O reizinho foi pra rua
Para ver as carruagens
Ficava dando tchauzinho
Para os carros de passagem
E um grande coletiva
Estava nessa vadiagemPassou tanta diligência
Riquixá, carro de mão
Cabriolé e carroça
Numa e noutra direção
E o reizinho na estrada
Sorrindo e dando com a mãoViu de longe a prezepada
Uma valente Maria
E ficou indignada
Com aquilo que assistia
"Como pode um governante
vagabundear de dia?"Dona Maria de raiva
Encheu de ar o pulmão
Quando seu carro passou
Gritou qualquer palavrão
Que o reizinho atordoado
Ficou de queixo no chãoTodo mundo que conhece
do reizinho só metade
Sabe o quanto ele é frouxo
E não tem capacidade
De falar cinco minutos
Com quem fale a verdadeE Dona Maria soube
Com verdade lhe ofender
Chega ele deu o gôto
Faltou pouco não descer
Deu um grito estridente
Para a ela alguém prenderVeio então cavalaria
Que não acabava mais
Uma verdadeira tropa
Ordenada a ir atrás
Pra levar a criminosa
Às vias judiciaisA Maria ia fugindo
Sem nem saber que fugia
Quando viu tava cercada
Por toda cavalaria
Na maior operação
Já montada até tal diaSó pra você ter noção
Deixe aqui eu comparar
Um minério ilegal
Ocorreu noutro lugar
Nem um cabo e um soldado
O reizinho mandou láTeve incêndio na floresta
E chacina na favela
O reizinho fez a egípcia
Com a cara mais amarela
E sua cavalaria
Ficou só mamando o delaPois puseram em correntes
Um grilhão em cada mão
Conduziram à cadeia
Com zero organização
A terrível criminosa
Que falou um palavrãoNa presença do juiz
Ela foi ajoelhada
E gritou-lhe o promotor
"Deixem ela acorrentada
Pois quem grita com o rei
Não tem medo de mais nada"O juiz daquela corte
Com total indiferença
Leu os autos do processo
E já tinha até sentença
Disse: "Tirem-na a mordaça!
Quero ouvir o que ela pensa""Agora Dona Maria
me responda com clareza
D'onde veio tua coragem
De insultar a realeza
Por que mais, por muito menos,
Sofreram maior rudeza""Não sei se um magistrado
pode ter compreensão.
Do alto do mezanino
o martelo em vossa mão
cai pesado ou pousa leve
se é proleta ou se é barão"Mas se é pra falar eu falo
conto cada pormenor.
A minha situação
nem de longe é a pior.
Meu salário é muito pouco
E é dos males o menor."Não chega a ter um mês
que comprei manteiga e pão,
com uma bolsa de moedas
se fazia uma refeição.
Hoje um pão é mais moedas
do que cabe em uma mão."Seu juiz, sabe da lenha
que se usa pra cozer?
Todo mês sobre de preço.
Não sei mais o que fazer:
Se não compro como cru,
se comprar falta o comer."Também sempre sobra o preço
o maldito do carvão
que aquece a minha casa
serve de iluminação.
Tô vivendo no escuro,
e o frio maior do cão."Sem falar do aluguel
que eu já tô vendo o dia
de me botarem pra fora.
Por mode esta caristia
tenho sempre um mês dentro.
N'era isso que eu queria."Sabe o milho e a soja
que é usado de ração?
Tá valendo feito ouro!
Preço de exportação!
São os grãos do combustível
que tracionam a nação..."... usam o mesmo combustível
nosso pangaré simplório
e o vosso quarto de milha,
mas o preço predatório
para nós é baque grande
para vós é irrisório.
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Cordéis
HumorEspaço dedicado a publicar as minhas poesias de estilo 'Cordel', sejam sextilhas, martelos agalopados e outras do gênero que eu sinta que consegui fazer algo minimamente digno. Os temas, inicialmente, são sobre política e ficção. Talvez eu venha a p...