo, desculpe. — Ela disse iniciando uma carícia leve e mansa no braço de Jennie. — Dessa vez tudo começou em um funeral. — Chaeyoung disse, fazendo Jennie erguer o rosto para ela com preocupação.

— Já não sei se quero ouvir. — Jennie disse e Chaeyoung depositou um beijo na ponta de seu nariz.

— Então eu não falo. — Chaeyoung disse e Jennie negou rapidamente.

— Não, por favor... — Ela insistiu e Chaeyoung riu, assentindo.

— Bem, eu tinha uns dezessete anos e ainda precisava muito, muito, muito mesmo de dinheiro... Um dia vi na televisão que um empresário muito conhecido e importante havia falecido... — Chaeyoung começou. — Eu sequer me importei em gravar o nome dele, o que havia chamado a minha atenção era o local do enterro. Era perto de onde eu estava e era aberto ao público.

— O enterro do meu pai foi assim. — Jennie cortou e Chaeyoung a fitou, levando uma mão até seu rosto para acariciar a região.

—Naquele dia eu decidi investir todo o dinheiro que eu tinha em flores. — Chaeyoung confessou. — Comprei de todos os tipos e passei horas fazendo arranjos e buquês. Peguei todas as flores e as embrulhei em um enorme tapete, com cuidado para não danificá-las e, uh, as levei para o enterro do homem para vendê-las. — Disse, analisando a ruga que se formava no rosto de Jennie. — Chegando lá eu te vi. — Jennie paralisou, ligando os pontos.

— Era... você estava... você... — Jennie estava atônita e Chaeyoung apenas a abraçou mais forte, fitando-a.

— Sim, era o enterro do seu pai. — Informou e Jennie sentiu seu corpo fraquejar e uma antiga dor se reacender em seu peito. — Você me salvou aquele dia também.

— Como? — A voz vacilante perguntou curiosa. — Eu mal podia me salvar.

— Eu te vi lá, sozinha, sentada no gramado, mais afastada de todos, chorando. Tão frágil... — Chaeyoung disse em um suspiro. — Você estava com o corpo mais desenvolvido desde a última vez que havia te visto, tão linda como sempre, só que chorava incessantemente. Eu já disse... Ver você chorar me quebra.

— Você foi falar comigo? — Jennie perguntou e Chaeyoung assentiu. — Mas eu não lembro. — A maior riu baixinho ao ouvir aquilo.

— É porque nunca cheguei até você. — Falou. — Não diretamente.

— Covarde. — Jennie brincou e Chaeyoung riu, selando-lhe os lábios com os seus.

— Eu posso me defender? — Chaeyoung indagou contra os lábios da menor e Jennie sorriu, assentindo. — Bem, eu peguei o ramo de flores mais bonito que havia entre os meus e deixei as outras flores lá, unicamente para me aproximar de você, mas antes eu escrevi um bilhete. Eu queria agradecer sabe? Me sentia em débito, porém também queria te consolar... — Ela disse.

— Eu não acredito... — Jennie proferiu boquiabierta.

— Deixei as flores ao seu lado junto com meu bilhete e estava pronta para me sentar ao seu lado e te tomar em meus braços ainda que você não quisesse. — Falou veemente. — Céus, você sequer havia me visto, estava chorando tanto... — Chaeyoung umedeceu seus lábios antes de continuar. — Mas aí o grito de um dos seguranças do local chamou a minha atenção. Quando olhei ele queria jogar fora minhas flores. Eu... precisei ir, sabe? Era todo o meu dinheiro ali. — Confessou tristemente.

— Foi você... — Jennie disse surpresa e Chaeyoung projetou um meio sorriso.

— Você gostou das flores?

— Amei, mas o bilhete... — Jennie disse sorrindo bobamente.

— Fico feliz. — Chaeyoung disse sorrindo junto. — Bem, o segurança queria jogar tudo fora e me expulsar dali, dizendo que eu não tinha licença e eu tive que me humilhar implorando para ele, por favor, não me expulsar. Ficamos longos minutos debatendo, mas aí você chegou perguntando o que estava acontecendo ali. — Chaeyoung disse rindo nostálgica. — Novamente mostrando o quão destemida e incrível você era. — Disse sorrindo, deslizando a vértice de seu nariz ao longo do rosto de Jennie, fazendo a menor ter suas batidas cardíacas irregulares.

— Não acredito que estive do seu lado... — Jennie disse ainda incrédula.

— Ele te disse que eu não tinha autorização e você o disse para calar a boca antes que fosse despedido, que seu pai havia falecido enquanto ele pensava naquela estupidez e então ele se calou e me deixou ficar. Vendi todas as flores aquele dia.

— Não lembro do seu rosto... — Jennie disse e Chaeyoung sorriu.

— Não poderia lembrar mesmo...
— Chaeyoung, mas você disse que você me conheceu só por nome dessa vez, não por rosto.

— Não foi dessa vez que te conheci por nome... Dessa vez ainda não sabia que você era Jennie Kim, mas já descobri que tinha dinheiro por ser filha do empresário que havia partido.

— Oh...

— Mais uma vez você foi um rosto sem nome para mim, porém salvou novamente a minha pele. Eu realmente precisava daquele dinheiro.

— Eu ainda guardo o seu bilhete até hoje... Ele significou muito para mim, mesmo nunca sabendo quem havia me dado.

— Ainda lembra o que dizia? — Chaeyoung indagou e Jennie sorriu.

— Como esquecer? — Perguntou nostálgica. — Ele foi a razão para eu conseguir continuar.

— Jura? — Chaeyoung perguntou incrédula.

— U-hum. — Ela disse assentindo e logo afundou o rosto do pescoço de Chaeyoung. — Não deveria ter me dito que foi você a dona daquele bilhete.

— Por quê? — Chaeyoung indagou e Jennie mordeu o lábio inferior.

— Porque faz eu ficar ainda mais... — Não, não deveria dizer. E se Chaeyoung desse o famoso surto de proteção e decidisse se afastar dela para protegê-la? Não queria ficar longe dela.

— Mais o quê? — Chaeyoung indagou e a menor suspirou, negando com a cabeça.

— Ainda mais grata. — Falou, decidida a jamais dizer em voz alta o quão apaixonada por Chaeyoung ela ficava a cada dia que passava.

Presa Por Acaso || ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora