Ela Vence

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— O Wizengamot inteiro é composto de bruxos tradicionais, Granger! Não há como você aprovar a extinção da servidão dos elfos domésticos de primeira. Vai exigir tempo.

— Ah, você acha? Você quer apostar nisso?

— Depende. Apenas se você estiver colocando sua boca em jogo, bruxa.

— Fechado, Snape.

oOoOoOoO

Na história de todas as más decisões dele, esta com certeza é uma delas, juntando-se as de anos atrás: deixar Voldemort dar a ele uma tatuagem horrenda que o fez ser um fantoche por vinte anos e enfrentar duas guerras (sempre jogando do lado errado; mesmo que sendo um espião), ou aquela vez que disse à melhor amiga - em um acesso de frustração e vergonha pela humilhação - que ela era uma sangue-ruim (o rompimento da amizade de infância o fez derramar lágrimas e foi sofrimento demais para ser experimentado mais de uma vez).

É porque você não estava pensando. Severus aponta para seu próprio reflexo no espelho do elevador. — Você não estava pensando, porra!

Ele perdeu a aposta. E segundo os termos do acordo deles, esse é o preço que tem que pagar. Arrastando os pés para o seu destino, desejando ter tomado mais algumas doses de firewhisky antes de enfrentar as consequências de suas ações, ele pensa em épocas anteriores e muito mais simples em que as apostas eram pagas com cerveja amanteigada ou shots de uma pesada cachaça trouxa, não com sexo oral.

A porta se abre antes que ele consiga bater nela, expondo a Ministra da Magia com uma camiseta preta apertada e jeans escuro. É um visual simples dado o prestígio dessa bruxa no mundo mágico, e ainda assim Severus não pode deixar de apreciar a maneira como o traje básico envolve seu corpo.

— As alas me avisaram que era você chegando. Privilégio de ser a mulher mais importante da Grã Bretanha mágica. — Ela dá um sorriso irônico. — Eu não achei que você ia mesmo aparecer.

— Sou um homem de palavra. — Ele responde, enquanto entra no apartamento dela.

Dizem que a casa de alguém é uma extensão de si mesmo, mas Severus acha difícil acreditar que esse espaço decorado completamente ao estilo trouxa e com cada uma das fotos impressas, sendo estáticas, seja um reflexo da bruxa que ocupa o maior cargo do mundo mágico.

— Não é tarde demais para recuar, Snape.

Como um covarde faria. Ele quase pôde ouvir o resto da frase dela ecoando no ar.

— Cale a boca, Ministra. Vamos acabar logo com isso. — O ar irônico no rosto dela quase o fez ranger os dentes. — Sente-se e tire a porra da calcinha.

— É assim você usa a boca para falar com sua ex-aluna mais ilustre, Severus?

Ela o chama pelo primeiro nome de propósito, jogando na cara dele que pode chamá-lo do que quiser. Ele imagina que é porque ela acha que isso o irrita, porque normalmente ele odeia que pessoas se aproximem tanto ao ponto de chamá-lo assim. Mas nada sobre o relacionamento deles é normal.

Ele nunca conheceu ninguém como ela. Hermione Granger diz o que quer dizer e dá significado ao que diz, ela sabe absolutamente tudo sobre qualquer assunto. A mesma insuportável sabe-tudo de sempre. E o ar altivo que imprime em cada palavra muitas vezes faz com que ela pareça egocêntrica ou rude. Mas o que os outros consideram como altivez, Severus vê como uma fome constante de conhecimento somada a uma honestidade contundente. E em um mundo onde ele está cercado por uma quantidade imoral de comentários passivo-agressivos e expectativas ocultas quanto ao primeiro erro sórdido que um ex comensal da morte vai cometer, é muito refrescante estar perto de alguém como ela.

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