What If - Parte 1

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- Sinto muito, nós não conseguimos salvá-lo.
Essas foram as últimas palavras que Ken Ryuguji se lembra de ter escutado, até tudo se transformar em um turbilhão.

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- AHHHHHH - Coloquei a mão no peito e percebi que eu tinha gritado, eu não entendia porque, mas tudo estava muito confuso. Eu lembrava da Emma, de sua morte, de estar indo encontrá-la e de me despedir de Takemichi. Também lembro do que eu fiz. Mas como posso estar aqui? Onde estou?
Olhei pras minhas mãos, tinha algo de diferente nelas, eu só não sabia o que. Eu estava no meio de Shibuya, exatamente no lugar em que tomei os tiros, só que eu estava intacto. Isso não estava certo.
- Moço! Ei, moço!! Cuidado com o meio da rua.
Escutei uma voz chamando, não sabia se era comigo, mas me virei, franzindo as sobrancelhas.
- Eu posso te ajudar? - perguntei educadamente
- Eu estava passando e de longe vi você deitado no asfalto, pensei que tinha acontecido alguma coisa e vim correndo, até que você se levantou - a menina respirava ofegante. - Presta atenção, as ruas ultimamente estão muito violentas por aqui.
A menina era uma cabeça mais baixa que eu, eu tinha que fazer um esforço para olhar pro seu rosto. Loira, olhos castanhos, roupas pretas e até agora não tinha me encarado diretamente, parecia mais preocupada em recuperar o fôlego, colocava o peso do corpo meio agachada, o que a deixava mais baixa.
Eu estava tentando entender a situação toda e como voltei pra esse lugar. Eu tinha certeza de que tinha morrido e não é a melhor das sensações, ainda vívidas dentro de mim. Será que tudo foi um sonho? Onde estão os outros?
Me dei conta de que tinha ficado em silêncio mais tempo do que a educação permitia, enquanto meus pensamentos corriam soltos e a menina aparentemente já estava com a respiração regulada.
Decidi falar algo genérico.
- Obrigado pelo aviso, eu... eu... acabei me sentindo um pouco mal. É. Foi isso.
Torci pra ela não notar a inverdade na minha voz, até que ela ajeitou a postura e me encarou diretamente, no que ela empalideceu na hora, como se tivesse visto um fantasma.
- DRAKEN?
Percebi que suas mãos tremiam.
- Como você me conhece? - estranhei, eu não tinha ninguém além da Toman e o pessoal da casa de massagem.
- Eu... Eu.. Você... - ela gesticulava nervosamente. - CARALHO, eu devo estar ficando maluca, isso tudo é um sonho, bem que meus amigos me dizem para deixar de ser obcecada, agora estou tendo ilusões realistas.
A menina começou a falar sem parar, e eu tentava entender que porra era aquela.
- É ISSO - deu um grito - Eu devo ser esquizofrênica!!
Sufoquei uma risada, porque isso não era coisa que se dissesse pra um estranho.
- Com licença, o que está acontecendo? - Perguntei confuso. - Você falou meu nome.
A menina me olhou bestificada, era estranho, mas um pouco engraçado de ver.
- Vamos lá, supondo que eu não esteja louca, conversando com o nada no meio da rua, o que é impossível, seria melhor se eu te mostrasse.
- Olha...
- Ana, me chamo Ana.
- Olha, Ana, essa porra tá meio esquisita, eu preciso resolver umas coisas e encontrar um amigo meu. - comecei a traçar um plano, eu iria até o Takemichi, ele viaja no tempo, deve ter umas explicações sobre isso. Isso. Perfeito.
- NÃO - ela gritou de novo - Eu sei que você não me conhece, mas eu preciso te mostrar uma coisa antes de você ir, sei que sou uma desconhecida, mas eu jamais te faria mal. Juro. - levantou as mãos em rendição.
Inédito de se dizer, comparando o meu tamanho com o dela, não é como se eu temesse alguma coisa.
Por que algo me diz pra conferir o que essa garota tem pra me mostrar?
- Tudo bem.

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- Então o que você tá querendo me dizer, ou melhor, tá querendo que eu acredite, é que você me conhece de um mangá.

Mas nem fodendo.
Preciso achar o Takemichi imediatamente.
Não sei que tipo de loucura é essa de eu estar intacto dos tiros, mas isso já é demais.
Sinceramente, eu nem quis ver o que ela tinha pra me mostrar, quando começou a me explicar essa história já vi que era maluquice. Bem que ela disse que era esquizofrênica.

- Eu não quero que você acredite, seu idiota, eu não entendo tanto quanto você, mas é verdade. - disse zangada.

Ela estava de costas, procurando algo dentro de um armário.
- ACHEI!
Ela andou até mim com uma caixa na mão, até que começou a tirar vários exemplares de mangá com o nome "Tokyo Revengers". Vingadores?
- Escuta aqui, eu conheço você tanto quanto você se conhece e você deve tá doido pra procurar o Takemichi. Sim. Eu sei dele. Sei também que você se sacrificou por ele. Tá tudo aqui. - apontou pros exemplares.
- E se não acredita em mim, tenho certeza que outra coisa vai fazer você acreditar. Mas isso é outra história. - deu de ombros - Sabia que não jogar fora esses mangás idiotas foi a decisão certa. - Aquiesceu.
- Toma - estendeu um pra mim - É como os que o Chifuyu lê.
- Você conhece...?? - Eu não sabia o que dizer.
- Sim, conheço o Chifuyu, e o Baji, e... - pareceu um pouco triste ao dizer isso.

Sendo honesto, acho que nunca estive mais perdido na vida, não só com toda essa situação de viagem no tempo, mas eu nunca tive dinheiro pra comprar mangás, então nunca me interessei, mas Chifuyu conversava sobre isso com Baji. Doeu lembrar do meu amigo falecido. E eu queria respostas, precisava dar um jeito de trazer o Mikey de volta também, tudo dependia disso.
Peguei o volume que ela me estendeu e eu estava ali na capa, quero dizer, um desenho meu, vestido de uma forma incomum, como se fosse uma vestimenta de luto. O que é chocante, porque eu estou nesse momento aqui. Estava mais tendencioso de que alguém gostou do meu visual, utilizou pra algum personagem e eu não sabia do sucesso desse negócio, por nunca ter tido a oportunidade de ter contato.
Folheei as páginas, e tudo começou a ficar mais esquisito, porque estava tudo ali. Tudo. Até a minha morte pra proteger Senju e Takemichi.
Ah! A Rokuhara Tandai - os detalhes vinham com mais facilidade. - Eles estavam emboscando o Takemichi. Inui. Inui me contou.
Não podia ser verdade, como minha vida inteira estava em pedaço de papel. O que era aquilo?
- Eu... Eu não sei o que dizer. Puta que pariu, é demais pra mim. Eu deveria estar morto. É isso, eu tô morto. Não sei o que é isso, se é uma espécie de passagem, aquilo que dizem sobre a vida passar diante dos olhos, nesse caso acho que levaram a sério demais. - ri nervosamente - Eu dei a minha vida pra salvar aquele que já me salvou da morte uma vez. Era o meu destino.
Ana olhou pra mim e parecia que um milhão de tristezas refletiam em seus olhos. Ela parecia em dúvida.
- Draken. - falou com cuidado - Não era pra ter sido assim. Eu não sei como posso contar um negócio desses sem parecer patética... Mas.. Há uns anos atrás, eu conheci vocês. Por meio desses mangás, e nossa.. foi tão intenso ler tudo isso - apontou pra caixa. - Eu estava completamente fissurada e apaixonada pela história, pelo valor da amizade, pelos valores que aquilo transmitia e por me fazer feliz, porque vocês, mesmo que não existissem, tinham coisas que eu nunca tive.
Ela fez uma pausa.
- Até que aconteceu isso - apontou pra mim - A sua morte. Nossa. Como aquele autor filho da puta teve a coragem. Foi genial, mas extremamente doloroso, e eu sofri por meses, porque eu me enxergava em você, também sentia a vontade de fazer por você o que você fez por todos. Sei que é um pouco estanho, mas a gente aqui se apega a personagens fictícios. - riu - Caralho, isso sim é surreal, tô conversando com um personagem fictício que de algum jeito veio parar no mundo real. Isso é demais.
Ouvi tudo com atenção e não pude deixar de sentir um pouco de carinho, percebi a sinceridade nas suas palavras, como se ela realmente amasse o meu "eu" daquela história. Da minha história.
- Ana - me levantei - Fico feliz por você admirar alguém como eu. Eu não era ninguém - sorri triste. - Até começar a estruturar minha vida do zero. Ter um trabalho digno. Então... Obrigado por me ajudar, o que é uma coincidência, porque não sei o que diabos aconteceu comigo e nem o que eu vou fazer a partir de agora, principalmente pelo fato de ter encontrado justamente alguém que me conhece. Mas é isso, quero procurar o Takemichi.
- Draken... - ela falou com ela - Não tem Takemichi, acredito que só você esteja aqui. O final da história termina com alguns felizes, incluindo o Mikey, mas quem se foi, não voltou. Baji, Izana, Emma. - me olhou triste - Você. Outros também. E Takemichi decidiu ficar no passado, recomeçar. Não se trata de ser justo ou não, mas de aprender a lidar com as consequências.
Ela fez uma expressão pensativa, franzindo a testa.
- Tem mais que eu poderia contar, mas sei que é muita informação por hora. Aparentemente, eu não sou louca e você veio pro mundo, pra minha realidade.

What If - Ken RyugujiOnde histórias criam vida. Descubra agora