Aquele terno era desconfortável pra’ caramba. Mal tinha o ajustado no corpo e já desejava tirar, mas não podia chegar na empresa com as roupas que estava acostumado a usar, afinal, este era o seu primeiro emprego sério após dois longos anos apenas ajudando seu pai de longe com o pequeno negócio da família. Havia concluído seu último ano na escola e aos dezenove ingressou na faculdade de Administração.
Já haviam se passado dois anos desde então. Agora, o homem procurava sua bolsa, apressado pelo apartamento onde morava sozinho, revirando por todos os lados o local que havia arrumado na noite passada.
“Não adiantou de nada”, pensou consigo mesmo puxando a bolsa que estava enterrada entre os vãos no sofá da sala. Se permitiu arrumar o cabelo uma última vez e dar tchau para si mesmo no espelho, desesperadamente trancando a porta e jogando a chave de qualquer maneira em sua bolsa. Vinte e um anos fisicamente, dois anos mentalmente.
Não conhecia quase nada sobre a empresa, além do ramo que eles estavam e algumas poucas coisas que leu em um livro que lhe foi entregue. Estava caindo de sono, poxa, não ia ficar lendo cada pequena regra daquele lugar, com o tempo aprendia. Longe dele se gabar de alguma coisa, mas Nanon aprendia as coisas rapidamente, isso estava até em seu currículo, e se foi contratado, provavelmente foi porque acreditaram no seu potencial para assumir o cargo.
Correndo no meio da rua às sete horas da manhã de uma fatídica segunda-feira, aquele cenário parecia um filme clichê. Gostaria de esbarrar em um príncipe encantado disfarçado de mero nobre que o levaria ao palácio depois de ser hipnotizado pelos seus lindos olhos amendoados e pequenos, mas estamos na realidade, onde a única coisa que lhe resta é correr com vários papéis na mão diretamente para seu carro, os jogando no banco de trás desajeitadamente ao mesmo tempo que pisava no acelerador, saindo do estacionamento do residencial.
Durante o caminho avistou várias crianças indo para a escola, o que lhe fez sentir saudades daquela época. Alguns casais rindo histericamente na cafeteria onde ele sempre comprava um mocha para passar o restante do dia sem pirar. Não era o tipo de pessoa viciada em cafeína, era viciado em açúcar, até demais. Era impossível para ele começar o dia sem uma dose pesada de glicose atingindo seu sangue, aquilo lhe dava energia.
Chegou no enorme prédio da empresa e estacionou o carro uma rua antes, para caminhar tomando seu café sem preocupações. Um café do jeito que ele gostava, duas doses de chocolate com açúcar extra e leite espumado adocicado. Se sentia no céu quando aquele líquido se espalhava por suas papilas gustativas e descia pela garganta, quase como um antidepressivo.
As portas automáticas abriram assim que Nanon se aproximou delas, este que saiu dando bom dia para todos que passavam perto, até encontrar a sua mentora do dia. Havia sido orientado para procurá-la na recepção do primeiro andar, então pegou o primeiro elevador vazio que viu no saguão de entrada, pressionando o botão repetidas vezes para que fechasse logo. Queria checar sua aparência naqueles espelhos limpíssimos sem ser julgado.
Tudo estava aparentemente no lugar e, por sorte, ele também não se sentia deslocado. Parecia bom demais estar ali. Lugar certo, hora certa. Essas coisas de universo conspirando ao seu favor que Nanon acreditava fielmente. Em seu quarto, cristais, fora o apartamento que estava sempre rodeado de incensos de morango e eucalipto uma vez por semana para uma limpeza espiritual profunda.
Quando o elevador chegou ao destino, Nanon suspirou profundamente duas vezes e saiu andando com a postura mais confiante e séria que conseguiu naquele instante, sentindo que estava no seu momento de protagonista. Só na sua cabeça mesmo, pois, ninguém conhecia ele ali ainda e muito menos sua presença era notada.
Talvez ele tenha pensado nisso cedo demais.
— Essa papelada você entrega no RH, depois passa na minha sala que vou te… — Esbarrou em alguém, de fato. Sua sorte foi que o café já havia acabado alguns minutos antes, pois, só pelo tom de fala daquela mulher, sabia que ela devia ser importante ali dentro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Dois Lados da Moeda - OhmNanon
FanficOhm Pawat e Nanon Korapat: A dupla de melhores amigos que se tornaram arqui-inimigos de um dia para o outro. Ninguém nunca entendeu de fato o que havia acontecido naquela época. De repente, eles não se falavam mais, não era o mesmo de antes. Brigas...