Foi de longe que avistei
A maior das presepadas
Era pleno meio dia
Estavam no mei da estrada
Um jumento e um presidente
E eu lá sem entender nadaEu soubera pelo ZAP
Que o milico ia chegar
Só não esperava eu
Cara a cara o encontrar
Pois se eu sei do rumo dele
Sete légua eu dou de láMas já que estava ali
Eu não tinha o que fazer
Pelo jeito que ele ia
Se não eu pra o socorrer
Do jeitim que diz Mourão
Ele ia 'desaparecer'A figura era um traste
Parecia um cururu
Bucho de égua parida
E papada de peru
A catinga era tão forte
Que juntou dez urubusDe calça frouxa e chinelo
E uma faixa atravessada
Tão imunda aquela faixa
Nunca que ela foi lavada
Suja de frango e farofa
Toda ela lambuzadaBuzinei. Gritei "bom dia
"Tu és mesmo o presidente?"
Ele olhou e me assustei
Quando arreganhou os dentes
Me peguei orando a Deus
"Maria passa na frente"Quando me livrei do susto
De ter visto tal sorriso
Perguntei ao presidente
Sem fazer nenhum juízo
"Aonde vais com esse jumento?"
A resposta aqui repriso"No tocante a essa cuestão
Vou falar disso daí
O jumento aqui é ele
Eu me chamo de Jair
Sou de tudo o presidente
Mando em tudo isso daqui"Se não faz sentido escrito
Perdoai-me, oh leitor!
Mas foi tal qual ele disse
Sem tirar um "A" nem por
E o pior que a loucura
Nem ao menos começou"No tocante a essa cuestão
Eu estava trabalhando
Fazendo uma jegueada
Com a paraibada olhando
E um montão de pau-de-arara
Vinha me acompanhando"No tocante isso daí
Tálquei?, Essa cuestão
Eu me perdi do comboio
Fiquei na situação
Esse jegue é tão baiano
Que não sabe a direção"Ele ria (Relinchava)
E o jumento me encarou
Com a cara ultrajada
Por aquilo que escutou
Eu que sou bom potiguar
Também tudo me insultouEnquanto Jair rinchava
Uma carona o ofereci
Veio ele à boleia
Com um gesto o impedi
Pra caçamba mandei ele
Paz maior eu não sentiEu falei que o problema
Era a fiscalização
"Nessa estrada não se pode
Dar carona em caminhão"
Safo no mundo do crime
Não me fez objeçãoDei sequência à viagem
Com a carga diferente
Escondido em minha lona
Um jumento, um presidente
Eu só não fazia ideia
Do que vinha pela frenteEu ouvi um cochichado
Pensei que tava endoidando
Do fundo do caminhão
Alguém tava conversando
Era tão articulado
Que eu fiquei só escutando"O governo do Brasil
Não se faz com divisão
Pois são 200 milhões
O que compõe essa nação
O governo, não no acaso
É chamado de União"O papel do executivo
O cargo que ocupais
É ser o representante
Das riquezas nacionais
E não ser um arengueiro
De desavenças banais"Olhe só por um exemplo
Veja esse teu linguajar
Um vocabulário tosco
Para não dizer vulgar
O mais débil argumento
Tu não sabes expressar"Ajeitei o retrovisor
Pois não tava acreditando
Que aquela conversa toda
Foi o jumento falando
E a conversa se seguiu
Com Jair só escutando"Tu se achas poderoso
Pois escute o meu conselho
Tripartite é o formato
Que define nosso governo
Assim cada autoridade
Tem um freio e um contrapeso
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Cordéis
HumorEspaço dedicado a publicar as minhas poesias de estilo 'Cordel', sejam sextilhas, martelos agalopados e outras do gênero que eu sinta que consegui fazer algo minimamente digno. Os temas, inicialmente, são sobre política e ficção. Talvez eu venha a p...